E. M. Bounds
Orar certo é estar certo, agir certo e viver
certo. Tudo que impede oração impede santidade. Quando tudo que nos impede de
orar certo for removido, o caminho estará aberto para um rápido avanço na vida
espiritual. Se pudéssemos contar, dia por dia, as orações que não alcançam
resultado algum, que não beneficiam o homem, nem influenciam a Deus, ficaríamos
pasmados ao ver os números.
Precisamos de homens e mulheres que possam
alcançar a Deus e receber amplamente das suas reservas inesgotáveis. A igreja é
profundamente afetada pelo materialismo da sua época. Os interesses da terra
excluem os do céu, o tempo eclipsa a eternidade, um ousado e ilusório
humanitarismo destrói a adoração, e a compreensão essencial de Deus é deturpada.
Homens e mulheres que saibam orar, e que possam
projetar Deus e suas divinas instituições na terra com eficiência redentora,
são nossa única saída. A igreja poderá caminhar com triunfo às suas conquistas
finais sem possuir riqueza, tendo que enfrentar pobreza ou desprezo, ou sendo
desacreditada pelo mundo e rejeitada pela cultura e sociedade; mas sem homens e
mulheres que saibam orar, não conseguirá derrotar nem o inimigo mais frágil,
nem ganhar um único troféu para seu Senhor.
Pode fechar seus redutos de aprendizagem, seus
oradores eloqüentes podem ser silenciados para sempre, mas suas orações serão
ainda mais potentes do que seu conhecimento ou eloqüência, e lhe assegurarão as
mais gloriosas conquistas. Ela pode perder tudo, menos a oração da fé, e isto
lhe será mais poderosa do que a vara de Arão para criar agências ou ministérios
eficazes e gerar resultados tremendos. Por trás de um ministério santo e cheio
de zelo e paixão tem de haver oração que prevalece, e que traga consigo um
glorioso Pentecoste.
Pecado Impede Oração
"Se eu no coração contemplara a vaidade,
o Senhor não me teria ouvido" (Salmo 66.18). Os pecados do coração que
não são rejeitados, ou que não estamos lutando para vencer, interrompem a
oração. Oração não pode fluir do coração que nutre ou protege o pecado, que
abriga pecado de qualquer espécie. O pensamento rebelde ou insensato é pecado;
o olhar de cobiça ou lascívia do coração é pecado. Temos de clamar a Deus de um
coração puro.
"Mãos santas" devem ser levantadas em
oração. Uma mancha na mão é tão fatal para impedir a oração quanto o pecado no
coração. A pessoa que ora precisa estar certa no seu coração, mas suas ações
também precisam estar certas. Guardar os mandamentos de Deus e fazer o que lhe
agrada nos dá segurança de que receberemos o que pedirmos dele. Pecados
escondidos, ocultos por parcialidade ou por hábito, retidos por indulgência,
contemporização, ou ignorância deliberada; estas coisas, como o lagarto no
botão ou veneno no sangue, destruirão a flor e a vida da oração.
Orgulho Impede Oração
O orgulho em alguma forma é inerente a todos nós.
Nenhuma criatura tem tantas razões para ser humilde quanto o homem; nenhuma,
possivelmente, possui tantas fontes de orgulho. O orgulho destrói a humildade,
gera vaidade, transfere fé em Deus para fé em si mesmo. Existe no orgulho tal
senso de estar completo em si mesmo que destrói a base da oração. Sua sensação
constante é: "Estou cheio e não preciso de mais nada".
O orgulhoso ora, talvez até regularmente, mas é
oração de fariseu, um desfile do ego, um catálogo de bondade própria. O orgulho
se esconde sob o disfarce de gratidão a Deus, louvando a Deus usando incenso do
altar do ego. O orgulho se manifesta no desfile das nossas obras religiosas, na
exibição de realizações, sejam religiosas ou não.
A oração precisa nascer lá de baixo. O orgulho
procura os lugares mais altos, e nunca pode ser encontrado nos lugares humildes
onde a oração é incubada. As asas da oração devem ser cobertas de pó. O orgulho
despreza o pó da humildade, e cobre suas asas com o brilho e ouro do ego. O
vazio da vaidade, o egoísmo de pensamentos centrados em si mesmo e de conversas
que exaltam a própria pessoa são todos empecilhos à oração, porque declaram a
presença do orgulho. Deus, de acordo com o apóstolo, resiste ao orgulho, e
dispõe todos seus exércitos contra ele.
