Rev. Hermisten
Maia Pereira da Costa
INTRODUÇÃO:
A Palavra de Deus demonstra
enfaticamente que a nossa salvação não é um fim em si mesma, antes é o início
da vida cristã, através da qual nos tornamos filhos de Deus e progredimos em
santificação até à consumação de todo propósito de Deus em nossa vida.
Devemos estar atentos para o fato de que a
salvação (justificação, regeneração, união com Cristo), não é a linha de
chegada da vida cristã; antes, é o ponto de partida. D.M. Lloyd-Jones (1899-1981) exorta-nos
quanto a isso:
"Cristianismo
não é você parar na conversão e no conhecimento de que os seus pecados estão
perdoados, e, então, contentar-se com isso pelo resto da vida; cristianismo é
ingressar e desenvolver-se rumo à medida da estatura da plenitude de Cristo.
Precisamos desenvolver nossas mentes e nossas faculdades, se é que desejamos tomar
posse disso. Se nos contentamos com menos que isso, não passamos de crianças em
Cristo, e somos indignos deste glorioso evangelho."[1]
Pedro
nos diz que, segundo o poder de Deus, “nos têm sido doadas todas as cousas
que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos
chamou para a sua própria glória” (2 Pe 1.3).
Em Teologia denominamos essas “cousas que
nos conduzem è piedade”, de meios de graça ou meios de santificação.
Este é o nosso tema, tendo de modo mais específico, a Palavra e a Oração como
meios de graça.
1.
definição de meios de graça:
De forma
genérica, considerando que todas as coisas contribuem para o bem dos eleitos, podemos
dizer que todas as coisas – inclusive as aflições[2] – se constituem
em meios de graça para nós (Rm 8.28/Rm 5.2-3; Tg 1.2-3; 1 Pe 1.6-9).[3] No entanto, a
expressão “meios de graça” tem um sentido mais restrito; vejamos como
isso é interpretado pelos Símbolos de Westminster, adotados pela Igreja
Presbiteriana do Brasil.
No Catecismo
Menor de Westminster, em resposta à pergunta 88,[4] “Quais são
os meios exteriores e ordinários pelos quais Cristo nos comunica as bênçãos da
redenção?”, lemos: “Os meios exteriores e ordinários pelos quais Cristo nos
comunica as bênçãos são as suas ordenanças, especialmente a Palavra, os sacramentos
e a oração, os quais todos se tornam eficazes aos eleitos para a salvação.”
(grifos meus).
Em outras
palavras, podemos dizer que Deus como “causa eficiente da salvação“[5] é Quem nos
comunica, através dos “canais objetivos que Cristo instituiu na igreja”[6] as bênçãos da
salvação para o Seu povo.
Hodge
(1797-1878) faz uma advertência importante: “Por meio de graça não significa
todos os instrumentos que Deus quer usar como meio para a edificação espiritual
de Seus filhos. Esta frase é apropriada para indicar aquelas instituições que
Deus ordenou como canais ordinários da graça, isto é, das influências
sobrenaturais do Espírito Santo, para as almas dos homens.”[7]
2. a palavra como meio de graça:
2.1. Os Símbolos de Westminster:
Como sabemos, a Bíblia não foi registrada apenas para o nosso deleite
espiritual; mas para que cumpramos os seus preceitos, dados pelo próprio
Deus (Dt 29.29; Js 1.8; 2 Tm 3.15,16; Tg
1.22); a Bíblia também não nos foi dada para satisfazer a nossa
curiosidade pecaminosa (Dt 29.29), que em geral ocasiona especulações
esdrúxulas e facções; Ela foi-nos
concedida para que conheçamos o Seu Autor e, O conhecendo O adoremos e, O adorando, mais O conheçamos (Os 6.3; 2
Pe 3.18).[8]A Bíblia foi-nos
confiada a fim de que, mediante a
iluminação do Espírito Santo,[9] sejamos
conduzidos a Jesus Cristo (Jo 5.39/Lc
24.27,44), sendo Ele mesmo Quem nos leva ao Pai (Jo 14.6-15; 1 Tm 2.5; 1 Pe
3.18) e
nos dá vida abundante (Jo 10.10; Cl 3.4). Por isso, "ao estudarmos
Deus, devemos procurar ser conduzidos
a Ele. A revelação nos foi dada com esse propósito e devemos usá-la com
essa finalidade".[10]
A Confissão de Westminster
(1647) tem como pressuposto fundamental:
a) Que as Escrituras são
inspiradas por Deus (CW., I.2,8) – Ele é o seu Autor (CW., I.4);
|
|
b) Tendo Deus as concedido
"para serem a regra de fé e de prática" (CW., I.1-2);
portanto,
|
|
c) Ela é
"indispensável" para a vida cristã (CW., I.1),
devendo ser lida e estudada "no temor de Deus" (CW., I.8).
Por isso, a Igreja deve promover a sua tradução para todos os idiomas, a fim
de que o homem possa, pela Palavra, conhecer a Deus, adorando-O de forma
aceitável, bem como usufruir das bênçãos espirituais decorrentes da
compreensão das Escrituras (CW., I.8).
|
O Catecismo Menor falando sobre a Bíblia como meio de graça,
diz “como a Palavra se torna eficaz para a salvação”, descrevendo isso de forma
objetiva e subjetiva: “Como se deve ler e ouvir a Palavra a fim
de que se torne eficaz para a salvação.”
Catecismo
Menor de Westminster, Perg. 89[11]
|
||
“O
Espírito de Deus torna a leitura, especialmente a pregação da Palavra, meios
eficazes para....
|
a)
Convencer e converter o pecador;
b)
Para o edificar em santidade;
c)
Para o edificar em conforto
|
por
meio da fé
para salvação.
|
Catecismo
Menor de Westminster, Perg. 90[12]
|
|||||
“Para
que a Palavra se torne eficaz para a salvação, devemos ouvi-la com....
|
a)
Diligência;
b)
Preparação;
c)
Oração.
|
a)
Fé;
b)
Amor.
|
Guardá-la
em nossos corações e
|
Praticá-la.
|
2.2. O Crente e a
Palavra:
Durante toda a história
a Palavra de Deus foi alvo dos mais diversos ataques: entre eles, o mais comum
é a suposição de sua falibilidade. No entanto, um ataque mais sutil que também
permeou boa parte da história da Igreja é a concepção, ainda que muitas vezes
velada, de que as Escrituras não são suficientes para nos dirigir e orientar.
Melanchton (1497-1560) e Lutero (1483-1546)
depararam-se explicitamente com esse problema
bem no início da Reforma Protestante. Por volta de 1520, na pequena, porém,
próspera e culta cidade alemã de Zwickau, surgiu um grupo de homens
“iluminados” – chamados por Lutero de “profetas de Zwickau”[13] –, que alegava
ter revelações especiais vindas
diretamente de Deus, entendendo ter sido chamado por Deus para “completar a
Reforma”. A sua religião partia sempre
de uma suposta revelação interior do Espírito.
Acreditavam que o fim dos tempos estava próximo - os ímpio seriam exterminados -, e que por isso, não era
necessário estudar teologia visto que o Espírito estaria inspirando os pobres e
ignorantes. Combatiam também o batismo infantil.
Assim pensando, esses homens diziam: “De que vale aderir assim tão estritamente
à Bíblia? A Bíblia! Sempre a
Bíblia! Poderá a Bíblia nos fazer sermão? Será suficiente para a nossa instrução? Se
Deus tivesse tencionado ensinar-nos, por meio de um livro, não nos teria mandado
do céu, uma Bíblia? Somente pelo Espírito é que poderemos ser iluminados. O
próprio Deus fala dentro de nós. Deus em pessoa nos revela aquilo que devemos
fazer e aquilo que devemos pregar.”[14]
Um certo alfaiate, Nícolas Storck, escolheu
doze apóstolos e setenta e dois discípulos, declarando que finalmente tinham
sido devolvidos à Igreja os profetas e apóstolos.[15] Ele, acompanhado
de Marcos Stübner e Marcos Tomás foi à Wittenberg (27/12/1521)
- que já
enfrentava tumultos liderados por Andreas B. von Carlstadt (c. 1477-1541) e
Gabriel Zwilling (c. 1487-1558) -
, pregar o que considerava ser a verdadeira religião cristã, contribuindo
grandemente para a agitação daquela cidade. Stübner, antigo aluno de
Wittenberg, justamente por ter melhor preparo, foi comissionado a
representá-los. Melanchton que conversou com Stübner, interveio na questão,
ainda que timidamente. Storck, mais inquieto, logo partiu de Wittenberg;
Stübner, no entanto, permaneceu, realizando ali um intenso e eficaz trabalho
proselitista; “era um momento crítico na história do cristianismo.”[16] Comentando os
problemas suscitados pelos “espiritualistas”, o historiador D’aubigné
(1794-1872) conclui: “A Reforma tinha visto surgir do seu próprio seio um inimigo
mais tremendo do que papas e imperadores. Ela estava à beira do abismo.”[17] Daí ouvir-se em
Wittenberg o clamor pelo auxílio de Lutero. E Lutero, consciente da necessidade
de sua volta, abandonou a segurança de Warteburgo retornando à Wittenberg[18] a fim de
colocar a cidade em ordem (1522), o que fez, com firmeza e espírito pastoral.[19] Mais tarde,
Lutero escreveria: “Onde, porém, não se anuncia a Palavra, ali a espiritualidade
será deteriorada.”[20]
Não nos iludamos, essa forma de misticismo
ainda está presente na Igreja e, tem sido extremamente perniciosa para o povo
de Deus, acarretando um desvio espiritual e teológico, deslocando o “eixo
hermenêutico” da Palavra para a
experiência mística, nos afastando assim, da Palavra e, consequentemente, do
Deus da Palavra. O trágico é que justamente aqueles que supõem desfrutarem de
maior “intimidade” com Deus, são os que patrocinam o distanciamento da Palavra
revelada de Deus. Davi enfatiza: “A intimidade do Senhor é para os que o
temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança.” (Sl 25.14) Portanto, a nossa intimidade com Deus
revela-se em nosso apego à Sua Palavra, à Sua aliança. Nesse texto, Calvino faz
uma aplicação bastante contextualizada: “... É uma ímpia e danosa invenção
tentar privar o povo comum das Santas Escrituras, sob o pretexto de serem elas
um mistério oculto, como se todos os que o temem de coração, seja qual for seu
estado e condição em outros aspectos, não fossem expressamente chamados ao
conhecimento da aliança de Deus.”[21]
Nós somos herdeiros dos princípios bíblicos
da Reforma; para nós, como para os Reformadores, a Palavra de Deus é a fonte
autoritativa de Deus para o nosso pensar, crer, sentir e agir: A Palavra de
Deus é-nos suficiente. Sob esta ótica, estudemos o assunto.
Retornemos ao Novo Testamento: Quando
Satanás tentou a Jesus durante os seus quarenta dias de jejum e oração no
deserto, dizendo: "Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se
transformem em pães" (Mt 4.3), Jesus Cristo, recorrendo ao Livro de
Deuteronômio, capítulo 8, verso 3, respondeu: "Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que
procede de Deus” (Mt 4.4). Notemos que esta afirmação torna-se ainda mais
dramática se considerarmos o fato de que Jesus estava à beira da inanição,
sendo induzido a pensar que caso não comesse imediatamente poderia morrer.
