Onde Estão os Reformadores?
Autor: Geoffrey Thomas
É
muito difícil não estar preocupado a respeito do estado das igrejas evangélicas
hoje. Não é nem tanto pela abundância de erros; isto já é sério o suficiente.
Mas, o que é tão sério quanto isto e mais preocupante é que o espírito de
reforma nos deixou. Onde estão os reformadores? Em vão nós procuramos por eles.
A ausência deles é uma das maiores evidências do fato de que nós vivemos em
dias de declínio espiritual.
Como
é que vamos reconhecer um verdadeiro reformador? Não será por causa de algum “plano
de reforma” que ele irá publicar. Nenhum verdadeiro reformador das gerações passadas
jamais anunciou algum “programa”, “estratégia”, ou “década de reforma”. Cada um
simplesmente foi fiel às Escrituras e através da sua fidelidade a Reforma veio.
Quando Lutero afixou as suas 95 teses na porta da igreja ele não sabia que
estava preparando o caminho para a Reforma. Ele estava simplesmente sendo fiel
às Escrituras. Quando William Tyndale decidiu traduzir a Bíblia para o inglês,
a qualquer custo, ele não estava ciente de que estava preparando o fundamento
para o nascimento do Puritanismo na Inglaterra. Quando Thomas Chalmers lutou
contra o modernismo e contra o patrocínio de ministros e exigia o direito da
congregação escolher o seu próprio ministro e a resistir os líderes que fossem
forçados a assumir o púlpito, e quando ele protestou contra todas as tentativas
do Parlamento ou dos Tribunais de inferência nos assuntos espirituais ou
eclesiásticos, ele não sabia que isto iria resultar no chamado hoje de Disruption (Ruptura).
Estes
reformadores da igreja estavam apenas imitando o exemplo do próprio Salvador,
que simplesmente pregava de maneira fiel
às Escrituras. Jesus apontou os erros da igreja nos seus dias, e foi rejeitado
por causa da sua fidelidade. É assim que sempre será aqui na terra. A reforma
não requer conferências especiais, especialistas caros, muito investimento em
propaganda; na verdade, se qualquer pessoa que poderia vir a ser um reformador
passasse a gastar tempo e investir nestes planos, eles não estariam mais agindo
no espírito da reforma e seriam julgados por isso.
Quando
pensamos a respeito do trabalho dos reformadores da igreja, jamais devemos
olhar para as pessoas apenas. O livro escrito por Lucas deveria ser conhecido
como “Os Atos de Cristo Ressurreto”, ao invés de Atos dos Apóstolos. A Reforma
da Igreja sempre é um trabalho soberano do Senhor. Qualquer reforma que
realmente mereça este nome é inteiramente o trabalho de Deus e não o fruto de
uma ação ou pessoa qualquer.
A
Bíblia nos diz que “O Espírito do Senhor revestiu Gideão” em Jz.6:34. Isto não
quer dizer que Gideão se ergueu imediatamente e entrou em ação, que ele de
súbito jogou fora a preguiça e a sensação de derrota, e que o desejo de batalha
o encheu, fazendo com que ele pegasse nas armas para lutar. Se isto fosse
verdade, nós não estaríamos lendo a história dos Atos de Gideão, mesmo se o
Espírito tivesse dado o primeiro impulso ou a primeira fagulha de ação. O que
nós lemos é que “O Espírito do Senhor REVESTIU a Gideão”. Estas belas palavras
significam literalmente que o Espírito do Senhor revestiu a Gideão. Esta é a palavra
usada quando o homem coloca sua roupa de trabalho para ir trabalhar. O soldador
protege o seu rosto da solda, se reveste com óculos de proteção, o ferreiro
coloca o seu avental de couro, revestindo o seu corpo de proteção, o piloto
coloca sua jaqueta de vôo e está pronto para ir trabalhar. Mas ninguém é tão
ingênuo que possa pensar que a roupa é quem capacita para o trabalho, mas sim,
o trabalhador resvestido, é quem faz o trabalho. A Bíblia nos diz que o
Espírito do Senhor revestiu Gideão, e este autor compreende que naquele
momento, Gideão era para o Espírito o que o avental de couro é para o ferreiro.
Gideão é apenas a roupa de trabalho - quem faz o trabalho é o Espírito de Deus.
Então quem estava entrando em ação para libertar o povo e elevar o padrão? Era
o Espírito Santo!! O Senhor se levanta para a batalha. O livro de Juizes não é
um conjunto de estórias de grandes feitos de algumas pessoas exemplares; é o
resultado dos poderosos feitos de Jeová. Olhe a vida subsequente de Gideão e
irá encontrar um homem que cai. O que ele fez foi unicamente por intermédio de
Deus, em um período de reavivamento.
Se
a Reforma da Igreja não for vista desta maneira, nós ficaremos tão atarefados,
estudando fatos e pessoas que participaram de eventos no passado. Sempre que
existe um declínio na igreja e a acomodação domina, algumas pessoas ficam
preocupadas e começam a reclamar do que está acontecendo. Eles dizem, “Sim, temos
uma doença aqui, mas você não vai desertar da sua mãe doente!” Estas pessoas
dão uma aparência de responsabilidade e gentileza, mas o diagnóstico delas está
errado. As igrejas em declínio não são mães doentes; elas são médicos ruins dando
veneno às mães e pais e crianças que foram colocadas sob os seus cuidados.
Também
existiram pastores preocupados, trabalhando nas igrejas durante o tempo da Reforma.