Um Espírito Que Não Perdoa
Nutrir um espírito que não perdoa impede à
oração. Vingança, retaliação, um espírito inclemente, a ausência de tolerância,
a falta de um espírito de misericórdia plena e total para com todos que tiverem
de qualquer forma ou em qualquer medida nos prejudicado, impede a oração. Não
avançaremos um centímetro enquanto não reconhecermos estes sentimentos e não
pudermos declarar com sinceridade: "Perdoa-me, Deus, da mesma forma como perdôo
aos outros". Quando deixamos de aplicar misericórdia a todos os males que
já foram praticados contra nós, estamos automaticamente condenando nossa
capacidade de orar.
Podemos orar com ira no nosso coração, mas este
tipo de oração torna-se pecado. Todos estão sujeitos diariamente a serem
feridos naquelas áreas onde são mais sensíveis. Porém, ter uma atitude de
vingança ou desafeto para com a pessoa que causou tal ferida, congela a
capacidade de orar. O espírito de perdão é como o espírito do evangelho, e este
espírito precisa reinar no coração antes que a verdadeira oração possa proceder
dos lábios.
Discórdia no Lar
A vida no lar, sua paz e união, afeta a oração.
Discórdia no lar impede a oração. O apóstolo exorta às esposas e aos maridos
para viverem no mais puro amor e mais doce união, para que suas orações não
sejam impedidas. Confusão numa fonte de águas quebra a serenidade da
superfície, e o fluir calmo e pacífico da corrente. Uma discórdia familiar
quebra e separa todos os fios trançados que formam a oração.
Um Espírito Mundano
Um espírito mundano impede a oração. O mundo tem
um efeito mais negativo sobre a oração do que todas as águas poluídas e
infestadas de um brejo teriam sobre a saúde. Obscurece a visão para cima, anula
os impulsos espirituais, e corta as asas das aspirações. "Pedis e não
recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres"
(Tiago 4.3).
Nossas cobiças, como remanescente da mente carnal
que ainda permanece em nós, são o elo que nos prende ao mundo. São a cidadela,
ou as fortalezas de fronteira, das quais nosso inimigo, o mundo, ainda não foi
expulso. Oramos, mas não recebemos porque o mundo dentro de nós corromperia
todas as respostas.
Um coração puro, ou alguém que anseie pela
pureza, é o único que pode ser confiado com respostas à oração. Enquanto nossas
cobiças têm permissão para ficar, contaminam nosso alimento espiritual.
Inspiram e tingem todas nossas orações com desejos mundanos. Para alcançar a
Deus e receber algo dele, é absolutamente imprescindível que se esteja morto
para o mundo. Se quisermos que Deus abra seus ouvidos para nós, precisamos ter
nossos ouvidos fechados para o mundo.
Um coração impregnado, ou contaminado por mínimo
que seja com o mundo, não conseguirá subir em direção a Deus assim como uma águia
com asas quebradas não consegue subir em direção ao sol. O homem que Tiago
descreve como uma onda do mar, impelido e agitado pelo vento (Tg 1.6), é o
homem de espírito mundano, cujas energias espirituais e decisões são quebradas
pelas influências e infusões do mundo. Ele tem ânimo dobre, metade para Deus e
metade para o mundo, ora para o céu, ora para a terra. "Não suponha
esse homem que alcançará do Senhor alguma coisa" (Tiago 1.7).
Falta de santidade, impaciência, ou qualquer
outro espírito, pensamento, sentimento ou ação que não esteja em harmonia com o
Espírito de Deus, impedirá a oração. Uma fé perturbada por dúvidas, ou que
desfalece por cansaço ou fraqueza, não alcançará resultados na oração. Os
elementos que enfraquecem os nervos e músculos espirituais para as grandes
lutas impedirão a oração.
Precisamos de homens e mulheres que vivam onde
todos os empecilhos à oração foram removidos – pessoas cuja visão espiritual
foi inteiramente purificada de névoas, nuvens e escuridão, guerreiros que tem
carta branca de Deus e nervos espirituais firmes para usar esta carta a fim de
suprir cada necessidade espiritual.
Extraído de Prayer and Revival (Oração e
Avivamento) por E. M. Bounds com Darryl King. Copyright 1993 por Baker Book House Company, Grand Rapids , Michigan ,
E.U.A.
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