Nestas palavras, não temos um contraste
entre o espiritual e o físico, antes; há uma demonstração categórica, feita por
Cristo, de que devemos ter em mente que a nossa sustentação, em todos os sentidos,
provém de Deus; da Sua Palavra, que é o Verbo Criador.
As Escrituras apresentam a Palavra de Deus
como sendo um meio do exercício do Poder de Deus: O mundo foi criado pela
Palavra de Deus (Gn 1), e é sustentado pela Palavra do poder de Cristo. As
Escrituras declaram: "Os céus
por sua palavra se fizeram, e pelo sopro de sua boca o exército deles” (Sl
33.6). "...De longo tempo, houve céus bem como terra, a qual surgiu da
água e através da água pela palavra de Deus” (2 Pe 3.5). "Ele
(Jesus Cristo), que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser,
sustentando todas as cousas pela palavra do seu poder...” (Hb 1.3).
Em nossa vida espiritual, a realidade é a
mesma: Somos sustentados pela Palavra de Deus. "A palavra de Deus é sempre
um ato criador. Ao chamar-nos seus filhos, nos faz comportar como filhos."[22] O mesmo
Espírito que nos regenerou através da Palavra (Tg 1.18; 1 Pe 1.23) – “semente de imortalidade[23]” –, age
mediante esta mesma Palavra, para que vivamos, de fato, como novas criaturas
que somos. A Bíblia é o instrumento eficaz do Espírito, porque ela foi
inspirada pelo Espírito Santo (2 Pe 1.21).[24]
Jesus orou ao Pai para que Ele nos
santificasse na Verdade, que é a Sua Palavra. Meus irmãos, se quisermos crescer
espiritualmente temos de recorrer à Palavra vivificada de Cristo; somente ela
pode nos tornar sábios para a salvação mediante a fé depositada unicamente em
Jesus Cristo (2 Tm 3.15).
O Espírito, que nos santifica, age através
da Sua Palavra e em harmonia com ela; jamais haverá contradição entre uma vida
genuinamente santificada e a Palavra de Deus. Por isso, qualquer avaliação
conscienciosa do significado da santificação deve ser feita à luz da Palavra de
Deus.
Erasmus
Sarcerius (1501-1559) observou que, “quando a Palavra de Deus é negligenciada,
a religião pura e verdadeira colapsa. Quando ela colapsa, ninguém pode, nem
será salvo."[25] De fato, é
impossível haver uma igreja biblicamente viva sem que a Escritura seja o seu
manual de ensino e prática.
A Palavra de Deus é viva e eficaz (Hb 4.12)
e produz frutos (Cl 1.6; 1 Ts 2.13). Fomos salvos pela graça, mediante a fé,
pela instrumentalidade da Palavra, que é o verbo criador de Deus (Rm 10.17; Ef
2.8; 2 Tm 3.15; Tg 1.21/ Tg 1.18). Ela é a Lei de liberdade (Tg 1.25; 2.12).[26]
O
ministério terreno de Cristo consistiu, entre outras coisas, em transmitir a
Palavra de Deus. Na oração sacerdotal, Ele relata: "Eu lhes tenho dado a Tua Palavra...”
(Jo 17.14). E, nesta mesma oração, Jesus declara o que distingue os Seus do
mundo: receber – envolvendo o crer e o praticar – e transmitir a Palavra de
Deus: “Manifestei o Teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram Teus, Tu
mos confiaste, e eles têm guardado a Tua Palavra (...). Eu lhes tenho
transmitido as palavras que me deste e eles as receberam e verdadeiramente conheceram
que saí de Ti, e creram que Tu me enviaste (...). Eu lhes tenho dado a Tua
Palavra, e o mundo os odiou, porque eles
não são do mundo, como também eu não sou” (Jo 17.6.8,14).
Paulo rende graças a Deus porque a mensagem
do Evangelho foi recebida pelos tessalonicenses: "Outra razão ainda
temos nós para incessantemente dar graças a Deus: é que, tendo vós recebido a
palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como palavra de
homens, e, sim, como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está
operando eficazmente em vós, os que credes” (1 Ts 2.13).
1)
Devemos meditar nas Escrituras:
Meditar tem o sentido de considerá-la em
nossas decisões, refletir sobre os seus ensinamentos. A palavra
"meditar", em sua origem latina, significa, entre outras coisas, "preparar
para a ação”. Desta forma, a meditação não tem um fim em si mesma, mas,
sim, visa conduzir o nosso agir e o nosso realizar.[27]
Deus,
orientando a Josué no comando do povo de Israel, diz: "Não cesses de
falar deste livro da lei; antes medita nele dia e noite...” (Js 1.8). O
Salmista, descrevendo o comportamento dos justos: "...O seu prazer está
na lei do Senhor, e na Sua Lei medita de dia e de noite” (Sl 1.2). O
Salmista narrando a sua prática prazerosa, diz: "Meditarei nos teus
preceitos, e às tuas veredas terei respeito” (Sl 119.15). "Quanto
amo a Tua lei! É a minha meditação todo o dia” (Sl 119.97. Vd. Sl
119.27,48,78, 99,148). Calvino (1509-1564) comentando o salmo 1, escreve: “....
só são dignos estudantes da lei aqueles que se achegam a ela com uma mente
disposta e se deleitam com suas instruções, não considerando nada mais
desejável e delicioso do que extrair dela o genuíno progresso. Desse amor pela
lei procede a constante meditação nela....”.[28]
Por sua vez, Charles Hodge (1797-1878)
acertadamente diz que "não podemos fazer progresso na santidade a menos
que empreguemos mais tempo lendo e ouvindo a Palavra de Deus, e meditando sobre
ela; pois é ela que é a verdade pela qual somos santificados."[29]
2) Devemos Guardá-la no Coração:
O salmista Davi expressa o seu contentamento: "Agrada-me fazer a
Tua vontade, ó Deus meu; dentro em meu coração está a Tua lei” (Sl 40.8).
Salomão exorta: "Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração,
porque dele procedem as fontes da vida” (Pv 4.23). “Ouvi-me, vós que
conheceis a justiça, vós, povo, em cujo coração está a minha lei...”(Is
51.7).
Mas,
o que a Bíblia, especialmente o Antigo Testamento, estará querendo dizer, ao
referir-se ao coração?
Recorro aqui à observação de Wolff de que
"as atividades essenciais do coração humano na Bíblia são de natureza
espiritual-psíquica."[30] Mas, o que
significa isso?
O
coração denota a personalidade integral do homem[31] – envolvendo
geralmente a emoção, o pensamento e a vontade –; qualquer tentativa de se
estabelecer uma distinção entre o "coração" e a "razão" do
homem, na psicologia do Antigo Testamento, é destituída de fundamentação bíblica.
O coração, que na linguagem
veterotestamentária é usado de forma efetiva referindo-se ao homem todo, traz
consigo o sentido de responsabilidade, visto que somente o homem age conscientemente.[32] Por isso, Deus
exige de Seus servos integridade de coração, sendo, portanto, responsável
diante de Deus por suas palavras e atos.
Banwell argumenta que "Os hebreus
pensavam em termos de experiência subjetiva, e não com observações objetivas e
científicas, e assim evitavam o erro moderno de departamentização excessiva.
Era essencialmente o homem inteiro, com todo os seus atributos físicos, intelectuais
e psicológicos, de que se ocupava o pensamento hebreu, onde o coração era
concebido como o centro governador de todos esses aspectos." [33]
Muitas
vezes somos levados a considerar a existência dos homens bíblicos de forma
demasiadamente romântica, como se a sua vida fosse determinada prioritariamente
pelo sentimento, em detrimento da razão. Isto se deve, em parte, ao emprego
sistemático da palavra "coração", que a Bíblia – máxime o Antigo
Testamento – usa, sugerindo ao leitor menos atento, a idéia de que
"coração” se refere unicamente às emoções. Na realidade, as palavras
hebraicas [bÒl (lêbh) (601
vezes no AT) e bfbÒl (lêbhãbh)(252
vezes)] têm uma gama mais extensa do que esta, apontando mais propriamente para
“o homem essencial”;[34] o homem todo,
em contraste com a sua aparência exterior, que é alvo dos juízos mais assodados
(1 Sm 16.7). Aqui, obviamente, não é o lugar adequado para tratarmos
demoradamente sobre o assunto, contudo, quero apenas apresentar um esboço dos
conceitos veterotestamentários.[35]
Antes de falarmos do “coração” do homem, devemos apenas mencionar
que, de forma antropomórfica (forma
humana) e antropopática (sentimento próprio do homem), o Antigo Testamento usa
também esta expressão para falar dos “sentimentos” de Deus. (Vejam-se, por exemplo:
Gn 6.6; 8.21; 1 Rs 9.3; Jr 7.31; 44.21; Os 11.8).
a) Algumas poucas vezes, referindo-se ao órgão
físico: (1 Sm 25.37; 2 Sm 18.14; 2 Rs 9.24; Sl 38.10; Os 13.8), indicando a sua
localização (Ex 28.29).
b) O coração é identificado
como algo inacessível, oculto no interior, no centro do corpo (Sl 64.6; Pv
20.5; Jr 17.9), daí a descrição metafórica de: “meio [coração] dos céus” (Dt
4.11); "coração do mar", “seio dos mares” ou “meio do mar” (Ex 15.8;
Sl 46.2; Pv 23.34; 30.18,19; Ez 27.4;
28.8). Jonas no ventre do peixe ora
dizendo que Deus o lançou "no coração dos mares" (Jn 2.3).
c) É a sede de nossas emoções
e afeições: Forte emoção (Gn 45.26); Alegria (Ex 4.14; Dt 28.47; Jz
16.25; 1 Sm 2.1; Sl 4.7; 13.5; 104.15;
Pv 14.10;15.13, 30); dor, tribulação e angústia (Sl 13.2; 25.17;
73.21; 109.16; Pv 14.13; Is 15.5; Jr 4.19); desejo (Nm 15.39; Sl 21.2); tranqüilidade
(Pv 14.30); preocupação e ansiedade (1 Sm 9.20; Pv 12.25); furor
(Dt 19.6); amor (Gn 34.3; Jz 16.15); confiança (Pv 31.11); desespero
(Ec 2.20); medo (Dt 20.3; Js 2.11; Sl 27.3/Is 35.4); segurança
(Sl 57.7; 108.1); desfalece (1 Sm 17.32; Sl 40.12); amargura (Pv
14.10); generosidade (Ex 35.5); vela no sonho (Ct 5.2); desejo
sexual (Jó 31.9; Pv 6.25/Ez 16.30); coragem (Ez 22.13); fantasia
no coração (= inventar) (Jr 14.14; 23.16).
O coração alegre se manifesta em nossa
fisionomia e é um bom remédio para todos nós (Pv 15.13/Pv 17.22).
d) O coração não se revela
necessariamente na aparência (1 Sm 16.7) todavia, Deus conhece o nosso coração
(Sl 44.21;139.23; Pv 15.11; 24.12/Jr 16.17).
