OS CÂNONES DE DORT
ÍNDICE
A Divina Eleição e Reprovação 15
Rejeição de Erros 16
A Morte de Cristo e a Redenção do Homem por
Meio Dela 17
Rejeição de erros 18
A Corrupção do Homem, A Sua Conversão
a Deus e Como Ela Ocorre 19
Rejeição de Erros 20
A Perseverança dos Santos 21
Rejeição de Erros 22
Conclusão 23
Glossário 24
OS CÂNONES DE DORT
OS CINCO ARTIGOS DE FÉ SOBRE O ARMINIANISMO *
A DIVINA ELEIÇAO E REPROVAÇÃO*
Artigo 1 ‑ Toda a
humanidade é condenável perante Deus
Todos os homens
pecaram em Adão, estão debaixo da maldição de Deus e são condenados à morte
eterna. Por isso ninguém teria sido injustiçado se ele tivesse resolvido deixar
toda a raça humana no pecado e sob a maldição e decidido condená‑la por causa
do seu pecado, de acordo com as palavras do apóstolo: ... para que se cole toda
boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus... pois todos pecaram e carecem
da glória de Deus..., e ... o salário do pecado é a morte ... (Rm 3.19,23;
6.23).
Artigo 2 ‑ 0 envio do
Filho de Deus
Mas nisto se
manifestou o amor de Deus em nós, em haver Deus enviado o seu Filho unigênito
ao mundo .... ... para que todo o que nele crê não pereça, mos tenha a vida
eterna. (lJo 4.9; Jo 3.16).
Artigo 3 ‑ A pregação
do Evangelho
Para que os homens
sejam conduzidos à fé, Deus envia, em sua misericórdia, mensageiros dessa
alegre boa nova a quem e quando ele quer. Pelo ministério deles, os homens são
chamados ao arrependimento e à fé no Cristo crucificado. Porque ... como crerão
naquele de quem nada ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? E como
pregarão se não forem enviados? (Rm 10.14,15).
Artigo 4 ‑ Um duplo
resultado
A ira de Deus
permanece sobre aqueles que não crêem no Evangelho. Mas aqueles que o aceitam e
abraçam a Jesus, o Salvador, com uma fé verdadeira e viva, são redimidos por
ele da ira de Deus e da perdição, e presenteados com a vida eterna (Jo 3.36; Mc
16.16).
Artigo 5 ‑ A causa da
incredulidade e a fonte da fé
Em Deus não está,
de forma alguma, a causa ou culpa dessa incredulidade. 0 homem tem essa culpa,
assim como a de todos os demais pecados. Mas a fé em Jesus Cristo e também a
salvação por meio dele são dons gratuitos de Deus, como está escrito: Porque
pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de
Deus...(Ef 2.8).
Semelhantemente,
Porque vos foi concedida a graça de ... crer em Cristo (Fp 1.29).
Artigo 6 ‑ Decreto
eterno de Deus
Deus nesta vida
concede a fé a alguns enquanto não concede a outros. Isto procede do eterno
decreto de Deus. Porque as Escrituras dizem que ele ... faz estas coisas
conhecidas desde séculos... e que ... ele faz todas as coisas conforme o
conselho da sua vontade ... (At 15.18; Ef 1. 11). De acordo com este decreto,
ele graciosamente quebranta os corações dos eleitos, por duros que sejam, e os
inclina a crer. Pelo mesmo decreto, entretanto, segundo seu justo juizo, ele
deixa os não‑eleitos em sua própria maldade e dureza de coração. E aqui
especialmente nos é manifesta a profunda, misericordiosa e ao mesmo tempo justa
distinção entre homens que estão sob a mesma condição de perdição. Este é o
decreto da eleição e reprovação* revelado na Palavra de Deus.
Ainda que os
homens perversos, impuros e instáveis o deturpem, para sua própria perdição,
ele dá um inexprimível conforto para as pessoas santas e tementes a Deus.
Artigo 7 ‑ Eleição
definida
Esta eleição é o
imutável propósito de Deus, pelo qual ele, antes da fundação do mundo, escolheu
um número grande e defini~ do de pessoas para a salvação, por graça pura. Estas
são escolhidas de acordo com o soberano bom propósito de sua vontade, dentre
todo o gênero humano, decaído, por sua própria culpa, de sua integridade
original para o pecado e a perdição. Os eleitos não são melhores ou mais dignos
que os outros, mas envolvidos na mesma miséria. São escolhidos, porém, em
Cristo, a quem Deus constituiu, desde a eternidade, Mediador e Cabeça de todos
os eleitos e fundamento da salvação. E, para salvá‑los por Cristo, Deus decidiu
dá‑los a ele e efetivamente chamá‑los e atrai‑los à sua comunhão por meio da
sua Palavra e de seu Espírito. Em outras palavras, ele decidiu dar‑lhes
verdadeira fé em Cristo, justificá‑los, santificá‑los, e depois, tendo‑se
guardado poderosamente na comunhão de seu Filho, finalmente glorificá‑los. Deus
fez isto para a demonstração de sua misericórdia e para o louvor da riqueza de
sua gloriosa graça. Como está escrito ... assim como nos escolheu nele, antes
do fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em
amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus
Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua
graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado... E em outro lugar: E aos
que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também
justificou; e aos que justificou, a esses também, glorificou (Ef 1.4‑6; Rm
8.30).
Artigo 8 ‑ Um só
decreto de eleição
Esta
eleição é múltipla, mas ela é uma e a mesma de todos os que são salvos tanto no
Antigo Testamento quanto no Novo Testamento. Pois a Escritura nos prega o único
bom propósito e conselho da vontade de Deus, pelo qual ele nos escolheu desde a
eternidade, tanto para a graça como para a glória, assim também para a salvação
e para o caminho da salvação, o qual preparou para que andássemos nele (Ef 1.
4,5; 2. 10).
Artigo 9 ‑ Eleição não
baseado em fé previste
Esta eleição não é
baseada em fé prevista, em obediência de fé, santidade ou qualquer boa
qualidade ou disposição, que seria uma causa ou condição previamente requerida
ao homem para ser escolhido. Ao contrário, esta eleição é para a fé, a
santidade, etc. Eleição, portanto, que é a fonte de todos os bens da salvação
e, finalmente tem, a própria vida eterna como seu fruto. É conforme o
testemunho do apóstolo: Ele ... nos escolheu... não por sermos mas ... para
sermos santos e irrepreensíveis perante ele ... (Ef 1.4).
Artigo 10 ‑ Eleição
baseada no bom propósito de Deus
A causa desta
eleição graciosa é somente o bom propósito de Deus. Este bom propósito não consiste
no fato de que dentre todas as condições possíveis Deus tenha escolhido certas
qualidades ou ações dos homens como condição para a salvação. Mas este bom
propósito consiste no fato de que Deus adotou certas pessoas dentre a multidão
inteira de pecadores para ser sua propriedade.
Como está escrito:
E ainda não eram os gêmeos nascidos nem tinham praticado o bem ou o mal... já
lhe fora dito a ela (Rebeca): 0 mais velho será servo do mais moço. Como está
escrito: Amei a Jacó, porém me aborreci de Esaú. E ... creram os que haviam
sido destinados para a vida eterna (Rm 9.11‑13; At 13.48).
Artigo 11 ‑ Eleição
imutável
Como Deus é
supremamente sábio, imutável, onisciente e Todo‑Poderoso, assim sua eleição não
pode ser cancelada e depois renovada, nem alterada, revogada ou anulada; nem
mesmo podem os eleitos ser rejeitados ou o número deles ser diminuído.
Artigo 12 ‑ A certeza
da eleição
Os eleitos
recebem, no devido tempo, a certeza da sua eterna e imutável eleição para a
salvação, ainda que em vários graus e em medidas desiguais. Eles não a recebem
quando curiosamente investigam os mistérios e profundezas de Deus. Mas eles a
recebem quando observam em si mesmos, com alegria espiritual e gozo santo, os
infalíveis frutos de eleição indicados na Palavra de Deus, tais como uma fé
verdadeira em Cristo, um temor filial para com Deus, tristeza por seus pecados
contra a vontade de Deus e fome e sede de justiça.
Artigo 13 ‑ 0 valor
desta certeza
A consciência e a
certeza desta eleição daria aos filhos de Deus maior motivo para se humilharem
perante ele, para adorarem a profundidade de sua misericórdia, para se
purificarem e para amarem ardentemente aquele que primeiro tanto os amou.
Contudo não é absolutamente verdade que esta doutrina da eleição e a reflexão
sobre a mesma os façam relaxar na observação dos mandamentos de Deus ou rendam
segurança falsa. No justo julgamento de Deus isto ocorre freqüentemente àqueles
que se vangloriam levianamente da graça da eleição ou facilmente falam acerca
disso, mas se recusam andar nos caminhos dos eleitos.
Artigo 14 ‑ Como a
eleição deve ser ensinada
A doutrina da
divina eleição, segundo o mui sábio conselho de Deus, foi pregada pelos
profetas, por Cristo mesmo e pelos apóstolos, tanto no Antigo Testamento como
no Novo Testamento, e depois escrita e entregue a nós através das Escrituras
Sagradas. Por isso, também hoje esta doutrina deve ser ensinada no seu devido
tempo e lugar na Igreja de Deus, para a qual ela foi particularmente destinada.
