Dr. Joel Beeke
Os Puritanos
escreveram muito sobre como viver uma vida santificada. Pouco do que eles
pregaram e escreveram contêm qualquer coisa única ou estranha, avaliado por sua
herança doutrinal. O que é especial sobre a visão Puritana da santidade é sua
plenitude e equilíbrio, antes do que sua forma distinta.
A
definição Puritana clássica de santificação é bem conhecida; nós a encontramos
no Catecismo Menor de Westminster, questões 35 e 36:
"O que é santificação?" Santificação é a obra da livre graça de Deus, pela qual
somos renovados em todo o nosso ser, segundo a imagem de Deus, habilitados a
morrer cada vez mais para o pecado e a viver para a retidão.
Quais são as bênçãos que
nesta vida acompanham a justificação, a adoção e a santificação, ou delas
procedem? As bênçãos que nesta vida acompanham a justificação, a adoção e a
santificação, ou delas procedem, são:
- certeza
do amor de Deus
- paz
de consciência
- alegria
no Espírito Santo
- aumento
de graça
- perseverança
até o fim".
Destas
duas questões é óbvio que santificação na mente Puritana envolve todo o viver
Cristão - todo o processo de ser conformado à imagem de Jesus Cristo. É um
processo que começa no momento do novo nascimento, e continua durante toda a
vida do crente até o seu último fôlego. Os Puritanos queriam ver as pessoas
crescendo vigorosamente na certeza do amor de Deus, em uma grande paz de
consciência e numa autêntica alegria no Espírito Santo. Eles diziam que o
caminho para receber estas bênçãos é através da obra santificadora do Espírito.
Eles avisavam seu povo: Se você não buscar a santificação, você não somente
desonrará a Deus, mas também empobrecerá sua própria vida espiritual.
O
que realmente eles queriam dizer por santificação? Aqui estão quatro elementos
na visão Puritana.
Renovação universal e moral
Primeiro,
santificação para os Puritanos é uma obra divina de renovação, envolvendo uma
radical mudança de caráter. Ela brota de um coração regenerado, que é algo mais
profundo do que qualquer psicanalista ou conselheiro poderia alcançar. Deus
opera no coração, e como resultado da mudança de coração, vem um novo
caráter.
A
obra de renovação é (usando a linguagem Puritana) universal. Isto significa que
ela toca e afeta cada área da vida inteira da pessoa. Paulo nos conta em 1
Timóteo 4:4-5 que tudo é para ser santificado - cada esfera da vida.
Santidade
é uma coisa interna que deve encher nosso coração, o centro de nosso ser, e ela
é uma coisa externa que deve transbordar sobre cada detalhe de nossas
vidas. 1 Tessalonicenses 5:23 diz, "E o mesmo Deus de paz vos
santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente
conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo".
Muitos puritanos pregaram sobre este texto. Santificação é para ser universal.
Mas
santificação é também moral, diziam os Puritanos. Por isto eles queriam dizer
que ela produz frutos morais, sobre os mesmos frutos nós lemos em Gálatas 5 -
amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, e
temperança. Se você perguntasse a um Puritano - o que realmente estes frutos
significam quando você combina-os todos juntos? - ele diria que eles
representam o perfil moral do próprio Senhor Jesus Cristo.
Isto
é o que o Espírito está fazendo na santificação. Ele está moldando o crente ao
perfil de Cristo. Ele está reproduzindo as qualidades de Cristo nas vidas de
Seu próprio povo. O povo de Deus são aqueles nos quais a "natureza de
Cristo" (a soma total de tudo que Sua vida humana era) encontra nova, embora
imperfeita, expressão. Este é o conceito Puritano de santificação.
Verdadeiro arrependimento
Segundo,
santificação para os Puritanos consistia de arrependimento e retidão - a
bi-lateral atividade de se virar do pecado para a obediência. Arrependimento, diziam
os Puritanos, é voltar do pecado, e isto é uma atividade para toda a vida. Nós
devemos nos arrepender todos os dias de nossas vidas, e à medida que assim
fazemos, devemos também voltar para a retidão.
Arrependimento,
eles diziam, é uma obra de fé. Sem o Espírito Santo não há arrependimento. O
conceito Puritano de arrependimento vai muito mais profundo do que mero
remorso, ou do dizer, "Eu sinto muito". A idéia Puritana de
arrepedimento certamente começa com remorso, mas ela vai mais profundo para uma
mudança essencial de vida. Arrependimento é um voltar real. É um odiar as
coisas que eu amava antes, e um amar as coisas que eu odiava antes.
Arrependimento
envolve mortificação, diziam os Puritanos, e vivificação. Por mortificação eles
queriam dizer colocar a espada sobre o pecado; matando o pecado; colocando o
pecado à morte, como o apóstolo diz em Romanos 6. Por vivificação eles queriam
dizer tornar-se vivo para justiça, e dar a nós mesmos mais e mais para
praticar e exibir o fruto do Espírito.
Uma guerra santa
Terceiro,
a santificação Puritana é progressiva, operando através de conflito. Os
Puritanos diziam que o conflito é inescapável na santificação,
porque resíduos de pecados habitam no Cristão, para sua grande
tristeza. Isto o engaja em uma grande guerra e muitas batalhas. Os pecados
internos operam de dentro, os Puritanos diziam, enquanto o mundo exerce a
pressão ímpia exteriormente. O diabo, que exerce a função de líder, deseja
pegar aquelas pressões externas e usá-las junto com as pressões internas para
recuperar o território perdido. Assim, embora uma pessoa conquistada pelo
Espírito Santo busque expandir e ganhar o território da santificação
universalmente em sua vida, o diabo junto com o mundo e a velha natureza
da pessoa, forma uma linha de frente de batalha na alma. Uma guerra santa está
sendo travada.