"Enganoso é o coração, mais do que todas as cousas, e
desesperadamente corrupto, quem o
conhecerá? Eu, o Senhor, esquadrinho o
coração, eu provo os pensamentos; e isto para dar a cada um segundo o seu
proceder, segundo o fruto de suas ações” (Jr 17.9-10).
e) Nossa consciência: (Gn 20.5,6;1 Sm 24.5;
25.31; 2 Sm 24.10; Jó 27.6).
f) O coração é a sede de
nossas decisões, envolvendo a nossa vontade e elementos intelectuais: Entendimento
e inteligência (Dt 8.5; 29.4; Jó 17.4; Pv 2.2: Os 4.11; 7.11); capacidade
de avaliar e julgar criticamente (Js 14.7; Ec 2.1,3,15); talento
artístico (Ex 28.3; 35.35); prudência para julgar juridicamente (1
Rs 3.9; 2 Cr 19.9); atenção (Ex 7.23); memória (Dt 4.9); reflexão
(Dt 7.17); pensar e agir (1 Sm
14.7; 2 Sm 7.3; 1 Rs 8.17; 1 Cr 22.7; Is 10.7 [coração da Assíria]; Dn 2.30);
por este motivo é que Absalão procurou conquistar o coração do povo (2 Sm
15.6). Fidelidade: (Ne 9.8); sinceridade:
(1 Rs 3.6); integridade: (1 Rs 9.4). O coração é descrito como que buscando
entendimento, discernimento e sabedoria para falar e agir: "O coração
do entendido adquire o conhecimento, e o ouvido dos sábios procura o saber”
(Pv 18.15). "O coração do sábio é mestre de sua boca, e aumenta persuasão
nos seus lábios” (Pv 16.23).
Isaías,
narrando a sua visão de Deus, bem como o seu chamado para o ministério, relata
a mensagem que lhe fora confiada: "... Torna insensível o coração deste
povo, endurece-lhe os ouvidos, e fecha-lhes os olhos, para que não venha ele a
ver com os olhos, a ouvir com os ouvidos, e a entender com o coração, e se
converta e seja salvo” (Is 6.10. Vd. Dt 29.4; Jó 8.10; Pv 24.30).
Quando concedeu a Salomão pedir o que quisesse; ele pediu "coração
compreensivo" para julgar o povo e saber discernir entre o bem e o
mal (1 Rs 3.9). Deus então lhe disse: "Já
que pediste esta cousa, e não pediste longevidade, nem riquezas, nem a morte de
seus inimigos; mas pediste entendimento, para discernires o que é justo; eis
que faço segundo as tuas palavras: dou-te coração sábio e inteligente de
maneira que antes de ti não houve teu
igual, nem depois de ti o haverá” (1 Rs 3.11-12).
No coração do homem também se processam
desejos que se transformam em práticas
pecaminosas: Projetos iníquos (Pv 6.18); endurecimento (Ex
4.21; 7.3,13,14); obstinação (Dt 2.30); insensibilidade (Is
6.10); arrogância, "elevar o coração" (Dt 8.14; 2 Cr 26.16; Pv
16.5; 18.12; Is 9.9; Dn 5.20-22; Os 13.6); inveja (Pv 23.17); infidelidade
(Pv 14.14); perversidade (Sl 101.4; Pv 6.14); falsidade (Sl 12.2); desobediência, “coração
incircunciso” (Lv 26.41/Jr 4.4; Ez 44.7); astúcia (Pv 7.10); cobiça
(Pv 6.25); engano (Pv 12.20); hipocrisia (Is 29.13); ira
pecaminosa (murmuração) (Pv 19.3); inconstância
(Sl 78.8); rebeldia (Jr 5.23).
É do coração que procedem as fontes da
vida. As grandes maquinações destrutivas surgem no coração. Um homem tocado em
seu brio, sedento de poder e dinheiro, é capaz de idealizar crimes dos mais
horrendos e nefandos. Por outro lado, é do coração que brotam os ideais mais nobres
vivenciados pelos homens, dos quais a história está repleta: Paulo, Policarpo,
Lutero, Knox, Simonton, Gandhi, Schweitzer,
entre tantos outros.
Deus deseja que O amemos e o busquemos com
integridade de coração (Dt 4.29; 6.5/1 Sm 7.3; Sl 9.1; Os 7.14); no coração
está a fonte da reverência a Deus, com a qual devemos servi-Lo (Jr 32.40/1 Sm
12.20,24; 1 Rs 8.23); e neste proceder há verdadeira alegria no coração (1 Cr
16.10). Deus escolheu a Davi, que era
segundo o Seu coração (1 Sm 13.14/At 13.22) [ObfbliK
(kilebhâbhô)]
e promete dar a Judá “pastores segundo o meu coração, que vos apascentem
com conhecimento e com inteligência” (Jr 3.15). Deus deseja um coração circuncidado (Dt
10.16; 30.6; Jr 4.4/Jl 2.13), cuja
prática ritual seja um reflexo de sua integridade interior. A desobediência é
dita como própria de um coração incircunciso (Lv 26.41; Dt 10.16/Is 29.13/Mt
15.7-8); coração de pedra (Ez 11.19), duro como um diamante (Zc 7.12).
Deus pede o nosso coração: "Dá-me
filho meu, o teu coração, e os teus olhos se agradem dos meus caminhos” (Pv
23.26. Vd. 1 Rs 8.23). Observem que há uma relação determinante: quando o nosso
coração é confiado a Deus, nós nos agradamos dos Seus caminhos; da Sua Palavra:
“Agrada-me fazer a Tua vontade, ó Deus meu; dentro em meu coração está a Tua
lei", declara Davi (Sl 40.8).
Deus
deseja o homem todo, não apenas os seus sentimentos, ou vontade ou razão, mas o
homem completo, em sua inteireza; a palavra “coração” é empregada para refletir
esta integridade; a sede de seus afetos
religiosos.
A Palavra de Deus nos diz que Ele
transforma o nosso coração - “Dar-vos-ei
coração novo, e porei dentro em vós espírito novo;
tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro em
vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus
juízos e os observeis” (Ez 36.26, 27) -, inscrevendo a Sua Lei nele (Jr 31.33). A
nossa conversão dá-se no coração (1 Rs 8.47; Sl 51.10,17-19; Jr 24.7; Ez 11.19;
Jl 2.12). Por isso, o crente sincero pede a Deus que sonde o seu coração (Sl
139.23) e o purifique (Sl 51.10). No coração temos a sede da fé (Sl 28.7;
112.7; Pv 3.5) e da renovação espiritual
(Dt 30.6; Sl 51.10; Jr 31.33; Ez 36.26).[36]
Deus
nos convida a que tornemo-nos a Ele com o coração íntegro: "...
Convertei-vos a mim de todo o vosso coração...” (Jl 2.12).
A
Palavra de Deus deve ser guardada em nosso coração – o centro de nosso
pensamento, emoções e decisões – a fim
de que todo o nosso procedimento seja conforme os preceitos de Deus. A Palavra
de Deus, meditada e guardada no coração, é preventiva contra o pecado:
"Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti” (Sl
119.11.[37] Vejam-se: Sl
37.31;119.2,57,69; Pv 2.10-12). O verbo “guardar” no salmo citado [}apfc
(çãphan)
= “esconder”, “ocultar”, “entesourar”, “armazenar”], tem o sentido de guardar
com atenção, levando-a em consideração no seu agir (Vd. no sentido negativo: Sl
10.8; 56.6; Pv 1.11,18);[38] esconder algo
considerado precioso ou importante a ponto de arriscar a sua própria vida para
poder ocultar (Ex 2.2-3; Js 2.4) – Deus também nos “esconde”, nos “protege” dos
inimigos (Sl 27.5; 31.19, 20; 83.3) –; ou algo precioso para alguém (Ct 7.13),
tendo em vista sempre algum propósito. Portanto, guardar a Palavra no coração
significa considerá-la em todo o nosso ser, sendo ela a norteadora do nosso
sentir, pensar, falar e agir; o lugar da Palavra deve ser sempre o cerne
essencial do homem. A Palavra é guardada
em nosso coração quando está presente continuamente, não meramente como um
preceito exterior, mas, sim, como um poder interno motivador, que se opõe ao
nosso pensar e agir egoístas.[39]
A tônica aqui é de receber e guardar toda a
Palavra, visto ser toda ela inspirada por Deus (2 Tm 3.16);[40] não apenas
partículas que circunstancialmente podem me ser úteis para os meus interesses
duvidosos. Portanto, toda a Palavra de Deus é um tesouro precioso para o servo
de Deus.[41]
Deus mesmo manda que guardemos a Sua
Palavra dentro de nós (Pv 2.1; 7.1 -(}apfc)(Vd: Dt 8.11;
Sl 119.16; Pv 3.1); e os sábios “entesouram (}apfc) conhecimento”
(Pv 10.14), enquanto que o tesouro dos ímpios limita-se a esta vida (Sl 17.14/1
Co 15.19), que é breve (Jó 15.20).
No Novo Testamento, Paulo recomenda à
Igreja de Colossos: "Habite ricamente em vós a palavra de Cristo;
instrui-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus,
com salmos e hinos e cânticos espirituais, com gratidão em vossos corações”
(Cl 3.16).
O salmista Davi, ora então a Deus: “Ensina-me,
Senhor o teu caminho, e andarei na tua verdade; dispõe-me o coração para só
temer o teu nome” (Sl 86.11). Aquele que entrega o seu coração a Deus (Pv
4.23; 23.26), entregou na realidade não apenas um “órgão” ou parte do seu ser,
mas toda a sua vida; quem assim procede, é continuamente ensinado por Deus,
Aquele que é o seu senhor; senhor do seu
coração.
Portanto, orar "seja feita a Tua
vontade", significa pedir a Deus que, por Sua misericórdia, nos dê a
compreensão da Sua Palavra, considerando-a em todos os nossos caminhos,
tornando-a o centro orientador de nosso pensar, sentir, desejar, falar e agir;
em suma, o centro de nossa vida integral.
3) Devemos Praticá-la:
A meditação é o prelúdio à ação. A
Palavra foi-nos dada, conforme nos ensinam as Escrituras, para que a cumpramos.
O que Deus nos revelou e fez registrar nas
Escrituras tem este objetivo expresso: "As cousas encobertas pertencem
ao Senhor nosso Deus; porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos
para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei” (Dt 29.29).
A Josué, quando inicia o seu comando do
povo de Israel, Deus ordena: "Não cesses de falar deste livro da lei;
antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo a tudo
quanto nele está escrito; então farás prosperar o teu caminho e serás bem
sucedido” (Js 1.8).
O Salmista, inspirado por Deus, escreve: "Tu
ordenaste os Teus mandamentos, para que os cumpramos à risca” (Sl 119.4.
Vd. Sl 119.8,51,106,167). Portanto, "a Bíblia não foi dada para satisfazer
a vã curiosidade, mas para edificar nossas almas."[42]
Desta
forma, não basta ouvir e meditar; esses
devem ser passos conducentes à prática; temos que treinar os nossos pés na
vereda da justiça. A obediência a Deus deve ser exercitada diariamente: "Quanto
às ações dos homens, pela palavra dos teus lábios eu me tenho guardado dos
caminhos do violento. Os meus passos se afizeram às tuas veredas, os meus pés
não resvalaram”(Sl 17.4-5). "Bem-aventurados os irrepreensíveis no
seu caminho, que andam na lei do Senhor” (Sl 119.1. Vejam-se: Dt 30.14; Rm
2.13; Tg 1.22-25).
A Bíblia usa diversas expressões que
indicam o cumprimento da Palavra de Deus por parte dos seus servos; entre elas,
citamos: 1) Fazer a vontade de Deus (Sl 40.8); 2) Andar sem se desviar,
nem se afastar (Js 1.8; 22.5; 23.6; Jó 23.12; Sl 18.22; Sl 119.1); 3) Perseverar (Tg 1.25);
4) Considerá-La por inteiro (Tg 2.10,11); 5) Habita neles
(Cl 3.16); 6) Cumpri-la (Dt 30.14; Js 1.8); 7) Observá-la (Sl
119.9, 17).