Ela deve ser ensinada com espírito de discrição, de modo reverente e santo, sem
curiosa investigação dos caminhos do Altíssimo, para a glória do santo nome de
Deus e consolação vivificante do seu povo.
Artigo 15 ‑ Reprovação*
descrita
A Escritura
Sagrada mostra e recomenda a nós esta graça eterna e imerecida sobre nossa
eleição, especialmente quando, além disso, testifica que nem todos os homens
são eleitos; alguns, pois, são preteridos na eleição eterna de Deus. De acordo
com seu soberano, justo, irrepreensível e imutável bom propósito, Deus decidiu
deixá‑los na miséria comum em que se lançaram por sua própria culpa, não lhes
concedendo a fé salvadora e a graça da conversão. Para mostrar sua justiça,
decidiu deixá‑los em seus próprios caminhos e debaixo do seu justo julgamento
e, finalmente, condená‑los e puni‑los eternamente, não apenas por causa de sua
incredulidade, mas também por todos os seus pecados, para mostrar sua justiça.
Este é o decreto da reprovação, o qual não torna Deus o autor do pecado (tal
pensamento é blasfêmia!), mas o declara o temível, irrepreensível e justo Juiz
e Vingador do pecado.
Artigo 16 ‑ Como a
doutrina do reprovação* deve ser recebida
Há pessoas que não
sentem fortemente a fé viva em Cristo, nem firme confiança no coração, nem paz
na boa consciência, nem zelo pela obediência filial e pela glorificação de Deus
por meio de Cristo.
Apesar disso elas
usam os meios pelos quais Deus prometeu operar tais coisas em nós. Elas não
devem desanimar quando a reprovação for mencionada nem contar a si mesmas entre
os reprovados. Pelo contrário, devem continuar diligentemente no uso desses
meios, desejando fervorosamente dias de graça mais abundante e esperando‑os com
reverência e humildade. Não devem se assustar de maneira nenhuma com a doutrina
da reprovação os que desejam seriamente se converter a Deus, agradar só a ele e
serem libertos do corpo de morte, mas ainda não podem chegar no ponto que
gostariam no caminho da piedade e da fé. 0 Deus misericordioso prometeu não
apagar a torcida que fumega, nem esmagar a cana quebrada. Mas esta doutrina é
certamente assustadora para os que não contam com Deus e o Salvador Jesus
Cristo e se entregaram completamente às preocupações do mundo e aos desejos da
carne, enquanto não se convertem seriamente a Deus.
Artigo 17 ‑ Filhos de
crentes que morrem na infância
Devemos julgar a
respeito da vontade de Deus com base na sua Palavra. Ela testifica que os
filhos de crentes são santos, não por natureza mas em virtude da aliança da
graça, na qual estão incluídos com seus pais. Por isso os pais que temem a Deus
não devem ter dúvida da eleição e salvação de seus filhos, que Deus chama desta
vida ainda na infância.
Artigo 18 ‑ Protesto
não, e sim, adoração
Àqueles que
reclamam contra esta graça de eleição imerecida e a severidade da justa
reprovação nós replicamos com esta sentença do apóstolo: Quem és tu, ó homem
para discutires com Deus?! (Rm 9.20). E com esta palavra do Salvador: Porventura
não me é lícito fazer o que quero do que é meu? (Mt 20.15). Nós, entretanto,
adorando reverentemente estes mistérios, exclamamos com o apóstolo: Ó
profundidade do riqueza, tanto do sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão
insondáveis são os seus juizos e quão inescrutáveis os seus caminhos! Quem,
pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem
primeiro lhe deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele e por
meio dele e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente.
Amém (Rm 11.33)
REJEIÇÃO DE ERROS
Tendo explicado a
doutrina ortodoxa de eleição e reprovação, o Sínodo rejeita os seguintes erros:
Erro 1 ‑ A vontade de Deus
para salvar aqueles que crerem e perseverarem na fé e na obediência da fé é o
decreto inteiro e total da eleição para a salvação. Nada mais sobre este
decreto foi revelado na Palavra de Deus.
Refutação ‑ Este erro engana
aos simples e claramente contradiz a Escritura. Ela testifica não apenas que
Deus salvará aqueles que crêem mas também que escolheu pessoas específicas desde
a eternidade. Nesta vida ele dará a esses eleitos a fé em Cristo e a
perseverança, que ele não dá a outros; como está escrito: Manifestei o teu nome
aos homens que me deste do mundo (Jo 17.6).
...e creram todos
os que haviam sido destinados para a vida eterna (At 13.48), ... como nos escolheu
nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante
ele ... (Ef 1.4).
Erro 2 ‑ Há vários tipos
de eleição divina para a vida eterna. Uma é geral e indefinida, e outra é
particular e definida. Esta última eleição ou é incompleta, revogável, não‑decisiva
e condicional, ou é completa, irrevogável, decisiva e absoluta. Do mesmo modo,
há uma eleição para a fé e outra para a salvação. Portanto a eleição pode ser
para a fé justificante, sem ser decisiva para a salvação.
Refutação ‑ Isto é uma
invenção da mente humana, sem nenhuma base na Escritura. Essa invenção corrompe
a doutrina da eleição e quebra a corrente de ouro da nossa salvação. E aos que
predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também
justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou (Rm 8.30).
Erro 3 ‑ 0 bom propósito
de Deus do qual a Escritura fala na doutrina da eleição não significa que ele
escolheu certas pessoas e não outras, mas que ele, dentre todas as condições
possíveis (inclusive as obras da lei), ou seja, dentre todas as possibilidades,
escolheu como condição de salvação o ato de fé, que é, de si mesmo, sem mérito,
e a obediência imperfeita da fé. Na sua graça ele a considera como obediência
perfeita e digna da recompensa da vida eterna.
Refutação ‑ Este erro
perigoso invalida o bom propósito de Deus e o mérito de Cristo, e desvia as
pessoas, por questões inúteis, da verdade da justificação graciosa e da
simplicidade da Escritura. Ele acusa de falsidade esta declaração do apóstolo:
... que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras,
mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo
Jesus antes dos tempos eternos (2 Tm 1.9).
Erro 4 ‑ A eleição para a
fé depende das seguintes condições prévias: o homem deve fazer uso adequado da
luz da natureza e deve ser piedoso, humilde, submisso e qualificado para a vida
eterna.
Refutação ‑ Assim parece que
a eleição depende destas coisas. Isto tem o sabor do ensinamento de Pelágio* e
está em conflito com o ensino do apóstolo em Efésios 2.3‑9: ... entre os quais
também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne,
fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da
ira, como também os demais. Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do
grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu
vida juntamente com Cristo ‑pela graça sois salvos e juntamente com ele nos ressuscitou e nos
fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mostrar nos séculos
vindouros a suprema riqueza da sua graça e bondade para conosco em Cristo
Jesus, Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é
dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.
Erro 5 - A eleição incompleta e não‑definida de certas
pessoas para a salvação se baseou nisto:
Deus previu que elas começariam a crer, se
converteriam, viveriam em santidade e piedade, e que até continuariam nisto por algum tempo.
Eleição completa e definitiva de pessoas, porém,
ocorreu
porque Deus previa que elas perseverariam em fé, conversão, santidade e
piedade até o fim. Isto é, constitui a dignidade graciosa e evangélica pela
qual a pessoa que é escolhida é mais digna que outra que não é escolhida.
Conseqüentemente a fé, a obediência de fé, a piedade e a perseverança não são
frutos da imutável eleição para glória. São condições e causas previamente
requeridas e previstas como cumpridas naqueles que serão eleitos completamente.
Só com base nestas condições ocorre a eleição imutável para a glória.
Refutação ‑ Este erro está em
conflito com toda a Escritura que repete constantemente para nossos ouvidos e
corações, estas e semelhantes afirmações: a eleição não [se dá] por obras mas
por aquele que chama... (Rm 9. 11), ... e creram todos os que haviam sido
destinados para a vida eterna; (At 13.48) ... nos escolheu nele antes da
fundação do mundo para sermos santos e irrepreensíveis perante ele... (Ef 1.4);
não fôstes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós
outros... (Jo 15. 16); ... se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário,
a graça já não é graça (Rm 11. 6). Nisto consiste o amor, não em que nós
tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou, e enviou o seu filho... (Mo 4.
10).
Erro 6 ‑ Nem toda eleição
para a salvação é imutável. Alguns dos eleitos podem perder‑se e de fato se perdem
eternamente, não obstante qualquer decreto de Deus.
Refutação ‑ Este erro
grosseiro faz Deus mutável, destrói o conforto dos crentes quanto à constância
de sua eleição e contradiz a Escritura: os eleitos não podem ser enganados (Mt
24.24). E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os
que me deu... (Jo 6.39); E aos que predestinou a esses também chamou; e aos que
chamou a esses justificou; e aos que justificou a esses também glorificou (Rm
8.30).
Erro 7 ‑ Nesta vida não há
fruto, consciência ou certeza da eleição imutável para a glória, exceto a
certeza que depende de uma condição mutável e incerta.
Refutação ‑ Falar acerca de
uma certeza incerta é não apenas absurdo mas também contrário à experiência dos
santos. Sentindo sua eleição, eles se regozijam junto com o apóstolo e
glorificam este beneficio de Deus (cf. Ef 1. 12). Conforme o mandamento de
Cristo eles se regozijam junto com os discípulos por seus nomes estarem
escritos nos céus (Lc 10.20). Eles colocam a consciência de sua eleição contra
os dardos inflamados das tentações do diabo, quando perguntam: Quem intentará
acusação contra os eleitos de Deus? (Rm 8.33).