Este foi o caso, por exemplo, no País de Gales. Uns 200 anos foram necessários
para que as verdades da Bíblia fossem aceitas pela maioria dos cristãos daquele
principado. Como se explica isso? Era porque muitos pastores diziam às suas
congregações que estavam preocupados com o estado da igreja, até falavam das mensagens
da Bíblia, mas não entravam em ação. Eles acalmavam o povo com expressões de
preocupação, mas a igreja local permanecia exatamente onde estava. Não foi
transformada aquela comunidade até que a Palavra foi vigorosamente aplicada na
vida daquele povo, e assim, dois séculos mais tarde eles passaram a viver e
praticar o que o Novo Testamento ensinava. A oportunidade foi perdida na época,
e só foi aproveitada 4 ou 5 gerações mais tarde.
Isto
é o que acontece freqüentemente hoje, ministros e pastores falam dos erros
existentes em suas denominações, e muitos diáconos ou presbíteros o apoiam, mas
a “mamãe está doente”, e nada é feito. Eles expressam a sua preocupação,
permanecem “fiéis” e “evangélicos”; tomam conta do seu próprio púlpito e não
fazem nada a respeito do que está sendo dito nos outros púlpitos da mesma
região e denominação. Eles cooperam com todos os homens em campanhas
evangelísticas e a sua estratégia alegra os moderados perfeitamente, assim, a
moderação prevalece. Traição ao Evangelho está prevalecendo e eles pensam que podem
trabalhar para reformar oferecendo o seu tempo. Tentam ir mudando os médicos
que envenenam o povo gradualmente, até que os evangélicos como eles sejam
maioria. Então elas começam por submeter-se e dialogar com os “envenenadores”,
e assim fazem parte deste mal que assola a igreja. Querem preparar toda a
estratégia da reforma com as próprias mãos. Eles irão determinar um plano para
si mesmos. Assim eles irão assumir a posição que o Espírito reservou só para
Si.
A
reforma genuína não tem nada a ver com as estratégias e planos humanos. As
pessoas “bem intencionadas” estão capengando e tentando fazer um pouco neste
momento para tentar deter o movimento das denominações históricas, buscando uma
união com a Igreja Católica Romana, e os modernistas são exatamente este tipo
de reformadores. Eles estão fazendo algo, não com convicção, mas com a sensação
de que existem muitos homens mais capazes do que eles; na verdade estes homens
não estão fazendo nada.
O
caminho usado pelo Senhor para levar os reformadores da Sua Igreja pertence só
a Ele. Os homens são instrumentos cegos, o mero avental de couro que o Espírito
Santo veste quando vai entrar em ação. Eles são soldados, não sabem de todo o
plano da batalha. Eles não são diplomatas ou estrategistas que decidem onde e
como irão se posicionar estrategicamente. Este tipo de estratégia é totalmente
errada, quando se trata da Igreja do Nosso Senhor.
Existe
uma coisa que nós sabemos a respeito dos reformadores. Eles não são compreendidos
e são mal interpretados e julgados pelos seus contemporâneos. Você deve ler o
que os opositores de Spurgeon escreveram a respeito da sua pessoas e do seu
caráter. Neste obituário escrito no THE TIMES, Joseph Parker foi gentil quando
escreveu o resumo da vida de Spurgeon desta forma: “O Sr. Spurgeon era totalmente
destituído de benevolência intelectual. Se homens enxergavam as coisas do ponto
de vista dele, eram ortodoxos; se eles viam de qualquer outra maneira eram
heterodoxos, pestilentos e não adequados para ensinar a mente dos alunos
inquisidores. O Sr. Spurgeon era dono de um egotismo (ou vaidade) superlativo;
não do tipo tímido e disfarçado, mas um egotismo adulto, maduro, controlador,
do tipo que toma os assentos mais importantes como se fossem seus por direito.
As ;únicas cores que o Sr. Spurgeon reconhecia eram o preto e o branco”. (The
Time, 03-02-1892).
O
padrão é sempre o mesmo. O reformador é considerado um homem brilhante, mas
solitário. Ele é acusado de pensar que não é compreendido. É desconfiado,
veemente, afiado, absolutista; ele vê corrupção em tudo, podridão, um processo
de subversão; é agressivo, sempre quer tudo à sua maneira; vem de uma minoria
cultural dentro do seu país; nunca compreende as questões; não foi educado ou instruído
no certo; ele é ... velho!! Isso é o que pensam do reformador.
Neste
aspecto, o discípulo não é maior do que o seu Senhor. Cristo foi rejeitado e
odiado, chegou a ser chamado de glutão e tomador de vinho, que sempre estava
cercado de prostitutas e coletores de impostos, que veio do lugar errado, que
desprezava a lei e a virava ao contrário. Ele foi taxado de revolucionário que pregava
a rebelião contra as autoridades eclesiásticas; um que surgiu no palco da vida
pública sem autorização ou competência. Até hoje ainda aparecem novas acusações
contra ELE.
Esta
é a visão que as pessoas têm, por não entenderem que o Espírito Santo usa os
seres humanos, como o trabalhador que veste sua roupa de trabalho, quando Ele
vem reformar a Sua Igreja.
É
este tipo de trabalhador, homens e mulheres que tenham sido revestidos pelo
Espírito Santo, que nós não temos conseguido encontrar hoje. Esta é a mais
triste evidência do nosso declínio espiritual.
Nota
sobre o Autor: Geofrey Thomas é pastor da Igreja Batista Afred Place em Aberystwyth,
País de Gales. Ele também trabalha como Editor Assistente da Banner os Truth e
do The Evangelical Times.(Traduzido por Débora M.G. Gomes)
Artigo
transcrito do Jornal “Os Puritanos” - Ano II, Nº. 4 - (Com Autorização)
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