Notemos que este praticar percorre muitas
vezes o caminho de uma análise introspectiva, através da qual vemos o nosso
comportamento e o avaliamos a partir da Palavra, para que pela misericórdia de
Deus, possamos corrigi-lo: "Considero os meus caminhos, e volto os meus
passos para os teus testemunhos” (Sl 119.59).
O exercício da prática da Palavra de Deus
nos leva invariavelmente à satisfação de poder cumpri-la. Mais uma vez citamos
o testemunho de Davi: "Agrada-me fazer a Tua vontade, ó Deus meu;
dentro em meu coração está a Tua lei” (Sl 40.8). O prazer do salmista em
praticar a Palavra era precedido pelo guardar a Lei de Deus no coração. Isto
nos reporta ao que vimos acima, que a meditação precede a ação e o meditar deve
levar à sedimentação do que aprendemos.
O Espírito age dirigindo os nossos pés pela vereda da verdade, fazendo
com que, educados por Ele, adquiramos novos hábitos, nova perspectiva através
da prática da verdade.[43]
Nós
só poderemos nos alegrar nas veredas da justiça se tivermos os nossos corações
educados na compreensão e prática da Palavra de Deus. O salmista ora neste
sentido: "Dá-me entendimento, e guardarei a Tua Lei; de todo o coração
a cumprirei” (Sl 119.24/Sl 119.18). Calvino, corretamente estava convencido
de que ninguém pode “provar sequer o mais leve gosto da reta e sã doutrina, a
não ser aquele que se haja feito discípulo da Escritura.”[44] Em outro lugar,
insiste: “Se, pois, tivermos uma boa norma para governa-nos, quando nossos
inimigos, através de suas ações nocivas, nos provocam a tratá-los de modo
semelhante, aprendamos, à luz do exemplo de Davi, a meditar na Palavra de Deus
e a manter nossos olhos fixos nela. Com isso nossas mentes serão preservadas de
perene cegueira, e evitaremos sempre as veredas da perversidade, visto que Deus
não só manterá nossos sentimentos restringidos por seus mandamentos, mas também
exercitará nossa paciência frente às suas promessas.”[45]
4) Devemos nos alegrar com a instrução
do Senhor:
A certeza de que Deus nos instrui
através da Sua Palavra, deve nos encher de alegria, sabendo que temos um
caminho seguro a seguir. O ensino de Deus revela o Seu cuidado para conosco;
por isso, diversas vezes, as Escrituras referem-se àqueles que foram instruídos
por Deus como sendo bem-aventurados, felizes: "Bem-aventurado, o homem,
Senhor, a quem Tu repreendes, a quem
ensinas a Tua Lei” (Sl 94.12).
Pelo
mesmo motivo, encontramos o salmista, insistentemente, pedindo a Deus que Lhe
ensine os Seus "Decretos" (Sl 119.26,33,64,68,124,135, 171); a
Sua "Lei" (Sl 119.34); os Seus "Mandamentos"
(Sl 119.73); os Seus "Preceitos" (Sl 94.12; Sl 119.27); os
Seus "Juízos" (Sl 119.102,108); os Seus "Testemunhos"
(Sl 119.125,144).
O que resume bem o desejo de conhecer a Lei
de Deus para praticá-la, bem como a certeza da soberania de Deus em
autorevelar-se, é a conhecida oração do salmista: “Desvenda os meus olhos
para que eu contemple as maravilhas da Tua Lei” (Sl 119.18).
É neste sentido que os salmistas, em
momentos diferentes, revelam a sua alegria e prazer na Palavra de Deus: O justo
tem prazer na lei do Senhor (Sl 1.2); sendo bem-aventurado o homem que se
compraz nos mandamentos de Deus (Sl 112.1).
A Palavra de Deus é o lenitivo para o coração dorido; ela não nos enche
de vãs esperanças, antes, nos mostra o caminho de Deus; a esperança que irradia
do Senhor da esperança: "Não fosse a Tua Lei ter sido o meu prazer, há muito já teria eu perecido
na minha angústia." (Sl 119.92). "Sobre mim vieram tribulação
e angústia, todavia os Teus mandamentos são o meu prazer” (Sl 119.143. Vd.
Sl 19.8;119.16,35,54,70,77, 111, 174).
Calvino
resumindo o Salmo 1, diz: “A suma e substância de todo o Salmo consistem em que
são bem-aventurados os que aplicam seus corações a buscar a sabedoria
celestial; ao passo que, os profanos desprezadores de Deus, ainda que por algum
tempo se julguem felizes, por fim terão o mais miserável fim. (...) Tudo estará
bem com os devotos servos de Deus, cuja incansável diligência é fazer progresso
no estudo da lei divina.”[46]
5) Devemos Esperar Nela:
Esta esperança na Palavra, que contribui decisivamente para o nosso
amadurecimento e fortalecimento espiritual, traz consigo alguns pressupostos:
a)
Crer na Palavra:
Para que possamos de fato esperar
confiantes na Palavra de Deus, precisamos primeiramente recebê-la como tal.
Creio que aqui está um dos problemas vitais da igreja em todos os tempos. Com
isto não estou dizendo que a Igreja através da história tenha negado de forma
confessional a Palavra de Deus. Antes, o que estamos declarando é que a Igreja
tem negado a Palavra de Deus de forma existencial e vivencial. Esta recusa
prática tem se caracterizado, como já observamos, na não consideração dos
preceitos de Deus em seu caminho. Crer na Palavra significa recebê-la como
fundamento e norma do nosso comportamento. Todas as vezes que desconsideramos
as Escrituras em nossas decisões, estamos, na realidade, negando a eficácia das
promessas de Deus, demonstrando não tê-la recebido como Palavra autoritativa de
Deus.
Paulo observa que os efésios e os
tessalonicenses haviam de modo correto, respectivamente, crido e recebido a
Palavra ensinada, o Evangelho, como Palavra de Deus; ele diz: "...Vós,
depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo
nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa” (Ef
1.13). "Outra razão ainda temos nós para, incessantemente, dar graças a
Deus: é que, tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus,
acolhestes [de/xomai = "receber"] não como palavra de homens,
e, sim, como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está
operando eficazmente em vós, os que credes” (1 Ts 2.13). Neste texto, o
tempo verbal de "acolher" (indicativo aoristo), significa uma ação
realizada no passado; os tessalonicenses revelavam no seu dia-a-dia, terem
"acolhido", "recebido" o "Evangelho"
definitivamente como Palavra de Deus. A aceitação do Evangelho sempre traz
frutos.
Paulo
continua o seu argumento dizendo que este fato se evidenciava no comportamento
da igreja: "Tanto é assim, irmãos, que vos tornastes imitadores das
igrejas de Deus existentes na Judéia em Cristo Jesus...” (1 Ts 2.14).
b) Crer perseverantemente:
Um outro grande desafio para nós é crer na Palavra e continuar crendo
quando as promessas de Deus parecem, diante de nossos olhos incrédulos, ter
falhado; quando o nosso contexto parecer indicar que a "justiça" de
Deus nos conduz ao fracasso e os nossos meios são mais eficazes. Esperar na
Palavra significa permanecer confiantes apesar das adversidades e da condução
que o mundo dá às nossas inquietações, apresentando soluções aparentemente
finais para os nossos problemas.
Encontramos o testemunho do salmista
referente a estas experiências: "Alegraram-se os que te temem quando me
viram, porque na Tua Palavra tenho
esperado” (Sl 119.74). "Desfalece-me a alma, aguardando a tua
salvação; porém espero na tua palavra” (Sl 119.81). "Tu és o meu
refúgio e o meu escudo; na tua palavra espero” (Sl 119.114).
c)
Perseverar alegremente:
O esperar na Palavra de
Deus não quer dizer aguardar a promessa
de Deus com um ar de pessimismo e tristeza, como se não houvesse outra escolha.
O salmista nos diz que esperava confiante. Ele revela que as suas meditações e
orações, durante a madrugada e ao entardecer, se inspiravam na sua confiança na
Palavra de Deus: "Antecipo o alvorecer do dia e clamo; na tua palavra
espero confiante. Os meus olhos antecipam as vigílias noturnas, para que eu
medite nas tuas palavras” (Sl 119.147,148).
Esta
confiança na Palavra também não significa simplesmente esperar numa letra
morta, ou numa promessa de homens, mas
sim, na Palavra que é de Deus: “Aguardo o Senhor, a minha alma o aguarda; eu
espero na sua palavra” (Sl
130.5). Notemos que toda esta esperança está enraizada no fato de que
conhecemos o nosso Deus; o Senhor da promessa. Confiar e aguardar na Palavra é
confiar e aguardar no Senhor que é o Autor da Promessa.
Quando
oramos "seja feita a Tua vontade", estamos declarando a Deus a nossa
fé nas Suas promessas e, ao mesmo tempo, rogando que Ele nos capacite a viver
segundo esta fé, que Ele mesmo produziu em nossos corações. Assim, podemos
dizer como o salmista: "Esperei confiantemente pelo Senhor; Ele se
inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro." (Sl 40.1).
Esperemos confiantemente em Deus conforme a Sua vontade.
6)
Proclamá-la:
A Igreja é uma comunidade constituída por todos aqueles que, pelo dom
da fé, atenderam ao convite gracioso de Deus feito através da Palavra. Este
convite, envolveu o nosso arrependimento e fé; um abandono ao pecado e um
caminhar seguro em direção a Deus, confiado unicamente nas Suas promessas.
Conforme
já comentamos anteriormente, desde a Reforma a "genuína pregação do Evangelho"
tem sido identificada como uma das marcas da Igreja. Deste modo, a pregação não é algo que a Igreja possa
optar entre fazer ou não fazer. Por outro lado, devemos enfatizar que a proclamação não é simplesmente a missão da
Igreja; é mais do que isso. A pregação é essencial à sua própria
existência. Por isso, a Igreja, desejosa
de fazer a vontade de Deus, cumpre de forma natural aquilo que caracteriza o
seu ser; que diz respeito à razão da sua existência. Assim, a Igreja vive na
concretização do propósito de Deus, anunciando as virtudes de Deus, o Evangelho
da graça, para que através da Palavra Deus cumpra todo o Seu propósito de
justiça e misericórdia em todos os homens.
A Igreja se revela no ato proclamador. Ela
não é a mensagem, mas, na sua existência, demonstra o poder daquilo que ela
testemunha, visto ser, a Igreja, o monumento da graça e misericórdia de Deus,
constituído a partir da Palavra criadora de Deus. É justamente por isso, que "a pregação é
uma tarefa que somente ela pode realizar".[47]
A Igreja é uma testemunha comissionada pelo
próprio Deus para testemunhar os Seus atos gloriosos e salvadores. Assim, a sua
mensagem não foi recebida de terceiros, mas, sim, diretamente de Deus, através da Palavra do
Espírito, registrada nas Sagradas Escrituras. A Igreja declara ao mundo o "Evangelho do
Reino", visto e experimentado por ela em sua cotidianidade. O testemunho
da Igreja é resultado de uma experiência
pessoal. O Espírito dá testemunho do Filho porque procede do Pai e do Filho (Jo
14.26;15.26; Gl 4.6); nós damos testemunho do Pai, do Filho e do Espírito,
porque os conhecemos e temos o Espírito em nós (Jo 15.26,27;14.23/Rm 8.9).