Erro 8 ‑ Deus não decidiu,
simplesmente com base em sua justa vontade, deixar ninguém na queda de Adão e
no estado comum de pecado e condenação. Nem decidiu preterir ninguém quando
deu a graça, necessária para a fé e a conversão.
Refutação ‑ Pois isto é
certo: Logo, tem ele misericórdia de quem quer, e também endurece a quem lhe
apraz (Rm 9.18). E também isto: ... Porque a vós outros é dado conhecer os
mistérios do reino dos céus, mas àqueles não lhes é isso concedido (Mt 13. 11).
Igualmente: ... Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e do terra, porque
ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos.
Sim, ó Pai, porque assim foi de teu agrado (Mt 11.25,26).
Erro 9 ‑ Deus envia o
Evangelho a um povo mais que a um outro, não meramente e somente por causa do
bom propósito de sua vontade, mas por ser este melhor e mais digno que o outro,
ao qual o Evangelho não é comunicado.
Refutação - Moisés nega isto quando se
dirige ao povo de Israel dizendo: Eis que os céus e os céus dos céus são do SENHOR
teu Deus, a terra e tudo o que nela há. Tão somente o SENHOR se afeiçoou a teus
pais para os amar: a vós outros, descendentes deles, escolheu de todos os
povos, como hoje se vê(Dt 10.14,15). E Cristo diz :Ai de ti, Corazim ! Ai de
ti, Betsaida ! Porque, se em Tiro e em Sidorn se tivessem operado os milagres
que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido, com pano de
saco e cinza (Mt 11.21).
A
MORTE DE CRISTO E A REDENÇÃO
DO
HOMEM POR MEIO DELA
Artigo
1 ‑ A Justiça de Deus exige punição
Deus é não só
supremamente misericordioso mas também supremamente justo. E como ele se
revelou em sua Palavra, sua justiça exige que nossos pecados, cometidos contra
sua infinita majestade, sejam punidos nesta vida e na futura, em corpo e alma.
Não podemos escapar dessas punições a menos que seja satisfeita a justiça de
Deus.
Artigo
2 ‑ A satisfação cumprida por Cristo
Por nós mesmos,
entretanto, não podemos cumprir tal satisfação nem podemos livrar a nós mesmos
da ira de Deus. Por isso Deus, em sua infinita misericórdia, deu seu Filho
único como nosso fiador. Por nós, ou em nosso lugar, ele foi feito pecado e
maldição na cruz para que pudesse satisfazer a Deus por nós.
Artigo
3 ‑ 0 valor infinito da morte de Cristo
Esta morte do
Filho de Deus é o único e perfeito sacrifício pelos pecados, de valor e
dignidade infinitos, abundantemente suficiente para expiar os pecados do mundo
inteiro.
Artigo
4 ‑ Sua morte tem valor infinito
Essa morte é de
tão grande poder e valor porque quem se submeteu a ela era não apenas homem
verdadeiro e perfeitamente santo, mas também o filho único de Deus. Ele é Deus
eterno e infinito junto ao Pai e ao Espírito Santo. Assim devia ser nosso
Salvador. Além disso ele sentiu, ao morrer, a ira e a maldição de Deus que nós
merecemos pelos nossos pecados.
Artigo 5 ‑ A
proclamação universal do Evangelho
A promessa do
Evangelho é que todo aquele que crer no Cristo crucificado não pereça, mas
tenha a vida eterna. Esta promessa deve ser anunciada e proclamada sem
discriminação a todos os povos e a todos os homens, aos quais Deus, em seu bom
propósito, envia o Evangelho com a ordem de que se arrependam e creiam.
Artigo
6 ‑ Por que alguns não crêem
Muitos que têm
sido chamados pelo Evangelho não se arrependem nem crêem em Cristo, mas perecem
na incredulidade. Isto não acontece por causa de algum defeito ou insuficiência
no sacrificio de Cristo na cruz, mas por culpa deles próprios.
Artigo
7 ‑ Por que outros crêem
Mas aqueles que
verdadeiramente crêem e pela morte de Cristo são libertos e salvos dos seus
pecados e da perdição, recebem tal beneficio apenas por causa da graça de Deus,
que lhes é dada, em Cristo, desde a eternidade. Deus não deve a ninguém tal
graça.
Artigo
8 ‑ A eficácia da morte de Cristo
Pois
este foi o soberano conselho, a vontade graciosa e o propósito de Deus, o Pai,
que a eficácia vivificante e salvifica da preciosissima morte de seu Filho
fosse estendida a todos os eleitos. Daria somente a eles a justificação pela fé
e por conseguinte os traria infalivelmente à salvação. Isto quer dizer que foi
da vontade de Deus que Cristo, por meio do sangue na cruz (pelo qual ele
confirmou a nova aliança), redimisse efetivamente, de todos os povos, tribos,
línguas e nações, todos aqueles e somente aqueles que foram escolhidos desde a
eternidade para serem salvos e lhe foram dados pelo Pai. Deus quis que Cristo
lhes desse a fé, que ele mesmo lhes conquistou com sua morte, juntamente com
outros dons salvificos do Espírito Santo. Deus quis também que Cristo os purificasse
de todos os pecados por meio do seu sangue, tanto do pecado original como dos
pecados atuais, que foram cometidos antes e depois de receberem a fé. E que
Cristo os guardasse fielmente até o fim e finalmente os fizesse comparecer
perante o próprio Pai em glória, sem mácula, nem ruga (Ef 5.27).
Artigo
9 ‑ 0 cumprimento do conselho de Deus
Este conselho,
procedendo do amor eterno de Deus aos eleitos, tem sido poderosamente cumprido,
desde o começo do mundo até hoje, ainda que as "portas do inferno" em
vão tentem frustrálo. 0 conselho de Deus também continuará a ser cumprido. No
devido tempo os eleitos serão unidos em um só rebanho, e sempre haverá uma
Igreja de crentes fundada no sangue de Cristo. Esta Igreja ama firmemente seu
Salvador (o qual como noivo deu na cruz sua própria vida por sua noiva), serve
a ele com perseverança e o glorifica agora e para sempre.
REJEIÇÃO
DE ERROS
Tendo explicado a
doutrina ortodoxa, o Sínodo rejeita os seguintes erros:
Erro 1 ‑ Deus, o Pai, destinou
seu Filho à morte na cruz sem um decreto definido de determinadas pessoas.
Mesmo que a redenção por Cristo, conquistada de fato, nunca tivesse sido
aplicada a nem uma só pessoa, o que ele alcançou pela sua morte podia ter sido
necessário, proveitoso e valioso e podia permanecer perfeito, completo e
intacto em todas as suas partes.
Refutação ‑ Esta doutrina é uma ofensa à
sabedoria do Pai, ao mérito de Cristo e é contrária à Escritura. Pois o nosso
Salvador afirma: ... dou a minha vida pelas ovelhas e eu as conheço... (Jo 10.
15, 27). E o profeta fala acerca do Salvador: ... quando der ele a sua alma
como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a
vontade do SENHOR prosperará nas suas mãos (Is 53. 10). Finalmente, este erro
invalida o artigo de fé pelo qual confessamos a Igreja universal de Cristo.
Erro 2 ‑ Não era propósito
da morte de Cristo que' ele confirmasse de fato a nova aliança da graça pelo
seu sangue. Mas era somente propósito que conquistasse para o Pai o mero direito
de estabelecer de novo uma aliança com o homem, seja de graça, seja de obras,
conforme a vontade do Pai.
Refutação ‑ Isto contradiz a
Escritura que ensina que Cristo se tornou o Fiador e Mediador de uma aliança
superior, isto é, da nova aliança. Um testamento* só se concretiza em caso de
morte (Hb 7.22 e 9.15,17).
Erro 3 ‑ Por sua
satisfação ao Pai, Cristo não mereceu para ninguém a salvação segura nem a fé
pela qual esta satisfação para salvação é efetivamente aplicada. Ele apenas
obteve para o Pai a possibilidade ou a vontade perfeita, para tratar de novo
com o homem e para prescrever novas condições conforme sua vontade. Depende
entretanto da livre vontade do homem preencher essas condições. Portanto
poderia acontecer que ninguém ou todos os homens preenchessem tais condições.
Refutação ‑ Aqueles que
ensinam este erro desprezam a morte de Cristo e não reconhecem de maneira nenhuma
o seu mais importante resultado ou benefício. Eles evocam do inferno o erro
pelagiano*.
Erro 4 ‑ A nova aliança da
graça, que Deus. o Pai, mediante a morte de Cristo, estabeleceu com o homem,
não consiste em que nós estamos justificados diante de Deus e salvos pela fé se
ela aceita o mérito de Cristo. Ela consiste no fato de que Deus revogou a
exigência de perfeita obediência à lei e considera agora a própria fé e a
obediência de fé, ainda que imperfeitas, como a perfeita obediência à lei. Ele
acha, em sua graça, que elas sejam dignas da recompensa da vida eterna.
Refutação ‑ Os que ensinam
isto contradizem a Escritura: ... sendo justificados gratuitamente, por sua
graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu
sangue, como propiciação, mediante a fé... (Rm 3.24,25). Eles introduzem, junto
com o impio Socino*, uma nova e estranha justificação do homem diante de Deus,
contrária ao consenso da Igreja inteira.