Isto
é o porque Bunyan chamou o seu livro de "A Guerra Santa".
Santificação envolve conflito comigo mesmo, com minha carne, com o mundo, e com
Satanás. Se um Cristão não está batalhando contra o pecado, os Puritanos diziam
que essa pessoa deveria se questionar se ela realmente é ou não Cristã.
Um
Puritano pintou este retrato. Ele disse que ser um Cristão é andar num caminho
estreito, reto. De ambos os lados do caminho há cercas. Atrás daquelas cercas
Satanás tem todos os poderes do mal ao seu dispor. Ele usa seu exército de
demônios, e até nossas inconsistências internas, e nossa tendência de cair em
precipitação. Ele usa todas aquelas coisas como dardos, e a cada passo que
damos na peregrinação espiritual ele atira através e por cima da cerca, mirando
nosso pé, nosso coração, nossas mãos, e nossos olhos. Cada passo do caminho é
uma batalha.
Aceitando um esforço
Thomas
Watson disse que o caminho para o céu é uma "obra suada". Há uma
batalha sendo travada, mas a obra da santificação, felizmente, avançará.
Santificação não está estagnada. Os Puritanos empregavam as palavras de Paulo
em 2 Coríntios 3:18, que somos transformados de glória em glória se andamos no
Espírito. Assim, o verdadeiro Cristão é um que aceita que haverá um conflito,
mas que ao mesmo tempo descansa na verdade que a vitória final é sua. Ele pode
perder muitas lutas, mas a guerra será ganha, porque ele está em Cristo. O
Espírito Santo o guiará, e ele avançará progressivamente.
Contudo,
há um empecilho oculto, diziam os Puritanos, porque o Cristão freqüentemente
não é capaz de ver qualquer progresso em si mesmo. Um Puritano disse que uma
mulher que varre seu mobiliário pode pensar que ela limpou todo o pó, até que a
luz do sol brilhe em seu quarto revelando todo o pó remanescente. Quanto mais o
Sol da justiça brilhe em nossos corações, embora possamos estar crescendo em
santidade (e outros possam ver isto), veremos de modo crescente os motivos de
nosso coração.
A
questão importante não é - "Posso me ver crescendo mais e mais santo?” mas
- "Quando eu olho para trás em minha vida, digo três ou cinco anos atrás,
Cristo significa mais para mim hoje do que então? Eu penso menos de mim mesmo
hoje do que então? Cristo está crescendo e eu diminuindo? Estou crescendo na
apreciação de Cristo, e em minha autodepreciação?" Este é a visão Puritana
de auto-examinação com respeito à santidade.
Outro
modo Puritano de avaliar o progresso na santidade é perguntar como estamos
atualmente lutando com a tentação. Se não estamos lutando contra as forças
que pressionam nossa carne, estamos regredindo. Em ordem, portanto, para fazer
progresso o crente deve orar ao trono da graça: "Ajude-me ser forte hoje,
Senhor. Ajude-me a ser puro hoje. Ajude-me a ser justo hoje". Este é o
constante desejo do Cristão que está fazendo progresso na santificação.
O ser interno, privado.
Em
quarto lugar, a santificação Puritana é imperfeita, apesar de invencível.
Nesta vida ela nunca é completa. Nosso objetivo sempre excederá nosso alcance.
Muitas pessoas não entendem os Puritanos neste ponto. Eles pensam que eles eram
introspectivos, ou que eles nos levavam a uma escravidão legalista, e até mesmo
à uma depressão espiritual. Isto não é verdade.
Os
Puritanos certamente tinham um conceito profundo de pecado e de justiça, embora
muitos dos seus modernos detratores tenham um terrivelmente pequeno conceito de
pecado e justiça. Os Puritanos sentiam a imperfeição da santificação deles,
precisamente porque eles tinham o padrão da justiça de Deus diante deles. Eles
não se comparavam com os seus próximos, mas com a santa lei de Deus. Justiça
para o Puritano era motivacional no caráter. O que existe dentro de você é
importante. O que você diz reflete quem você é por dentro.
Um
Puritano disse que um homem é em seu privado, o que ele realmente é
às vistas de Deus. Eles quereriam nos perguntar: “O que você pensa a respeito?
O que motiva você? Você está realmente motivado pelo amor a Deus? Você está
motivado pela solidariedade do Samaritano para com os outros, amando-os,
fazendo-lhes o bem, e se colocando para o benefício e bem-estar espiritual
deles?” Este é o coração de uma justiça Puritana. Com este alto conceito de
santidade, eles naturalmente sentiam suas imperfeições. Talvez isto em nenhum
lugar seja mais vividamente expresso do que nas questões e respostas do
Catecismo Maior de Westminster sobre os dez mandamentos. Leia-os se você quiser
e note quão precisos eles são, como eles sondam o coração e como eles insistem
que você deve amar a Deus e ao seu próximo como a si mesmo.
Quando,
portanto, você ler sobre como os Puritanos olhavam com pesar para eles mesmos,
e quando você ver em seus diários como eles sofriam com a sua própria
indignidade, lembre-se que eles estão se comparando com o perfeito Deus e com
Sua santa lei. Eles eram homens e mulheres que verdadeiramente sentiam o gemido
de Paulo: "Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de
Deus....Miserável homem que sou! quem me livrará do corpo desta morte?"
Eles sentiam sua necessidade de fugir para Cristo todos os dias para serem
lavados novamente. E que está é a origem de toda genuína santidade. Tal
santidade é invencível. Ela nunca morrerá, mas um dia será perfeita em e com
Cristo para sempre.
Este artigo foi adaptado de uma pregação do Dr.
Beeke na Escola de Teologia do Metropolitan Tabernacle em 1998, e impresso pela
Sword & Trowel.
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