Calvino
(1509-1564), comentando Gálatas 4.26, diz: “.... A Igreja enche o mundo todo e é peregrina
sobre a terra. (...) Ela tem sua origem na graça celestial. Pois os filhos de
Deus nascem, não da carne e do sangue, mas pelo poder do Espírito.” Continua:
“Eis a razão por que a Igreja é chamada a mãe dos crentes. E, indubitavelmente,
aquele que se recusa a ser filho da Igreja debalde deseja ter a Deus como seu
Pai. Pois é somente através do ministério da Igreja que Deus gera filhos para
si e os educa até que atravessem a adolescência e alcancem a maturidade.”[48] A peregrinação
da Igreja tem um sentido missionário (“Até os confins da terra”) e escatológico (“Até a consumação do
século”): Enquanto ela caminha, confronta os homens com a mensagem do
Evangelho, conclamando a todos ao
arrependimento e fé em Cristo Jesus até que Ele volte.
Conforme já dissemos, a Igreja tem, com
muita freqüência, se distanciado daquilo que a caracteriza: o culto a Deus e a
pregação da Palavra. Ela tem feito discursos políticos, sociais, ecológicos,
etc.; todavia, tem se esquecido desta parte de sua prioridade essencial: Pregar
a Palavra. Com isto não estamos defendendo um total distanciamento da Igreja do
que ocorre na história, pelo contrário, a Igreja deve agir de forma evidente na
história, só que ela age de forma eficaz não com discursos rotineiros a
respeito da pobreza, da violência, do desmatamento, mas sim, na proclamação do
Evangelho de Cristo, que é o poder de Deus para a transformação de todos os
homens (Rm 1.16-17).[49]
Paulo insiste com Timóteo: "Prega a
palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com
toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã
doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias
cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à
verdade, entregando-se às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em todas as cousas,
suporta as aflições, faze o trabalho de evangelista, cumpre cabalmente o teu
ministério” (2 Tm 4.2-5).
Quanto a nós, que estamos desejosos de
fazer a vontade de Deus, de crescer em santidade diante de nosso Senhor,
devemos proclamar a Palavra através de nossa palavra e vida. Devemos também nos
aplicar no estudo das Escrituras e, conforme já analisamos, na meditação da
Palavra em oração. Paulo recomenda a Timóteo: "Procura apresentar-te a
Deus, aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem
a palavra da verdade” (2 Tm 2.15).
O Espírito capacita a Igreja a cumprir o
que Jesus lhe ordenou. Isto Ele faz concedendo-lhe poder (At 1.8/ 4.8-13, 31).
O texto de At 1.8 resume bem o conteúdo do Livro de Atos: A Igreja testemunha
no poder do espírito de Jesus (At 16.7). "O poder do Espírito Santo é Sua
capacidade de ligar os homens ao Cristo ressurreto de tal maneira que sejam
capacitados a representá-Lo. Não há nenhuma bênção mais sublime."[50] Com bem observa
Stott, do mesmo modo que o Espírito veio
sobre Jesus equipando-O para o Seu Ministério público, o Espírito deveria vir
sobre o Seu povo capacitando-o para o seu serviço.[51] Por isso que,
“sem o poder do Espírito Santo a evangelização é impossível.”[52] No Pentecoste se concretiza historicamente a capacitação da Igreja para a
sua missão no mundo; o Pentecoste revela
o caráter missionário da Igreja, tornando cada crente uma testemunha de Cristo.
“Pentecoste significa evangelismo”.[53]
3.
A oração como meio de graça:
“A oração é a
conversa da alma com Deus. (...) Um homem sem oração é necessária e totalmente
irreligioso. Não pode haver vida sem atividade. Assim como o corpo está morto
quando cessa sua atividade, assim a alma que não se dirige em suas ações a
Deus, que vive como se não houvesse Deus, está espiritualmente morta.” – Charles Hodge.[54]
3.1. Os Catecismos
de Westminster:
Tratando da oração, o Catecismo Maior ensina:
Catecismo
Maior de Westminster, Perg. 178[55]
|
|
“Oração
é um oferecimento de nossos desejos a Deus....
|
a)
Em nome de Cristo;
b)
Com auxílio de Seu Espírito;
c)
Com a confissão de nossos pecados;
d)
Com um grato reconhecimento de Suas misericórdias.
|
Catecismo Menor de Westminster
|
|
Catecismo Menor de Westminster
|
|
3.2. O Espírito
como Mestre da Oração:
O conhecimento de Deus e
da Sua Palavra não visa satisfazer a nossa curiosidade pecaminosa mas, sim,
conduzir-nos a Ele em adoração e louvor: “O conhecimento de Deus não está posto
em fria especulação, mas Lhe traz consigo o culto”,[56] que é o
objetivo máximo de nossa existência.[57] “A função
peculiar do Espírito Santo consiste em
gravar a Lei de Deus em nossos corações.”[58] É o Espírito
Quem nos ensina através das Escrituras;[59] esta é “a
escola do Espírito Santo”.[60] O Espírito
também é o nosso mestre na oração.
Agostinho (354-430), comentando o Salmo
102.2 – quando o salmista diz: “... inclina-me os teus ouvidos; no dia em
que eu clamar; dá-te pressa em acudir-me.” –, faz uma paráfrase: “Escuta-me prontamente, pois peço aquilo que
queres dar. Não peço como um homem terreno bens terrenos, mas já redimido do
primeiro cativeiro, desejo o reino dos céus.”[61]
Paulo discorrendo sobre a fraqueza
humana, a exemplifica na vida cristã, no fato de nem ao menos sabermos orar
como convém (Rm 8.26-27). Por isso, o Espírito que em nós habita, nos auxilia
em nossas orações, fazendo-nos pedir o que convém, nos capacitando a rogar de
acordo com a vontade de Deus. A oração eficaz é aquela que tem o Espírito como
seu autor. Sem o auxílio do Espírito jamais oraríamos com discernimento.
Calvino (1509-1564) analisando o fato de que pedimos tantas coisas erradas a
Deus e, que se Ele nos concedesse o que solicitamos, traria muitos males sobre
nós,[62] diz: “Não
podemos nem sequer abrir a boca diante de Deus sem grande perigo para nós, a
não ser que o Espírito Santo nos guie à forma devida de orar.”[63] A oração
genuína é sempre precedida do senso de necessidade e de uma fé autêntica nas
promessas de Deus.[64]
Graças a Deus porque todos nós, em
Cristo, temos o Espírito de oração (Zc 12.10), porque sem Ele jamais poderíamos
orar de modo aceitável ao Pai.
Muitas vezes estamos tão confusos diante
das opções que temos, que não sabemos nem mesmo como apresentar os nossos
desejos e as nossas dúvidas diante de Deus; todavia o Espírito nos socorre; Ele
“ora a nosso favor quando nós mesmos deveríamos ter orado, porém não sabíamos
para que orar.”[65]
Orar como convém é orar segundo a vontade
de Deus, colocando os nossos desejos em harmonia com o santo propósito de Deus;[66] isto só é
possível pelo Espírito de Deus que Se conhece perfeitamente (1 Co 2.10-12).[67] Assim, toda
oração genuína é sob a orientação e direção do Espírito (Ef 6.18; Jd 20). O Catecismo
Maior de Westminster, diz: “Não sabendo nós o que havemos de pedir, como
convém, o Espírito nos assiste em nossa fraqueza, habilitando-nos a saber por
quem, pelo quê, e como devemos orar; operando e despertando em nossos corações
(embora não em todas as pessoas, nem em todos os tempos, na mesma medida)
aquelas apreensões, afetos e graças que são necessários para o bom cumprimento
do dever.”[68]
O Espírito ora conosco e por nós; Ele
juntamente com Cristo, em esferas diferentes, intercede por nós: “Cristo
intercede por nós no céu, e o Espírito Santo na terra. Cristo
nosso Santo Cabeça, estando ausente de nós, intercede fora de nós; o
Espírito Santo nosso Consolador intercede em nosso próprio coração quando
Ele o santifica como Seu templo”, contrasta Kuyper (1837-1920).[69]
A intercessão de Cristo respalda-se nos
Seus merecimentos, obtendo para os Seus Eleitos, os frutos da Sua Obra
expiatória (Rm 8.34; Hb 7. 25; 1 Jo
2.1).[70] O Espírito
intercede por nós considerando as nossas necessidades vitais e costumeiramente
imperceptíveis aos nossos próprios olhos.
Calvino (1509-1564) observou que na oração,
"a língua nem sempre é necessária, mas a oração verdadeira não pode
carecer de inteligência e de afeto de ânimo."[71] a saber:
"O primeiro, que sintamos nossa pobreza e miséria, e que este sentimento
gere dor e angústia em nossos ânimos. O segundo, que estejamos inflamados com
um veemente e verdadeiro desejo de alcançar misericórdia de Deus, e que este
desejo acenda em nós o ardor de orar."[72]
Spener (1635-1705), falando sobre a oração,
segue uma linha semelhante: “Não é suficiente que se ore exteriormente, com a
boca, pois a oração verdadeira e mais necessária acontece no nosso ser
interior, podendo expressar-se em palavras ou permanecer na alma, mas, de qualquer
maneira, lá acha e encontra Deus.”[73]
O Espírito, que procede do Pai e do Filho,
é Quem nos guia em nossas orações, fazendo-nos orar corretamente ao Pai. De
fato, Deus propiciou para nós todos os elementos fundamentais para a nossa
santificação (2 Pe 1.3); a ação do Espírito aponta nesta direção, indicando
também, que as nossas orações são “imperfeitas, imaturas, e insuficientes”, por
isso Ele nos auxilia, nos ensinando a orar como convém.
A
presença e direção do Espírito na vida do povo de Deus é uma realidade.
Desconsiderar este fato significa desprezar o registro bíblico e o testemunho
do Espírito em nós (Rm 8.16).
O Espírito em nós é uma fonte de consolo e
estímulo à perseverança e obediência devida a Deus. Consideremos este fato – à
luz da Palavra e da nossa experiência – em todos os nossos caminhos, e o
Espírito mesmo nos iluminará.
3.3. Princípios
bíblicos para a Oração:
A
Palavra de Deus insiste conosco quanto à necessidade que temos de orar, já que a oração foi instituída e é ensinada
por Deus por nossa causa, para o nosso bem, não por alguma carência no ser de
Deus. Aliás, os preceitos de Deus não visam simplesmente satisfazê-Lo, mas,
sim, propor caminhos para o homem, os quais ele, seguindo, será feliz e Deus
será glorificado. Deus é glorificado através da obediência do Seu povo e
somente assim o homem pode encontrar o
sentido da vida e da eternidade. “Deus só é corretamente servido quando Sua Lei
for obedecida.”[74]
Aliás,
qual cristão não teria algo a dizer a respeito da graça da oração? Do
seu significado para a sua vida cotidiana? Do conforto que pôde usufruir em
momentos de angústia e tensão? A oração
é um dos maiores privilégios que Deus nos concede, visando a nossa edificação,
conforto, alívio e, principalmente, como
veículo de expressão de nossa adoração e gratidão ao nosso Pai Celestial.