Erro 5 ‑ Todas as pessoas
têm sido aceitas por Deus, de tal maneira que estão reconciliadas com ele e
participam da aliança. Por isso ninguém está sujeito à condenação ou será
condenado por causa do pecado original. Todos estão livres da culpa deste
pecado.
Refutação ‑ Esta opinião
contraria a Escritura que ensina que nós somos por natureza filhos da ira (Ef
2.3).
Erro 6 ‑ Deus, por sua
parte, quer dar a todas as pessoas igualmente os beneficios conquistados pela
morte de Cristo. Entretanto algumas obtêm o perdão dos pecados e a vida eterna,
e outras não. Esta distinção depende de sua própria livre vontade que se junta
à graça que é oferecida sem distinção. Mas não depende do dom especial da misericórdia
que nelas opera tão poderosamente que elas se apropriem dessa graça,
diferentemente das outras pessoas.
Refutação ‑ Os que assim
ensinam abusam da distinção entre aquisição e apropriação da salvação para
implantar esta opinião nas mentes de pessoas imprudentes e sem experiência.
Enquanto eles simulam apresentar esta distinção da maneira correta, procuram
induzir na mente do povo o perigoso veneno dos erros pelagianos*.
Erro 7 ‑ Cristo não podia
nem precisava morrer de fato, por aqueles a quem Deus amou supremamente e
elegeu para a vida eterna, visto que estes não precisavam da morte de Cristo.
Refutação ‑ Esta doutrina
contradiz o apóstolo, que declara: O Filho de Deus me amou e a si mesmo se entregou
por mim (GI2.20). Igualmente: Quem intentará acusação contra os eleitos de
Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem
morreu... por eles (Rm 8.33, 34). E o Salvador assegura: ... dou a minha vida
pelas minhas ovelhas (Jo 10.15). E mais: O meu mandamento é este, que vos ameis
uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este: de
dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos. (Jo 15.12, 13).
A CORRUPÇÃO DO HOMEM,
A SUA
CONVERSÃO A DEUS
E COMO ELA OCORRE
Artigo
1 ‑ O resultado da queda
No princípio o
homem foi criado à imagem de Deus. Foi adornado em seu entendimento com o
verdadeiro e salutar conhecimento de Deus e de todas as coisas espirituais. Sua
vontade e seu coração eram retos, todos os seus afetos, puros; portanto, era o
homem completamente santo. Mas, desviando‑se de Deus sob instigação do diabo e
pela sua livre vontade, ele se privou desses dons excelentes. Em lugar disso
trouxe sobre si cegueira, trevas terríveis, leviano e perverso juízo em seu
entendimento; malícia, rebeldia e dureza em sua vontade e em seu coração; e
ainda impureza em todos os seu afetos.
Artigo
2 ‑ Corrupção espalhada
Depois da queda, o
homem corrompido gerou filhos corrompidos. Então a corrupção, de acordo com o
justo julgamento de Deus, passou de Adão até todos os seus descendentes, com
exceção de Cristo somente. Não passou por imitação, como os antigos pelagianos
afirmavam, mas por procriação da natureza corrompida.
Artigo
3 ‑ Incapacidade total do homem
Portanto, todos os
homens são concebidos em pecado e nascem como filhos da ira, incapazes de
qualquer ação que o salve, inclinados para o mal, mortos no pecado e escravos
do pecado. Sem a graça do Espírito Santo regenerador não desejam nem tampouco
podem retornar a Deus, corrigir sua natureza corrompida ou ao menos estar
dispostos a essa correção.
Artigo 4 ‑ A Insuficiência da luz da natureza
É verdade que há
no homem depois da queda um resto de luz natural. Assim ele retém ainda alguma
noção sobre Deus, sobre as coisas naturais e a diferença entre honra e desonra
e pratica alguma virtude e disciplina exterior. Mas o homem está tão longe de
chegar ao conhecimento salvífico de Deus e à verdadeira conversão por meio
desta luz natural que ele não a usa apropriadamente nem mesmo em assuntos
cotidianos. Antes, qualquer que seja esta luz, o homem a polui totalmente, de
maneiras diversas, e a detém pela injustiça. Assim, ele se faz indesculpável
perante Deus.
Artigo
5 ‑ A insuficiência da lei
O que foi dito à
luz da natureza vale também com relação à lei dos Dez Mandamentos, dada por
Deus através de Moisés, particularmente aos judeus. A lei revela como é grande
o pecado e mais e mais convence o homem de sua culpa, mas não aponta o remédio
nem dá a força para sair dessa miséria. A lei ficou sem força pela carne e
deixa o transgressor sob a maldição. Por esta razão o homem não pode obter a
graça salvadora através da lei.
Artigo
6 ‑ A necessidade do Evangelho
Aquilo que nem a
luz natural nem a lei podem fazer, Deus o faz pelo poder do Espírito Santo e
pela pregação ou ministério da reconciliação, que é o Evangelho do Messias.
Agradou a Deus usar este Evangelho para salvar os crentes, tanto na antiga
quanto na nova aliança.
Artigo
7 ‑ Por que o Evangelho é enviado a alguns e a outros não
No Antigo
Testamento Deus revelou a poucas pessoas este mistério da sua vontade. No Novo
Testamento, entretanto, ele retirou a distinção entre os povos e revelou o
mistério a muito mais pessoas. Esta distribuição distinta do Evangelho não é
motivada pela maior dignidade de um certo povo, nem pelo melhor uso da luz da
natureza, mas pelo soberano bom propósito e amor imerecido de Deus. Portanto
eles, que recebem tão grande graça, além e ao contrário de tudo que merecem,
devem reconhecer isto com coração humilde e agradecido. Mas eles devem, com o
apóstolo, adorar a severidade e justiça dos julgamentos de Deus sobre aqueles
que não recebem esta graça, mas não devem, de maneira nenhuma, investigá‑los
curiosamente.
Artigo
8 ‑ O sério chamado pelo Evangelho
Tantos quantos;
são chamados pelo Evangelho, o são seriamente. Porque Deus revela séria e
sinceramente em sua Palavra o que lhe agrada, a saber, que aqueles que são
chamados venham a ele. Ele também seriamente promete descanso para a alma e
vida eterna a todos que a ele vierem e crerem.
Artigo
9 ‑ Por que alguns que são chamados não vêm
Muitos são
chamados através do ministério do Evangelho, mas não vêm nem são convertidos. A
culpa não é do Evangelho, nem de Cristo, que é oferecido pelo Evangelho, nem de
Deus, que os chama através do Evangelho e inclusive lhes confere vários dons. A
culpa é deles mesmos. Alguns não aceitam a Palavra da vida por descuido. Outros
de fato a recebem, mas não em seus corações e, por isso, quando desaparece a
alegria de sua fé temporária, viram as costas à Palavra. Ainda outros sufocam a
semente da Palavra com os espinhos dos cuidados e prazeres deste mundo e não
produzem nenhum fruto. Isto é o que o Salvador ensina na parábola do semeador
(cf. Mt 13).
Artigo
10 ‑ Por que outros que são chamados vêm
Outros que são
chamados pelo ministério do Evangelho vêm e são convertidos. Isto não pode ser
atribuído ao homem, como se ele se distinguisse por sua livre vontade de outros
que receberam a mesma e suficiente graça para fé e conversão, como a heresia
orgulhosa de Pelágio afirma. Mas isto deve ser atribuído a Deus: como ele os
escolheu em Cristo desde a eternidade, assim ele os chamou efetivamente no
tempo. Ele lhes dá fé e arrependimento; ele os livra do poder das trevas e os transfere
para o reino de seu Filho.
Tudo isso ele faz
a fim de que proclamem as grandes virtudes daquele que os chamou das trevas
para a sua maravilhosa luz e se gloriem, não em si mesmos, mas no Senhor, como
é o testemunho geral dos escritos apostólicos (CI 1. 13; 1 Pe 2.9; 1 Co 1.31).
Artigo
11 ‑ Como ocorre a conversão
Deus
realiza seu bom propósito nos eleitos e opera neles a verdadeira conversão da
seguinte maneira: ele faz com que ouçam o Evangelho mediante a pregação e
poderosamente ilumina suas mentes pelo Espírito Santo de tal modo que possam
entender corretamente e discernir as coisas do Espírito de Deus. Mas, pela
operação eficaz do mesmo Espírito regenerador, Deus também pene~ tra até os
recantos mais íntimos do homem. Ele abre o coração fechado e enternece o que
está duro, circuncida o que está incircunciso e introduz novas qualidades na
vontade. Esta vontade estava morta, mas ele a faz reviver; era má, mas ele a
torna boa; estava indisposta, mas ele a torna disposta; era rebelde, mas ele a
faz obediente, ele move e fortalece esta vontade de tal forma que, como uma boa
árvore, seja capaz de produzir frutos de boas obras (I Cor 2.14).
Artigo
12 ‑ O caráter divino da regeneração
Esta conversão é
aquela regeneração, renovação, nova criação, ressurreição dos mortos e
vivificação, tão exaltada nas Escrituras, a qual Deus opera em nós, sem
qualquer contribuição de nossa parte. Mas esta regeneração não é efetuada pela
pregação apenas, nem por persuasão moral. Nem ocorre de tal maneira que,
havendo Deus feito a sua parte, resta ao poder do homem ser regenerado ou não
regenerado, convertido ou não convertido. Ao contrário, a regeneração é uma
obra sobrenatural, poderosíssima, e ao mesmo tempo agradabilíssima,
maravilhosa, misteriosa e indizível. De acordo com o testemunho da Escritura,
inspirada pelo próprio autor dessa obra, regeneração não é inferior em poder à
criação ou à ressurreição dos mortos. Conseqüentemente todos aqueles em cujos
corações Deus opera desta maneira maravilhosa são, certamente, infalível e
efetivamente regenerados e de fato passam a crer. Portanto a vontade que é
renovada não apenas é acionada e movida por Deus mas, sob a ação de Deus, torna‑se
ela mesma atuante. Por isso também se diz corretamente que o homem crê e se arrepende
mediante a graça que recebeu.
Artigo
13 ‑ A regeneração é incompreensível
Como Deus opera,
os crentes, enquanto vivos, não podem entender completamente. Entretanto, estão
tranqüilos, sabendo e sentindo que por esta graça de Deus eles crêem com o
coração e amam seu Salvador.
Artigo
14 ‑ Fé, um dom de Deus
A fé nada mais é,
portanto, que um dom de Deus. Isto significa que Deus a oferece à livre vontade
do homem, mas que ela é, de fato, conferida ao homem e nele infundida. Não é um
dom no sentido de que Deus apenas concede poder para crer e depois espera da
livre vontade do homem o consentimento para crer ou o ato de crer. Ao
contrário, é um dom no sentido de que Deus efetua no homem tanto a vontade de
crer quanto o ato de crer. Ele opera tanto o querer como o realizar; sim, ele
opera tudo em todos (Ef 2.8; Fp 2.13).
Artigo
15 ‑ Atitude cristã com respeito à graça imerecida de Deus
Esta graça Deus
não deve a ninguém. Em troca de quê seria ele devedor ao homem? Quem teria
primeiro dado a ele para que pudesse ser retribuído? O que poderia Deus dever a
alguém que nada tem de si mesmo a não ser pecado e falsidade? Aquele, portanto,
que recebe esta graça deve e rende eterna gratidão a Deus. Porém, quem não
recebe esta graça nem valoriza estas coisas espirituais e tem prazer na sua
própria situação ou numa falsa segurança, em vão se gaba de ter o que não tem.
Além disso, quanto aos que manifestam sua fé e corrigem suas vidas, nós devemos
julgar e falar da maneira mais favorável, de acordo com o exemplo dos
apóstolos, pois não conhecemos o âmago dos corações. Quanto aos que ainda não foram
chamados, nós devemos orar a Deus em seu favor, pois ele é que chama à
existência as coisas que não existem. De maneira nenhuma, porém, podemos ter
uma atitude orgulhosa para com eles, como se nós tivéssemos conquistado nossa
posição distinta (Rm 11.35).
Artigo
16 ‑ A vontade do homem não é eliminada mas vivificada
O homem não
deixou, apesar da queda, de ser homem dotado de intelecto e vontade; e o
pecado, que tem penetrado em toda a raça humana, não privou o homem de sua
natureza humana, mas trouxe sobre ele depravação e morte espiritual. Assim
também a graça divina da regeneração não age sobre os homens como se fossem
máquinas ou robôs, e não destrói a vontade e as suas propriedades, ou a coage
violentamente. Mas a graça a faz reviver espiritualmente, traz‑lhe a cura,
corrige‑a e a dobra de forma agradável e ao mesmo tempo poderosa. Como
resultado, onde dominava rebelião e resistência da carne, agora, pelo Espírito,
começa a prevalecer uma pronta e sincera obediência. Esta é a verdadeira
renovação espiritual e liberdade da vontade. E se o admirável autor de todo bem
não agisse desse modo conosco, o homem não teria esperança de levantar‑se da
sua queda por meio de sua livre vontade, pela qual ele, quando ainda estava em
pé, se lançou na perdição.
Artigo
17 ‑ O uso dos meios
A todo‑poderosa
operação de Deus pela qual ele produz e sustenta nossa vida natural não exclui
mas requer o uso de meios, pelos quais ele quis exercer seu poder, de acordo
com sua infinita sabedoria e bondade. Da mesma maneira a mencionada operação
sobrenatural de Deus, pela qual ele nos regenera, de modo nenhum exclui ou
anula o uso do Evangelho, que o mui sábio Deus ordenou para ser a semente da
regeneração e o alimento da alma. Por esta razão os apóstolos e os mestres que
os sucederam, piedosamente instruíram o povo acerca da graça de Deus, para sua
glo.ria e para humilhação de toda soberba do homem. Ao mesmo tempo eles não
descuidaram de manter o povo, pelas santas admoestações do Evangelho, sob a
ministração da Palavra, dos sacramentos e da disciplina.
Por isso aqueles
que hoje ensinam ou aprendem na igreja não devem ousar tentar a Deus, separando
aquilo que ele em seu bom propósito quis preservar inteiramente unido. Pois a
graça é conferida através de admoestações, e quanto mais prontamente
desempenhamos nosso dever, tanto mais este beneficio de Deus, que opera em nós,
se manifesta gloriosamente e sua obra prossegue da melhor maneira. A Deus
somente seja dada toda glória eternamente, tanto pelos meios quanto pelo fruto
e eficácia da salvação. Amém.
REJEIÇÃO DE ERROS
Tendo explicado a
doutrina ortodoxo, o Sínodo rejeita os seguintes erros:
Erro 1 ‑ É impróprio dizer
que o pecado original em si é suficiente para condenar toda a raça humana ou
merecer castigo temporal e eterno.
Refutação ‑ Isto contradiz o
apóstolo que declara: Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no
mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens
porque todos pecaram. (Rm 5.12). E o verso 16 diz: ... o julgamento derivou de
uma só ofensa, para a condenação. E em Romanos 6.23: 0 salário do pecado é a
morte.
Erro 2 ‑ Os dons
espirituais ou as boas qualidades e virtudes, tal como a bondade, a santidade e
a justiça, não podiam estar na vontade do homem quando no princípio foi criado.
Por isso também não podiam ter sido separados da sua própria vontade quando
caiu.
Refutação ‑ Este erro é
contrário à descrição da imagem de Deus que o apóstolo dá em Efésios 4.24,
dizendo que ela consiste em justiça e santidade, que sem dúvida estão na
vontade.
Erro 3 ‑ Na morte
espiritual os dons espirituais não são separados da vontade do homem. Porque a
vontade como tal nunca tem sido corrompida, mas apenas atrapalhada pelo
obscurecimento do entendimento e pela desordem das afeições. Se estes
obstáculos forem removidos, a vontade pode exercer seu livre poder inato*. A
vontade é por si mesma capaz de desejar e escolher ou não toda espécie de bem
que lhe for apresentada.
Refutação ‑ Esta é uma
novidade e um engano, e tende a exaltar os poderes da livre vontade, contrário
ao que o profeta Jeremias; declara no cap. 17.9: Enganoso é o coração, mais do
que todas as coisas, e desesperadamente corrupto... E o apóstolo Paulo escreve:
Entre os quais (os filhos da desobediência) também todos nós andamos outrora,
segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos
pensamentos... (Ef 2.3).
Erro 4 ‑ 0 homem não‑regenerado
não é realmente ou totalmente morto em pecados, ou privado de toda capacidade
para fazer o bem. Ele ainda pode ter fome e sede de justiça e vida, e pode
oferecer sacrifício de espírito contrito e quebrantado que agrada a Deus.
Refutação ‑ Estas afirmações
são contrárias ao testemunho claro da Escritura: Ele vos deu vida, estando vós
mortos nos vossos delitos e pecados (Ef 2.1; cf. v.5). E, ... era continuamente
mau todo o desígnio do seu coração (Gn 6.5; cf. 8.21). Além do mais, somente os
regenerados e os bem‑aventurados têm fome e sede da libertação da miséria e da
vida, e oferecem a Deus um sacrifício de espírito quebrantado (SI 51.19 e Mt
5.6).
Erro 5 ‑ O homem
degenerado e carnal bem pode usar a graça comum (na que se constitui a luz
natural), ou os dons que ainda lhe foram deixados após a queda. Assim ele,
sozinho, pode gradualmente alcançar uma graça maior, isto é, a graça evangélica
ou salvadora, e a própria salvação. Dessa forma Deus, por seu lado, mostra‑se
pronto a revelar Cristo a todo homem, porque a todos ele administra suficiente
e efetivamente os meios necessários para conhecer Cristo, para crer e se
arrepender.
Refutação ‑ Tanto a
experiência de todas as épocas como a Escritura testificam que isto não é
verdade. Mostra a sua palavra a Jacó, as suas leis e os seus preceitos a
Israel. Não fez assim a nenhuma outra nação; todos ignoram os seus preceitos.
(SI 147.19,20). E ainda ... o qual nos gerações passadas permitiu que todos os
povos andassem nos seus próprios caminhos (At 14.16). E Paulo e seus
companheiros foram impedidos pelo Espírito Santo de pregar a Palavra no Ásia, defrontando
Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu (At
16.6,7).
Erro 6 ‑ Na verdadeira
conversão do homem, Deus não pode infundir novas qualidades, novos poderes ou
dons na vontade humana. Portanto a fé, que é o começo da conversão, e que nos
dá o nome de crentes, não é uma qualidade ou um dom outorgado por Deus mas
apenas um ato do homem. Somente com respeito ao poder para alcançar a fé, pode‑se
dizer que é um dom.