No Novo Testamento, Jesus Cristo enfatizou
a necessidade dos seus discípulos orarem, sendo Ele mesmo um modelo de oração
para todos nós. Todavia, deve ser ressaltado que Jesus não exercitava a oração
apenas para ser um exemplo para nós, antes “a oração foi, em algum sentido
misterioso, uma parte necessária de Sua vida ministerial.”[75]
No texto de Mateus 6.5-15, Jesus combate
algumas práticas erradas de oração e apresenta princípios que devem nortear a
oração cristã. Como a Bíblia – a Palavra de Deus – é o nosso manual de oração,
precisamos aprender com ela como devemos orar, através dos ensinamentos de
Cristo.[76] A Oração do
Senhor se constitui num modelo de oração para toda a Igreja em todos os tempos;
através de seu estudo, podemos, mediante a iluminação do Espírito Santo,
aprender uma série de princípios e orientações que devem nos guiar na escola da
oração. Estudaremos a Oração Dominical, sob a perspectiva de três temas principais,
que se constituirão nos capítulos de nossa exposição. Devemos considerar também que Deus deseja que
oremos com intensidade e integridade, não permitindo que as distrações de nossa
mente nos afastem deste propósito santo.[77]
Na Oração do Senhor – “que é a
oração representativa de todas”[78] –, encontramos uma “fórmula”, uma “roteiro”, no
qual o Senhor Jesus “nos propôs tudo quanto dEle é lícito buscar, tudo quanto
conduz ao nosso benefício, tudo quanto é necessário suplicar”, resume Calvino
(1509-1564).[79] Acontece que,
na prática, este privilégio só pode ser exercitado após termos aprendido, de forma
vivencial, que tudo que é-nos necessário está em Deus.[80]
1) Dirigida ao Pai (Mt 6.6,9):
A Palavra de
Deus nos ensina que a nossa oração deve ser dirigida ao Pai. Em nossas orações
devemos aprender logo de início que estamos falando com o nosso Pai; o nosso
Deus é Pai, de quem podemos nos aproximar com confiante amor, certos de que Ele
está atento ao nosso clamor. "O Pai está sempre à disposição de seus
filhos e nunca está preocupado
demais que não possa ouvir o que eles têm a dizer. Esta é a base da oração
cristã."[81]
O conhecimento que temos do Deus Pai é-nos
revelado por Cristo; por Sua graça O conhecemos. Jesus declara: “Ninguém
conhece o Filho senão o Pai; e ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a
quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11.27). Falamos com o Pai – não com um
estranho –, a Quem conhecemos pela
graça.
Aqui há algo extremamente relevante que
devemos mencionar. A paternidade de Deus sobre Israel é claramente reconhecida
pelo povo do Antigo Testamento (Dt 32.6; Sl 103.13,14; Jr 31.9,20; Ml 2.10); a
idéia está sempre presente nas páginas do Antigo Testamento. Apesar deste
substantivo ser usado mais de 1200 vezes ali,[82] só ocorre 14 vezes referindo-se a Deus;
todavia, nestes casos, é sempre empregado
de forma reveladora.[83] Curiosamente,
os sumerianos, cerca de três mil anos antes de Cristo, já se referiam ao seu
deus como um pai.[84]
A paternidade de Deus descrita no Antigo
Testamento é exclusiva: Deus é Pai de Israel (Dt 7.6-8; 14.2; Is 63.15,16;
64.8) e esta paternidade encontra o seu fundamento num ato histórico e
singular; o êxodo do Egito. J. Jeremias escreve sobre isto:
“Associar
a paternidade de Deus com um fato histórico implica uma profunda revisão do
conceito de Deus como Pai. A certeza de que Deus é Pai e Israel seu filho não
se funda no mito, mas em um ato único de salvação realizado por Deus, do qual Israel foi o alvo da história”.[85]
Apesar dos judeus não usarem com freqüência
o título pai para Deus, estavam convictos desta realidade: Deus é pai de
Israel. Entretanto, o que mais nos chamou a atenção, é o fato de não ser
encontrado no judaísmo nenhum exemplo convincente da utilização da expressão
“meu pai” para Deus.[86] Os judeus
podiam dirigir-se a Deus, liturgicamente, como yiba) (‘abhi’) (“Meu
Pai”); mas nunca empregavam a forma familiar )fba) (’abhã’)[87] (grego: a)bba=) (abba), que soaria desrespeitoso.
Agostinho (354-430), resume a questão
dizendo:
“....
Quem quer que leia a Sagrada Escritura poderá encontrar tais louvores de modo
variado e extenso. Entretanto, em parte alguma encontra-se algum preceito
ordenando ao povo de Israel que se dirigisse a Deus como Pai e o invocasse como
Pai nosso.”[88]
Portanto, o surpreendente para o judeu foi
o fato de Jesus referir-se ao Pai de uma forma nunca vista, jamais praticada.
Acontece, que Jesus, em suas orações, não usava de um artifício para criar
impacto ou para presumir, diante de seus ouvintes, ter uma relação inexistente
com o Pai. Não. Jesus apenas revelou o fato do Seu relacionamento íntimo e
especial com o Pai. Isto Ele fez, usando a expressão aramaica ’abba, que foi
tomada por empréstimo do linguajar das crianças, eqüivalendo mais ou menos ao
nosso “papai” ou “paizinho”.[89] O Talmud
diz que “quando uma criança saboreia o trigo (isto é, quando é desmamada),
aprende a dizer ‘abba’ e ‘imma’ (Papai e mamãe)”.[90] Com o passar do
tempo o uso desta expressão também tornou-se comum entre os jovens e adultos
para se referirem aos seus pais.[91]
Abba era um designativo tão familiar e
íntimo que nenhum judeu ousaria usá-lo para Deus. Tal emprego, feito por Jesus,
impressionou de tal forma os discípulos, que eles não traduziram a expressão para
o grego.
Com exceção da oração de Mt 27.46, que
seguiu a forma do Sl 22.1, em todas as suas orações, Jesus dirigiu-se a Deus
como Abba.[92]
Permita-me mais uma vez usar as palavras de
J. Jeremias, que pinta este quadro de forma singular:
“Jesus
dirigia-se a Deus como uma criancinha a seu pai, com a mesma simplicidade íntima,
o mesmo abandono confiante (...). Jesus considerava este modo infantil de falar
como a expressão do conhecimento único de Deus que o Pai lhe dava, e de seus
plenos poderes de Filho.”[93]
Isto implica em dizer que Jesus tinha plena
consciência de ser, de modo único e singular, O Filho de Deus (Mt 11.27; Mc
13.32; 14.36). Quando a Igreja professou a sua fé na filiação divina de Jesus,
o fez respaldada pelo próprio testemunho de Jesus, de ser o Filho de Deus. O
que para os ouvintes foi uma novidade, a afirmação da Sua filiação divina por
ocasião do batismo, para Ele foi apenas o testemunho público daquilo que Ele
sempre soubera.
Paulo fala que nós, os crentes em Cristo,
recebemos o Espírito de ousada confiança em Deus, que nos leva, na certeza de
nossa filiação divina, a clamar ”Aba, Pai”. ”Porque não recebestes o
espírito de escravidão para viverdes outra vez atemorizados, mas recebestes o
espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai.”(Rm 8.15). O fato
de Paulo usar a mesma expressão de Cristo para nós “significa que, quando Jesus
deu a Oração Dominical aos Seus discípulos, também lhes deu autoridade para
segui-Lo em se dirigirem a Deus como ‘abbã’, dando-lhes, assim, uma participação
na Sua condição de Filho.”[94] Somente pelo
Espírito poderemos nos dirigir a Deus desta forma, como uma criança que se lança sem reservas nos braços do seu Pai
amoroso.
O que nos enche de alegria e mostra a nossa
relação íntima com Deus é o fato de em Cristo, pelo Espírito, podermos nos dirigir
ao Pai, como filhos adotivos de Deus, usando da mesma expressão empregada por
Cristo.
Quando
oramos sabemos que estamos falando com o nosso Pai. Desta forma, a oração é uma
prerrogativa dos que estão em Cristo. Somente os que estão em Cristo pela fé,
têm a Deus como o seu legítimo Pai (Jo 1.12; Rm 8.14-17; Gl. 4.6; 1 Jo 3.1-2).
De onde se segue que esta oração, apesar de não mencionar explicitamente o nome
de Cristo, é feita no Seu nome, visto que somos filhos de Deus – e é nesta
condição que nos dirigimos a Deus –, através de Cristo Jesus (Gl 3.26).[95]
O Espírito que em nós habita e nos leva à
oração testemunha em nós que somos filhos de Deus. “O próprio Espírito
testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8.16); O Pai
Nosso é a “Oração dos Filhos”.[96]
Orar ao Pai não significa simplesmente usar
o Seu nome, mas, sim, dirigir-nos de fato a Ele conforme os Seus preceitos, em
submissão à Sua vontade. Uma oração francamente oposta aos ensinamentos de
Jesus não pode ser considerada de fato uma oração dirigida ao Pai, por mais que
usemos e repitamos o nome de Jesus.
O problema, dentro do contexto vivido por
Jesus, é que muitos dos judeus, na realidade, ofereciam as suas orações aos
homens, mesmo usando o nome de Deus. Usar o nome de Deus não é garantia de estarmos
nos dirigindo a Ele. Do mesmo modo, podemos estar tão preocupados com a forma
de nossas orações que nos esquecemos do Pai; é a Ele que a nossa oração é
destinada; portanto, cabe a Ele, que vê em secreto, julgá-la. A nossa oração
não necessita ter publicidade para que Deus a ouça; Ele vê em secreto e nos
recompensa conforme o que vê (Mt 6.6).
Bonhoeffer (1906-1945), comenta: “Uma
criança aprende a falar porque seu pai fala com ela. Ela aprende a falar a
língua paterna. Assim também nós
aprendemos a falar com Deus, porque Deus falou e fala conosco. Pela palavra do
Pai no céu seus filhos aprendem a comunicar-se com Ele. Ao repetir as próprias
palavras de Deus, começamos a orar a Ele. Não oramos com a linguagem errada e
confusa de nosso coração, mas pela palavra clara e pura que Deus falou a nós
por meio de Jesus Cristo, devemos falar com Deus, e Ele nos ouvirá.”[97]
“Orar é exercitar a nossa confiança na
Providência de Deus, sabendo que nada nos faltará, porque Ele é o nosso Pai”.[98] A oração tem
sempre uma conotação de submissão confiante. Portanto, orar ao Pai, significa
sintonizar a nossa vontade com a dEle; sabendo que Ele é santo e a Sua vontade
também o é (Mt 6.9,10).
2) Sincera (Mt 6.5-6):
Os
judeus tinham as suas horas certas de oração. Muitos cumpriam estes horários
com coração sincero; contudo, outros se dirigiam à Sinagoga ou ao Templo,
procurando estar justamente nestes horários nas praças, ou ruas de grande
movimento, onde passavam pessoas em todas as direções, a fim de que quando
desse a hora de oração, eles pudessem parar onde estavam e começassem a recitar
as suas preces em voz alta, como se não tivesse dado tempo de chegar à
Sinagoga. Vendiam a imagem de grande piedade e consagração, sendo respeitados
por todos aqueles que não conseguiam interpretar corretamente as suas
motivações.
Jesus faz referência a estes homens que
queriam ser considerados como consagrados e santos, mas que na realidade eram
“hipócritas” (ator, intérprete), que gostavam de ser vistos, admirados e
reverenciados. A palavra usada por Jesus em Mt 6.5 para “praça” é
[Plate/ia (“plateia”) = “estrada larga”,
“rua”, “caminho” (Vd. Lc 14.21; At
5.15).