Refutação ‑ Este ensinamento
contradiz a Sagrada Escritura quando declara que Deus infunde em nossos
corações novas qualidades de fé, obediência e experiência de seu amor: Na mente
lhes imprimirei as minhas leis, também nos corações lhas inscreverei... Jr
31.33). E ... derramarei água sobre o sedento, e torrentes sobre a terra
seco... (Is 44.3). E ainda ... o amor de Deus é derramado em nossos corações
pelo Espírito Santo que nos foi outorgado (Rm 5.5). O ensinamento arminiano*
também contraria a prática constante da Igreja, que ora com o profeta:
Converte-me, e serei convertido (Jr 31.18).
Erro 7 ‑ Esta graça pela
qual somos convertidos a Deus é apenas um apelo gentil. Ou (como alguns
explicam) esta maneira de agir, que consiste em aconselhar, é a mais nobre
maneira de converter o homem e está mais em harmonia com a natureza deste. Não
há razão por que tal graça persuasiva não seja suficiente para tomar espiritual
o homem natural. Em verdade, Deus não produz o consentimento da vontade a não
ser através deste tipo de apelo moral. O poder da operação divina supera a ação
de Satanás, Deus prometendo bens eternos e Satanás apenas bens temporais.
Refutação ‑ Isto é
Pelagianismo* por completo, e contrário a toda Escritura que conhece, além
desse apelo moral, outra operação, muito mais poderosa e divina: a ação do
Espírito Santo na conversão do homem: Dar‑vos‑ei coração novo, e porei dentro
em vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de
carne (Ez 36.26).
Erro 8 ‑ Na regeneração do
homem Deus não usa os poderes de sua onipotência de maneira a dobrar a vontade
do homem, à força e infalivelmente, para a fé e a conversão. Mesmo sendo realizadas
todas as operações da graça que Deus possa usar para converter o homem e mesmo
que Deus tenha a intenção e a vontade de regenerá‑lo, o homem ainda pode
resistir a Deus e ao Santo Espírito. De fato freqüentemente resiste, chegando a
impedir totalmente sua regeneração. Portanto ser ou não ser regenerado
permanece no arbítrio do homem.
Refutação ‑ Isto é nada mais
nada menos que anular todo o poder da graça de Deus em nossa conversão e
sujeitar a operação do Deus Todo‑Poderoso à vontade do homem. É contrário ao
que os apóstolos ensinam: cremos ... segundo a eficácia do força do seu poder..
(Ef 1. 19), e ... para que nosso Deus cumpra... com poder todo propósito de
bondade e obra de fé... (2 Ts 1. 11), e também ... pelo seu divino poder nos
têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade... (2 Pe 1.3).
Erro 9 ‑ Graça e livre
vontade são as causas parciais que operam juntas no início da conversão. Pela
ordem destas causas a graça não precede à operação da vontade do homem. Deus
não ajuda efetivamente a vontade do homem para sua conversão, enquanto a
própria vontade do homem não se move e decide se converter.
Refutação ‑ A Igreja Antiga
há muito tempo já condenou esta doutrina dos Pelagianos*, de acordo com a
palavra do apóstolo: Assim, pois, não depende de quem quer, ou de quem corre,
mas de usar Deus a sua misericórdia (Rm 9.16). Também: Pois quem é que te faz sobressair?
E que tens tu que não tenhas recebido? (1 Cor 4.7). E ainda: ... porque Deus é
quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade
(Fp 2.13).
A
PERSEVERANÇA DOS SANTOS
Artigo
1 ‑ O regenerado não está livre do seu pecado
Aqueles que, de
acordo com o seu propósito, Deus chama à comunhão do seu Filho, nosso Senhor
Jesus Cristo, e regenera pelo seu Santo Espírito, ele certamente os livra do
domínio e da escravidão do pecado. Mas nesta vida, ele não os livra totalmente
da carne e do corpo de pecado (Rm 7.24).
Artigo
2 ‑ Pecados diários de fraqueza
Portanto, pecados
diários de fraqueza surgem e até as melhores obras dos santos são imperfeitas.
Estes são para
eles constante motivo para humilhar‑se perante Deus e refugiar‑se no Cristo
crucificado. Também são motivo para mais e mais mortificar a carne através do
espírito de oração e através dos Santos exercícios de piedade, e ansiar pela
meta da perfeição. Eles fazem isto até que possam reinar com o Cordeiro de Deus
nos céus, finalmente livres deste corpo de morte.
Artigo
3 ‑ Deus preserva os seus
Por causa dos seus
pecados remanescentes e também por causa das tentações do mundo e de Satanás,
aqueles que têm sido convertidos não poderiam perseverar nesta graça se
deixados ao cuidado de suas próprias forças. Mas Deus é fiei: misericordiosamente
os confirma na graça, uma vez conferida eles, e poderosamente os preserva [na
sua graça] até o fim.
Artigo
4 ‑ Os santos podem cair em pecados sérios
O poder de Deus,
pelo qual ele confirma e preserva os verdadeiros crentes na graça, é tão grande
que isto não pode ser vencido pela carne. Mas os convertidos nem sempre são
guiados e movidos por Deus, e assim eles poderiam, em certos casos, por sua
própria culpa, desviar‑se da direção da graça e ser seduzidos pelos desejos da
carne e segui‑los. Devem, portanto, vigiar constantemente e orar para que não
caiam em tentação. Quando não vigiarem e orarem, eles podem ser levados pela
carne, pelo mundo e por Satanás para sérios e horríveis pecados. Isto ocorre
também muitas vezes pela justa permissão de Deus. A lamentável queda de Davi,
Pedro e outros santos, descrita na Sagrada Escritura, demonstra isso.
Artigo
5 ‑ Os efeitos de tais pecados sérios
Por tais pecados
grosseiros, entretanto, eles causam a ira de Deus, se tornam culpados de morte,
entristecem o Espírito Santo, suspendem o exercício da fé, ferem profundamente
suas consciências e algumas vezes perdem temporariamente a sensação da graça.
Mas quando retornam ao reto caminho por meio de arrependimento sincero, logo a
face paternal de Deus brilha novamente sobre eles.
Artigo
6 ‑ Deus não permite que seus eleitos se percam
Pois Deus, que é
rico em misericórdia, de acordo com o imutável propósito da eleição, não retira
completamente o seu Espírito dos seus, mesmo em sua deplorável queda. Nem
tampouco permite que venham a cair tanto que recaiam da graça da adoção e do
estado de justificados. Nem permite que cometam o pecado que leva à morte, isto
é, o pecado contra o Espírito Santo e assim sejam totalmente abandonados por
ele, lançando‑se na perdiçao eterna.
Artigo
7 ‑ Deus quer renovar os eleitos para arrependimento
Pois, em primeiro
lugar, em tal queda, Deus preserva neles sua Imperecível semente da regeneração,
a fim de que esta não pereça nem seja lançada fora. Além disso, através da sua
Palavra e de seu Espírito, ele certamente os renova efetivamente para
arrependimento. Como resultado eles se afligem de coração, entristecendo‑se com
Deus pelos pecados que têm cometido; procuram e obtêm pela fé, com coração
contríto, o perdão pelo sangue do Mediador; e experimentam novamente a graça de
Deus, que se reconcilia com eles que, através da fé adoram sua misericórdia. E
aí em diante eles se empenham mais diligentemente pela sua salvação com temor e
tremor.
Artigo
8 ‑ A graça do trino Deus preserva
Assim, não é por
seus próprios méritos ou força, mas pela imerecida misericórdia de Deus que
eles não caem totalmente da fé e da graça e nem permanecem caldos ou se perdem
definitivamente. Quanto a eles, isto facilmente poderia acontecer e aconteceria
sem dúvida. Quanto a Deus, porém, isto não pode acontecer de modo nenhum. Pois
seu decreto não pode ser mudado, sua promessa não pode ser quebrada, seu
chamado em acordo com seu propósito não pode ser revogado. Nem o mérito, a
intercessão ou a preservação de Cristo podem ser invalidados, e a selagem do
Espírito tampouco pode ser frustada ou destrulda.
Artigo
9 ‑ A certeza desta preservação
Os crentes podem
estar certos e estão certos dessa preservação dos eleitos para a salvação e da
perseverança dos verdadeiros crentes na fé. Esta certeza ocorre de acordo com a
medida de sua fé, pela qual eles crêem que são e permanecerão verdadeiros e
vivos membros da Igreja, e que têm o perdão dos pecados e a vida eterna.
Artigo
10 ‑ 0 fundamento desta certeza
Esta certeza não
vem de uma revelação especial, sem a Palavra ou fora dela, mas vem da fé nas
promessas de Deus, que ele revelou abundantemente em sua Palavra para nossa
consolação; vem também do testemunho do Espírito Santo, testificando com o
nosso espírito que somos filhos e herdeiros de Deus; e, finalmente, vem do zelo
sério e santo por uma boa consciência e por boas obras. E se os eleitos não
tivessem neste mundo a sólida consolação de obter a vitória e esta garantia
infalível da glória eterna, seriam os mais miseráveis de todos os homens (Rm
8.16,17).
Artigo
11 ‑ Esta certeza nem sempre é sentida
No entanto, a
Escritura testifica que os crentes nesta vida têm de lutar contra várias
dúvidas da carne e, sujeitos a graves tentações, nem sempre sentem plenamente
esta confiança da fé e certeza da perseverança. Mas Deus, que é Pai de toda a
consolação, não os deixa ser tentados além de suas forças, mas com a tentação
proverá também o livramento e pelo Espírito Santo novamente revive neles a
certeza da perseverança (lCo 10.13).
Artigo
12 ‑ Esta certeza não leva à acomodação
Entretanto, esta
certeza de perseverança não faz de maneira nenhuma com que os verdadeiros
crentes se orgulhem e se acomodem. Ao contrário, ela é a verdadeira raiz da
humildade, reverência filial, verdadeira piedade, paciência em toda luta,
orações fervorosas, firmeza em carregar a cruz e confessar a verdade e alegria
sólida em Deus. Além do mais, a reflexão deste benefício é para eles um
estímulo para praticar séria e constantemente a gratidão e as boas obras, como
é evidente nos testemunhos da Escritura e nos exemplos dos santos.
Artigo
13 ‑ Esta certeza produz diligência
Quando pessoas são
levantadas de uma queda (no pecado) começam a reviver a confiança na
perseverança. Isto não produz descuido ou negligência na piedade delas. Em vez
disto produz maior cuidado e diligência para guardar os caminhos do Senhor, já
preparados, para que, andando neles, possam preservar a certeza da
perseverança. Quando fazem isto, o Deus reconciliado não retira de novo sua
face delas por causa do abuso da sua bondade paternal (a contemplação dela é
para os piedosos mais doce que a vida e sua retirada mais amarga que a morte),
e elas não cairão em tormentos mais graves da alma (Ef 2. 10).
Artigo
14 ‑ Incluído o uso de meios
Tal como agradou a
Deus iniciar sua obra da graça em nós pela pregação do evangelho, assim ele a
mantém, continua e aperfeiçoa pelo ouvir e ler do Evangelho, pelo meditar nele,
pelas suas exortações, ameaças e promessas, e pelo uso dos sacramentos.
Artigo
15 ‑ Este doutrina é odiado por Satanás mos amado pela Igreja
Deus
revelou abundantemente em sua Palavra esta doutrina da perseverança dos
verdadeiros crentes e santos e da certeza dela para a glória do seu Nome e para
a consolação dos piedosos. Ele a imprime nos corações dos crentes, mas a carne
não pode entendê-la. Satanás a odeia, o mundo zomba dela, os ignorantes e
hipócritas dela abusam, e os heréticos a ela se opõem. A Noiva de Cristo,
entretanto, sempre tem‑na amado ternamente e defendido constantemente como um
tesouro de inestimável valor. Deus, contra quem nenhum plano pode se valer e
nenhuma força pode prevalecer, cuidará para que a Igreja possa continuar fazendo
isso. Ao único Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, sejam a honra e a glória para
sempre. Amém!
REJEIÇÃO
DE ERROS
Tendo explicado a
doutrina ortodoxa, o Sínodo rejeita os seguintes erros:
Erro 1 ‑ A perseverança
dos verdadeiros crentes não é resultado da eleição ou um dom de Deus obtido
pela morte de Cristo. É uma condição da nova aliança, que o homem deve cumprir
pela sua livre vontade antes da assim chamada eleição decisiva e justificação.
Refutação ‑ A Escritura
Sagrada testifica que a perseverança provém da eleição e é dada aos eleitos
pelo poder da morte, ressurreição e intercessão de Cristo: a eleição o
alcançou; e os mais foram endurecidos... (Rm 11.7). Também: Aquele que não
poupou a seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura não nos
dará graciosamente com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os
eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo quem
morreu, ou antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus, e também
intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? (Rm 8.32, 35).
Erro 2 ‑ Deus de fato
provê os crentes de suficientes forças para perseverar e está pronto para
preservar tais forças neles, se estes cumprirem seu dever; mas ainda que todas
estas coisas tenham sido estabelecidas como necessárias para perseverar na fé e
que Deus as use para preservar a fé, ainda assim dependerá da vontade humana
perseverar ou não.
Refutação ‑ Esta idéia é
abertamente pelagiana*. Enquanto deseja libertar o homem, o faz usurpador da
honra de Deus. Combate o consenso geral da doutrina evangélica que retira do
homem todo motivo de orgulho e atribui todo louvor por este benefício somente à
graça de Deus.
É também contrário
ao apóstolo que declara: ...o qual também vos confirmará até.ao fim, para serdes
irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo (1 Cor 1.8).
Erro 3 ‑ Crentes
verdadeiramente regenerados não só podem perder completa e definitivamente a fé
justificadora, a graça e a salvação, mas de fato as perdem freqüentemente e
assim se perdem eternamente.
Refutação ‑ Esta opinião
invalida a graça, a justificação, a regeneração e contínua preservação por
Cristo. Ela écontrária às palavras expressas do apóstolo Paulo: Mas Deus prova
o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo
nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu
sangue, seremos por ele salvos da ira (Rm 5.8,9).
É contrária ao
apóstolo João: Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prático do pecado;
pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando
porque é nascido de Deus (1 Jo 3.9). Também é contrária às palavras de Jesus
Cristo: Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, eternamente, e ninguém as
arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da
mão do Pai ninguém pode arrebatar (Jo 10.28, 29).
Erro 4 ‑ Verdadeiros
crentes regenerados podem cometer o pecado que leva à morte, ou o pecado contra
o Espírito Santo.
Refutação ‑ Após o apóstolo
João ter falado no 5º. capítulo de sua primeira carta, versos 16 e 17, sobre
aqueles que pecam para a morte e de ter proibido de orar por eles, logo
acrescenta no verso 18: “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive
em pecado, antes, aquele que nasceu de Deus o guarda, e o maligno não o toca”.
Erro 5 ‑ Sem uma revelação
especial não podemos ter nesta vida nenhuma certeza da perseverança futura.
Refutação ‑ Por tal doutrina
o seguro consolo dos crentes verdadeiros nesta vida é tirado, e as dúvidas dos
seguidores do papa são novamente introduzidas na igreja. As Escrituras
Sagradas, entretanto, sempre deduzem esta segurança, não a partir de uma
revelação especial e extraordinária, mas a partir das marcas dos Mos de Deus e
das promessas mui firmes dele. Especialmente o apóstolo Paulo ensina isto: ‑ nem
qualquer outra criatura poderá separar‑nos do amor de Deus que há em Cristo
Jesus, nosso Senhor (Rm 8:39). E João escreve: E aquele que guarda os seus mandamentos
permanece em Deus, e Deus nele. E nisto conhecemos que ele permanece em nós,
pelo Espírito que nos deu (1 Jo 3.24).
Erro 6 ‑ Por sua própria
natureza a doutrina da certeza da perseverança e da salvação causa falsa
segurança e prejudica a piedade, os bons costumes, orações e outros santos
exercícios. Ao contrário, é louvável duvidar desta certeza.
Refutação ‑ Esta falsa
doutrina ignora o efetivo poder da graça de Deus e a atuação do Santo Espírito,
que habita em nós. Contradiz o apóstolo João que, em palavras explícitas,
ensina o contrário: Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se
manifestou o que havemos de ser Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos
semelhantes a ele, porque havemos de vê‑lo como ele é. E a si mesmo se purifica
todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro (1 Jo 12,3). Ainda
mais, ela é refutada pelos exemplos dos santos tanto no Antigo como no Novo
Testamento que, não obstante estarem certos de sua perseverança e salvação,
continuaram em oração e outros exercícios de piedade.
Erro 7 ‑ A fé daqueles que
crêem apenas por um tempo não é diferente da fé justificadora e salvadora, a
não ser com respeito à sua duração.
Refutação ‑ Em Mateus 13.20‑23
e Lucas 8.13‑15 Cristo mesmo indica claramente, além da duração, uma tríplice
diferença entre os que crêem só por um tempo e os verdadeiros crentes. Ele declara
que o primeiro recebe a semente em terra rochosa, mas o último em bom solo, ou
seja, em bom coração; que o primeiro é sem raiz, mas o último tem firme raiz;
que o primeiro não tem fruto, mas o último produz fruto em várias medidas,
constante e perseverantemente.
Erro 8 ‑ Não é absurdo o
fato de alguém, tendo perdido sua primeira regeneração, nascer de novo e mesmo
freqüentemente nascer de novo.
Refutação ‑ Esta doutrina
nega que a semente de Deus, pela qual somos nascidos de novo, seja
incorruptível. Isto é contrário ao testemunho do apóstolo Pedro: ... pois
fostes regenerados, não de semente corruptível, mas de incorruptível... (lPe
1.23).
Erro 9 ‑ Cristo em lugar
algum orou para que os crentes perseverassem infalivelmente na fé.
Refutação ‑ Isto contradiz ao
próprio Cristo, que disse: Eu, porém, roguei por ti (Pedro) para que a tua fé
não desfaleça (Lc 22.32). Também contradiz o apóstolo João que declara que
Cristo não orava somente pelos apóstolos, mas também por todos aque~ les que
viessem a crer por meio da palavra deles: Pai Santo, guar‑ da‑os em teu nome,
que me deste... Não peço que os tires do mundo; e sim, que os guardes do mal
(Jo 17.11,15).