Jesus não estava condenando a oração
pública, nem a oração individual feita em lugar público. Jesus recriminava, as
orações privadas (mais íntimas), feitas em lugares públicos, as quais tinham
motivações não dignas, pois objetivavam ter uma platéia para que pudesse
ouvi-las e aplaudir aqueles “consagrados homens”. Portanto, a questão aqui não
é propriamente o lugar, mas sim a sinceridade do coração do suplicante.
O apóstolo Paulo adverte a Timóteo quanto
aos homens que surgiriam nos últimos dias, dizendo: “tendo forma de piedade,
negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes” (2 Tm 3.5).
D.M. Lloyd-Jones (1899-1981) destaca uma
lição preciosa a respeito do ensino de Jesus, dizendo: ”Quando estamos
orando, precisamos lembrar-nos deliberadamente de que estamos falando com Deus.
Por conseguinte, as demais pessoas, tal como o nosso próprio ‘eu’ precisam ser
excluídos, ficando do lado de fora de minhas preocupações.”[99]
Jesus diz que tais homens que procedem
hipocritamente logo recebem a sua recompensa, visto que o que eles queriam
tinham conseguido: serem vistos e admirados pelos homens. O verbo traduzido (Mt
6.2,5,16) por ”receberam” (a)pe/xw)(apechõ) é usado no grego técnico em
recibos, indicando a sua quitação, que o
pagamento foi plenamente realizado, podendo ser de impostos, da compra de
escravos, de aluguéis, etc.[100]
Barclay (1907-1978), após investigar no
grego clássico e nas Escrituras o verbo mencionado, detendo-se no capítulo 6 de
Mateus, conclui:
“Logo,
o que Jesus está dizendo é que os que dão esmolas, oram e jejuam buscando deliberadamente
a admiração dos homens, recebem a admiração dos homens, – e nada mais. A admiração dos homens é o seu
pagamento integral. Nada mais têm para reivindicar; podem emitir o seu recibo e
considerar-se integralmente pagos. A atividade pode atrair a admiração dos
homens, mas quando a intenção era essa, não tem valor diante de Deus. Se
visarmos a publicidade pessoal, nós a receberemos – mas não obteremos mais
nada. Ao obtê-la, somos integralmente pagos, mas perdemos inteiramente as
recompensas divinas que são muito maiores, e são o prêmio ao serviço humilde,
altruísta e modesto.”[101]
Talvez hoje sejamos tentados a dizer para
nós mesmos: desse tipo de pecado estou livre; eu não tenho esse hábito.
Contudo, é bom um pouco mais de cautela quanto a este ponto; há muitas formas
sutis de cometermos os mesmos erros,[102] como por
exemplo, dando a impressão de que passamos muito tempo orando (Mt 6.16-18) ou,
quando entramos em nosso quarto para orar, e ficamos pensando naqueles que
estão lá fora e o que eles estão pensando a nosso respeito, como eles
interpretam a nossa “espiritualidade”... Desta forma, é preciso que tenhamos
cuidado para que não sejamos apanhados pela sutileza de nossos pecados, pela
engenhosidade de nossas mentes.
Agostinho (354-430), comentando Mt 6.6,
diz:
“Não basta entrar no quarto. Se a porta
ficar aberta aos importúnios, ela dá entrada às futilidades exteriores que vêm
perturbar nosso recolhimento. Dissemos que vêm de fora para significar as
realidades passageiras e sensíveis que penetram pela porta, isto é, pelos
nossos sentidos corporais, pois uma multidão de vãs imagens perturbam nossa
oração. Em conseqüência, é preciso fechar a porta: resistir às solicitações dos
sentidos corporais, para que uma oração toda espiritual se dirija ao Pai.
Oração essa feita no íntimo do coração, onde em segredo rezamos [oramos] ao
Pai.”[103]
Por outro lado, quando a nossa oração é de
fato dirigida sinceramente ao nosso Pai Celeste, Ele que conhece os nossos
corações nos recompensará (Mt 6.6). Todas as vezes que as nossas orações, por
mais emocionantes que sejam, não estiverem acompanhadas de um sentimento adequado
de indignidade e reverência para com Deus, estaremos pecando contra Deus.[104] Lembrem-nos de
que: “Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração
compungido e contrito não o desprezarás, ó Deus” (Sl 51.17); “O homem vê
o exterior, porém o Senhor, o coração” (1 Sm 16.7).
3) Objetiva (Mt 6.6-8):
Jesus também
nos ensina a não usarmos em nossas orações de ”vãs repetições” (ARA;ACR; BJ),
“palavras vãs” (ARC). A expressão usada por Cristo (Battaloge/w “battalogeõ”), que só ocorre
aqui, parece ser onomatopéica, significando “falar sem sentido”, “balbuciar”,
“repetir palavras ou sons inarticulados”, “falar sem pensar”, “falar futilmente”, “gaguejar”, “dizer sempre
a mesma coisa”, “tagarelar”, “uma repetição supérflua e exagerada”, “repetir
uma fórmula muitas vezes”,[105] etc. Tyndale
traduz: “Tagareleis demais”; Knox: “Useis muitas frases”; Velha Versão Siríaca:
“Não digais coisas ociosas”.[106]
John Stott, comentando o sentido do verbo, diz:
“A maioria a considera como uma expressão onomatopéica, o som da palavra
indicando o seu significado. Assim, batarizõ significa gaguejar; e
qualquer estrangeiro cuja língua parecesse aos ouvidos gregos como uma
interminável repetição da sílaba ‘bar’ era chamado de barbaros, um bárbaro.”[107] Broadus
acrescenta: “É possível que como um gago repete muitas vezes a mesma palavra, a
palavra grega viesse a ser usada para exprimir as vãs repetições, em geral”.[108]
A referência de Jesus é direta e
intencional aos gentios: “E, orando, não useis de vãs repetições, como os
gentios...” (Mt 6.7). Os pagãos criam que as repetições contribuíam para
pressionar os seus deuses a conceder-lhes favores. Ao que parece, era esta
crença que estimulou os profetas de baal a permanecerem durante horas orando ao
seu deus sem serem respondidos (Vd. 1 Rs 18). Do mesmo modo, os efésios
indignados com a pregação cristã, gritaram por quase duas horas: “Grande é a
Diana dos efésios!” (At 19.34). De modo semelhante procedem os católicos romanos
com suas repetições do “Pai Nosso” e “ave-maria”.[109]
Havia também entre os gentios o costume de
usar de repetições intermináveis com o objetivo de informarem aos seus deuses
da sua situação, “atualizarem” o seu deus.
Este era o quadro religioso entre os
pagãos, inclusive durante os dias de Jesus Cristo. Que tipo de “Deus” era este
em que os povos criam, que precisava ser informado ou que ficava
hesitante, precisando ser convencido a
agir pela insistência dos homens?!
No entanto, a alusão aos gentios não se
configura com exclusiva; entre os judeus, alguns escribas gostavam de fazer
orações longas para poder se engrandecer
e esconder a sua impiedade. Jesus Cristo nos advertiu quanto a isso, dizendo: “Guardai-vos
dos escribas, que gostam de andar com vestes talares e das saudações nas
praças; e das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos primeiros lugares nos
banquetes; os quais devoram as casas das viúvas e, para o justificar, fazem
longas orações; estes sofrerão juízo muito mais severo” (Mc 12. 38-40).
Agostinho observa que “toda essa abundância
de palavras vem dos gentios, que se preocupam
mais em exercitar sua língua do que purificar o coração. Esforçam-se
eles em aplicar também esse linguajar frívolo na oração para tentar dobrar a
Deus. Julgam que alguém pode incliná-lo com o fluxo de palavras.”[110]
Biblicamente aprendemos que “a
finalidade da oração é expressar a Deus nosso reconhecimento de que Ele sabe o
de que temos necessidade”.[111] Não precisamos
ficar com repetições gaguejantes e intermináveis, porque Deus sabe do que
necessitamos. A Bíblia, mesmo sem exclusivisar como corretas as orações
breves nos apresenta uma série de
exemplos de orações que se expressam em poucas palavras (Vd. Ex 32.31-32; 1 Rs 3.6-9; 18.36-37; 2 Rs 19.14-19; 1 Cr
4.10; Pv 30.7-9; Mt 23.14; Lc 5.8; 18.13; 23.42; At 7.60; Ef 3.14-19).
É lógico que as nossas orações não devem
ser avaliadas por sua “extensão”. Se as “longas” orações não são sinônimo de
piedade; do mesmo modo, a sua “brevidade” não indica necessariamente a nossa
fé. O que realmente importa aqui é que as nossas orações sejam feitas ao Pai,
com sinceridade, com objetividade, tendo como elemento norteador as promessas
de Deus.
Calvino (1509-1564) assim se expressou:
“Os crentes não
oram com a intenção de informar a Deus a respeito das coisas que Ele desconheça,
ou para incitá-lo a cumprir o Seu dever,
ou para apressá-Lo, como se Ele fosse relutante. Pelo contrário, eles oram para que assim possam despertar-se e
buscá-Lo, e assim exercitem sua fé na meditação das Suas promessas, e aliviem
suas ansiedades, deixando-as nas mãos dEle; numa palavra, oram com o fim de
declarar que sua esperança e expectativa das coisas boas, para eles mesmos e
para os outros, está só nEle”.[112]
A
Palavra de Deus é o manual de nossas orações: “Toda a Palavra de Deus é útil
para nos dirigir em oração.”[113] Devemos ser
guiados não pelos nossos pensamentos ou por aquilo que julgamos que Deus
deveria nos conceder, mas sim, por tudo aquilo que Deus nos promete. “As
promessas de Deus contêm a matéria da oração e definem as suas dimensões.
Aquilo que Deus tem prometido, tudo quanto Ele tem prometido, e nada mais,
sobre isso podemos orar.”[114]
A oração é um atestado da consciência de
nossa fragilidade acompanhada da certeza do poder de Deus. “Orar não é tanto um
ato, mas uma atitude – atitude de dependência de Deus. Orar é fazer confissão
de nossa fraqueza, como criaturas que somos, de nossa total incapacidade. Orar
é reconhecer nossa necessidade e expô-la.”[115]
Um outro aspecto, é que a nossa oratória
constituída de grandes recursos lingüisticos e frases bem montadas, nada tem a ver com a oração. Comentando o
Salmo 17, Calvino (1509-1564) acentua: “.... quando nos apresentarmos diante de
Deus em oração, não devemos fazer isso com os ornamentos e os artifícios da
eloqüência, pois a retórica mais excelente e a graça mais atraente que
porventura possuamos diante dele consistem na mais pura simplicidade.”[116]
4) Reverente (Mt 6.9):
“Portanto, vós orareis assim: Pai
nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome” (Mt 6.9).
No verso 9, Jesus apresenta um forte
contraste com a prática condenada, como que dizendo: “Vós, porém, como meus
discípulos deveis orar assim....”.[117] Jesus então,
ensina os seus discípulos a iniciar a oração com a meditação da glória de Deus.
Aparentemente simples, na prática, nos parece uma dura e disciplinadora lição.