Esta é a
declaração clara, simples e sincera da doutrina ortodoxa com respeito aos Cinco
Artigos da Fé disputados na Holanda; e esta é a rejeição dos erros pelos quais
as Igrejas têm sido perturbadas, por algum tempo. O Sínodo de Dort julga
estarem as presentes declarações e rejeições de acordo com a Palavra de Deus e
com a confissão das Igrejas Reformadas. Assim torna‑se evidente que alguns
agiram muito imprópria e contrariamente a toda verdade, eqüidade e amor, desejando
persuadir o povo do seguinte:
‑ A doutrina das
Igrejas Reformadas no tocante à predestinação e aos demais pontos relacionados
a ela, por seu caráter e tendência, desvia os corações dos homens da verdadeira
religião.
‑ Ela é um ópio
diabólico para a carne, bem como fortaleza para Satanás, onde este permanece à
espera de todos, fere multidões, atingindo mortalmente a muitos com os dardos
tanto do desespero quanto da falsa segurança.
‑ Faz de Deus o
autor injusto do pecado, um tirano e hipócrita; é nada mais do que renovados Estoicismo*,
Maniqueísmo*, Libertinismo*
e Islamismo*.
‑ Conduz a um
pecaminoso descuido porque faz as pessoas crerem que nada pode impedir a
salvação dos eleitos, não importando como vivam e que, portanto, podem
tranqüilamente cometer os crimes mais horríveis. Por outro lado, se os reprovados
tivessem produzido todas as obras dos santos, isto não poderia nem ao menos
contribuir para a salvação deles.
‑ A mesma doutrina
ensina que Deus tem predestinado e criado a maior parte da humanidade para a
condenação eterna só por um ato arbitrário de sua vontade sem levar em conta
qualquer pecado.
‑ Da mesma maneira
pela qual a eleição é a fonte e a causa da fé e das boas obras, a reprovação é
a causa da incredulidade e da impiedade.
Muitos filhos
inocentes de pais crentes são arrancados do seio de suas mães e tiranicamente
lançados no inferno, de tal modo que nem o sangue de Cristo, nem o batismo, nem
as orações da Igreja no ato do batismo lhes podem ser proveitosos.
Há muitas outras
coisas semelhantes que as Igrejas Reformadas não apenas não confessam mas
também repelem de todo o coração.
Portanto, este
Sínodo de Dort conclama em nome do Senhor a todos os que piedosamente invocam o
nosso Salvador Jesus Cristo, que não julguem a fé das Igrejas Reformadas a
partir das calúnias juntadas daqui e dali, nem tampouco a partir de declarações
pessoais de alguns professores, modernos ou antigos, que muitas vezes são
citadas em má fé, distorcídas e explicadas de forma oposta ao seu sentido real.
Pelo contrário,
deve‑se julgar a fé das Igrejas Reformadas pelas Confissões públicas destas
Igrejas e pela presente declaração da doutrina ortodoxa, confirmada pelo
consenso unânime de cada um dos membros de todo o Sínodo.
Além do mais, o
Sínodo adverte os caluniosos para que considerem o severo julgamento de Deus
que os aguarda, por darem falso testemunho contra tantas igrejas e contra as
Confissões delas, por conturbar a consciência dos fracos e por tentar colocar
sob suspeita, aos olhos de muitos, a comunidade dos verdadeiros crentes.
Finalmente, este
Sínodo exorta todos os conversos ao evangelho de Cristo a comportar‑se em santo
temor e piedade diante de Deus quando lidarem com esta doutrina em escolas e
igrejas.
Ao
ensiná‑la, tanto pela palavra falada quanto escrita, devem procurar a glória de
Deus, a santidade de vida e a consolação das almas aflitas. Seus pensamentos e
palavras sobre a doutrina devem estar em concordância com a escritura, de
acordo com a analogia. da fé. E devem abster‑se de usar qualquer frase que
exceda os limites prescritos pelo genuíno sentido das Escrituras Sagradas para
não dar aos frívolos sofistas* boas oportunidades para atacar ou caluniar a
doutrina das Igrejas Reformadas.
Que o Senhor Jesus
Cristo, o Filho de Deus, o qual está sentado à direita do Pai e envia seus dons
aos homens, nos santifique na verdade. Que ele traga à verdade os que se
desviaram dela., cale a boca dos caluniosos da sã doutrina e equipe os
ministros fiéis da sua Palavra com o Espírito de sabedoria e discrição, para
que tudo que falem possa ser para a glória de Deus e a edificação dos ouvintes.
Amém.
GLOSSÁRIO
Este glossário
pretende explicar alguns termos difíceis e nomes; pouco conhecidos que se encontram
no texto dos Cânones de Dort.
Arminianos,
Leia
na introdução aos Cinco Artigos, à página 8.
O
termo designa um grupo de filósofos gregos e romanos antigos que cultivavam o
ideal do homem impassível diante da dor e da adversidade. A conclusão dos
Cinco Artigos de Fé se refere a este termo porque os adversários da doutrina reformada
diziam, na época, que ela faz de Deus um ser impassível e sem emoções, o que
seria, de fato, um renovado Estoicismo. Mas os Cinco Artigos mostram
justamente o grande amor de Deus em sua eleição soberana e graciosa.
Inato
Indica
algo que nasce com a pessoa ou que pertence à natureza do homem. Por exemplo: É
ina to ao homem fazer perguntas. A doutrina arminiana ensina que o homem ainda
tem um livre poder inato de escolher o bem (Cap. 3/4, Rejeição de erros, Erro
3). Os Cinco Artigos de Fé sobre o arminianismo ensinam que o homem, estando
morto em seus pecados, não tem mais tal poder inato (Cf. Ef 2. 1).
A Conclusão dos Cinco Artigos de Fé menciona esta designação da religião fundada por
Maomé, na Arábia. Esta religião se chama
também "muçulmana". Uma característica desta religião é seu fatalismo: o homem é nada mais que um pedaço
de pau nas mãos de Alá (o "deus" do islamismo).
A
vontade de Alá mata a vontade do homem. Na época do Sínodo de Dort, os
adversários da doutrina reformada diziam que ela faz de Deus um tirano injusto,
igual ao "deus" do islamismo. Mas os Cinco Artigos mostram que a
doutrina reformada não tem nada a ver com fatalismo muçulmano porque o espírito
de Deus renova a vontade do Homem. A vontade do homem pecador e de fato morta,
mas pela graça de Deus o crente tem uma vontade viva, disposta a cumprir a
vontade de Deus.
Este
termo designa um tipo de pensamento e comportamento que não permite regras morais
fixas. A Conclusão dos Cinco Artigos de Fé se refere a este termo porque o
Sínodo de Dort era acusado de fazer de Deus um hipócrita sem moralidade,
elegendo e não elegendo sem norma alguma. Mas a doutrina reformada confessa que
Deus é totalmente justo em todos os seus decretos.
A
Conclusão dos Cinco Artigos usa esta designação da doutrina do persa Mani
(séc.III) sobre a qual se criou uma seita religiosa. Ela ensina que o universo
foi criado e é dominado por dois princípios opostos: o bem e o mal. Os
adversários da doutrina reformada achavam que ela mantinha crença em duas
forças, a do bem (eleição) e a do mal (reprovação). Mas não há duas forças
iguais: Deus, embora não seja o autor do pecado, domina o pecado e o mal.
Pelagianismo,
Pelagiano
Encontramos
estes termos várias vezes no texto dos Cinco Artigos.
O pelagianismo tem sua origem nos fins do século IV com o ensinamento de
Pelágio, um britânico que foi professor em Roma e em Jerusalém. Pelágio era o
grande adversário de Agostinho e enfatizava que o homem é capaz de dar os
primeiros passos em direção à salvação mediante os seus próprios esforços, fora
e antes da graça especial de Deus. Pelágio só podia ensinar isto negando a
depravação total do homem e acreditando no livre arbítrio do homem.
Consideramos pelagiana toda doutrina que segue esta linha de pensamento. No
fundo, a doutrina arminiana é também pelagiana.
Trata‑se
do decreto justo de Deus pelo qual ele decidiu não salvar um deterninado número
de pessoas, deixando‑as na miséria de seus pecados em que elas se lançaram por
culpa própria. Leia também a explicação no artigo 15 do capítulo 1.
Fausto
Socino (1539‑1604) nasceu na Itália mas trabalhou a segunda parte da sua vida
na Polônia. Ele era um teólogo com muitas idéias heréticas. Ele pertencia aos unitaristas que negam a
doutrina da trindade. Os Cinco Artigos de Fé (Cap. 2, Refutação do Erro 4) se
referem a ele por causa da sua falsa doutrina de que o homem é justifica do
perante Deus por arrependimento e boas obras.
Literalmente,
"sábios"; mas Os Cinco Artigos de Fé, em sua Conclusão, se referem a
pessoas tão hábeis em argumentar que, mesmo com falsos argumentos, são capazes
de convencer e enganar as pessoas.
Um
testamento é um documento pessoal que contém declarações de última vontade, por
exemplo, sobre o patrimônio. Fundamental para um testamento é que ele só entre
em vigor com a morte da pessoa que o fez. Assim fala também Hebreus 9.15‑17 se
referindo à morte de Cristo. Com a morte de Cristo entrou em vigor o testamento
dele, ou seja, a nova aliança. Este vigor ou efeito real da morte de Cristo era
negado pelos arminianos. Veja Cap. 2, Refutação do Erro 2 dos Cinco Artigos da
Fé.
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