Procuramos Deus nos limites de nossas forças, confessando de forma contundente
a nossa limitação; no entanto, Jesus Cristo nos desafia a esquecer as nossas
questões, os nossos problemas, e a conduzir os nossos olhos para a glória de
Deus... “Antes de começarmos a pensar em nós mesmos e em nossas próprias
necessidades, antes de nossa preocupação com o próximo, devemos começar nossas
orações por esse grande interesse acerca do Senhor Deus, de Sua honra, de Sua
glória”.[118]
Jesus quer nos educar de tal forma, que
tenhamos em tudo, a começar pela oração, o senso de prioridade e de urgência,
já que o imperativo aoristo indica isto;[119] Ele nos mostra
que por mais sérios e graves que sejam os nossos problemas e preocupações, Deus
deve ter a primazia. “Somente quando se dá a Deus seu lugar próprio tudo o mais
passa a ocupar o lugar que lhe corresponde”.[120] Nesta oração,
encontramos uma demonstração prática do ensino de Jesus: “Buscai, pois, em
primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão
acrescentadas” (Mt 6.33).
Martyn
Lloyd-Jones (1899-1981), comenta:
“Se quisermos
conhecer a Deus e ser abençoados por Ele, precisamos começar as nossas orações
pela adoração à Sua pessoa. Precisamos orar, dizendo: ‘santificado seja o teu nome’,
dizendo-Lhe que, antes de mencionarmos qualquer preocupação conosco, o nosso
mais profundo anelo é que Ele seja conhecido entre os homens.”[121]
Neste ensinamento há outro ponto que deve
se realçado: Quando oramos, estamos falando com o nosso Pai. Todavia, devemos
ter em mente também que Deus é um Pai Santo, que deve ser reverenciado e
adorado. Jesus Cristo, na oração sacerdotal, assim se refere ao Pai: “Pai Santo”
(Jo 17.11). “Este Deus, a quem chamamos
Pai, é o Deus de quem devemos nos aproximar com reverência e adoração, com
temor e maravilha. Deus é nosso Pai que está nos céus, e nEle se combinam o
amor e a santidade,” interpreta corretamente Barclay.[122]
É impossível louvar a Deus sem que sejamos
tomados de um reverente temor diante da Sua grandeza. “O temor do Senhor é o
princípio da sabedoria; revelam prudência todos os que a praticam. O seu louvor
permanece para sempre” (Sl 111.10).
O alto privilégio que temos de nos
relacionar com Deus através de Jesus Cristo deve estar sempre associado à visão
da grandeza de Deus, que nos conduz ao Seu serviço com santo temor. “... Por
isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos
a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é
fogo consumidor” (Hb 12.28-29).
Davi inicia o Salmo 51 – que é uma mescla
de meditação e oração[123] –, dizendo: “A
ti, Senhor, elevo a minha alma” (Sl 25.1). O salmista sabe a Quem se
dirige, daí ele falar de elevar a sua alma: Deus é santo e soberano; a oração
tem sempre o sentido de enlevo espiritual ainda que seja de confissão de
pecados... Falar com Deus sempre é um ato de elevar a nossa alma.
Algumas pessoas, com uma idéia equivocada
de “intimidade com Deus”, pensam que podem se aproximar dEle de qualquer
maneira, tratá-Lo como a um igual ou em muitos casos, até mesmo como a um ser
inferior a quem fazem verdadeiras imposições em suas “orações”. Ao contrário disso, a Palavra de
Deus nos ensina que a nossa proximidade de Deus, antes de nos conduzir a uma
suposta intimidade equivocada com Ele, dá-nos a perfeita dimensão da Sua
gloriosa santidade e que, portanto, devemos nos aproximar dEle em adoração e
respeito.[124] Davi é
enfático: “A intimidade do Senhor é para os que o temem, aos quais ele dará
a conhecer a sua aliança” (Sl 25.14). Os “íntimos” de Deus são aqueles que
O temem e Lhe obedecem!
Salomão, falando sobre Deus, diz que Ele
domina sobre o céu e a terra, não podendo o seu poder ser contido por estes. “Eis
que os céus, e até o céu dos céus, não te podem conter” (1 Rs 8.27).
Considerando isto, Jesus, o Deus encarnado,
nos ensina a começar a nossa oração reconhecendo quem é Deus, proclamando a Sua
Gloriosa Santidade!: ”Santificado seja o teu nome” (Mt 5.9/Is 29.23; Ez 36.23).
No entanto, devido à nossa limitação de cumprir este ato de glorificação de
forma adequada, rogamos que Deus mesmo santifique o Seu nome e implante o Seu
reino.[125]
Jesus declara a santidade do nome de Deus. O
que significa isto? É necessário que entendamos que, no mundo judeu, o nome
significa a própria pessoa, por isso, falar no nome de Deus é falar no próprio
Deus: a Sua natureza e caráter. O Nome
de Deus é a Sua própria natureza. O nome envolve tudo quanto nos foi revelado a
Seu respeito: Todos os Seus atributos e
todas as Suas obras.[126] Declarar a
santidade de Deus significa proclamar que o Seu ser, a Sua Palavra e as Suas
obras são santos. O nome de Deus está relacionado à Sua revelação;[127] Jesus revelou
(fanerw/n[128] (phanerõn) =
“tornar claro”; “manifestar”, “fazer conhecido”) o nome do Pai (Jo 17.6);[129] por outro lado,
a santificação do Seu nome pressupõe o conhecimento dAquele a quem o nome
representa; ou seja, conhecer
experimentalmente a Deus (Sl 9.10/Sl 20.7).[130]
Nesta oração Jesus enfoca a honra de Deus
entre os homens. Quando oramos estamos desejosos de que o caráter santo e
bondoso de Deus seja reconhecido e respeitado entre os homens, como já sucede
nos céus.
Quando oramos, somos convidados a meditar
naquilo que Deus é e tem feito. Ao dizermos: “santificado seja o teu nome”,
estamos convidando a todos os homens a reverenciarem a Deus, reconhecendo Sua
santidade; estamos, como Davi, declarando de forma incisiva: “Engrandecei o
Senhor comigo e todos à uma lhe exaltemos o nome” (Sl 34.3); de modo
semelhante ao salmista que diz: “Aclamai a Deus, toda a terra. Salmodiai a
glória do seu nome, dai glória ao seu louvor” (Sl 66.1-2).
A nossa oração deve ser sempre um ato de
glorificação a Deus. Nós O glorificamos quando reconhecemos quem é Deus e, pelo
Espírito, nos dispomos a cumprir a Sua vontade, proclamando a Sua majestade e
glória reveladas no Seu nome (Jo 17.4,6).
O
Catecismo de Heidelberg (1563), à questão 122 – “Qual é a primeira petição?” –, reponde:
“‘Santificado
seja o teu nome.’ Isto é: Ajuda-nos primeiro que tudo, a conhecer-te, glorificar-te
e louvar-te e todas as tuas obras, pelas quais brilham o teu poder onipotente,
a tua sabedoria, bondade, justiça, misericórdia e verdade. E de tal modo disciplina toda a nossa vida,
no que diz respeito a pensamento, palavras e obras, que teu nome nunca seja
blasfemado por nossa causa, mas seja sempre honrado e louvado.”
5) Submissa (Mt 6.10):
“... Faça-se a tua vontade, assim na
terra como no céu” (Mt 6.10). A oração não é uma tentativa de mudar a
vontade de Deus, mas sim a manifestação sincera do nosso desejo de submeter-Lhe
os nossos projetos, aspirações, sonhos e necessidades... “A oração, quando é autêntica,
sempre é um intento de submeter nossos desejos à vontade de Deus.”[131] Esta submissão
não é algo simplesmente aprendido pela razão, embora mesmo racionalmente temos
argumentos para assim proceder, pelo fato de sabermos que Deus é sábio, bondoso
e onisciente. “Somente o Espírito pode capacitar-nos a subordinar todos os
nossos desejos à glória divina”.[132] A submissão a
Deus é um aprendizado da fé, através de nossa comunhão com Ele.
Quando pedimos que Deus faça a Sua vontade,
o fazemos não resignadamente, como se não tivesse jeito mesmo, ou como se Deus
fosse o nosso inimigo que nos venceu e que agora só resta nos submeter
humilhantemente... Não! A nossa oração é feita com amor e confiança, certos de
que a vontade de Deus é sempre a melhor, de que ela sempre é boa, agradável e
perfeita (Rm 12.2); por isso, temos prazer em cumpri-la, conforme bem
expressaram Davi e Paulo, respectivamente: “Agrada-me fazer a tua vontade, ó
Deus meu; dentro em meu coração está a tua lei” (Sl 40.8). “Não servindo
à vista, como para agradar a homens, mas como servos de Cristo, fazendo de
coração a vontade de Deus” (Ef 6.6).
Ao orarmos sinceramente, conforme nos
ensinam as Escrituras, estamos submetendo a nossa vontade a Deus; isto
significa que não pretendemos ensinar a Deus, nem mudar a Sua vontade; antes,
nos colocamos diante dEle dizendo: Eu creio que a Tua vontade é a melhor para a
minha vida, cumpre em mim todo o Teu propósito. Orar é entregar confiantemente
o nosso futuro a Deus a fim de que Ele concretize Sua eterna e santa vontade em
nós. A oração revela o nosso desejo de que a vontade de Deus se realize.[133]
J.
Calvino (1509-1564), comentando esta petição, diz:
“Com esta
prece somos induzidos à negação de nós mesmos, para que Deus nos reja conforme
o Seu arbítrio. Nem somente isto, mas também que, a nada reduzidos a mente o
coração nossos, crie Deus em nós mente nova e novo coração, para que em nós não
sintamos qualquer frêmito de desejo que a pura anuência para com a Sua vontade.
Em suma, que não queiramos nós próprios algo de nós mesmos; pelo contrário, que
Seu Espírito nos governe o coração, para que, ensinando-nos Ele interiormente,
aprendamos a amar as cousas que lhe aprazem, a, porém, odiar as que Lhe
desagradam. De onde também isto se segue: que todos e quantos sentimos à vontade se Lhe opõem, a esses renda-os e
vãos e írritos.”[134]
A Oração do Senhor nos ensina a pedir a
Deus que realize a Sua vontade aqui na terra como é feita no céu. Oramos para
que a vida na terra se aproxime o máximo possível a do céu, onde os anjos cumprem
perfeitamente a vontade de Deus (Sl 103.21).[135]
A
vinda do reino (Mt 6.10) é o resultado lógico do cumprimento da vontade de
Deus. Quando assim oramos, estamos seguros de que Deus age sempre em a) Sabedoria; por isso confiamos
nos Seus propósitos; b) Poder; sabemos que Ele é poderoso para
cumprir perfeita e totalmente os Seus propósitos; c) Fidelidade;
Deus é fiel a Si mesmo e por isso, se revela fiel a nós através de Suas
promessas; d) Amor; a Sua vontade é sempre amorosa; o amor de
Deus é aquele que se sacrifica pelo Seu povo.
Finalizando a análise deste princípio,
devemos mencionar um outro: A
submissão. A submissão deve reger as nossas orações. Esta atitude vemos
plenamente exemplificada em Cristo, em Sua oração proferida próxima ao Seu
martírio; “Meu Pai: Se possível, passa de mim este cálice! Todavia, não seja
como eu quero, e, sim, como tu queres” (Mt 26.39). O ministério terreno de
Cristo foi uma manifestação constante da Sua obediência desde a Sua encarnação,
passando por todos os desafios inerentes à Sua missão, até a Sua auto-entrega
na cruz em favor do Seu povo (Vd. Fp 2.5-8; Hb 5.8).
6) Confessante (Mt 6.12):
“...
perdoa-nos as nossas dívidas” (Mt 6.12). Ao orarmos reconhecendo a
glória de Deus; a honra que devemos tributar à Sua pessoa, somos conduzidos
naturalmente a olharmos para nós mesmos; e neste ato, temos uma nítida visão do
nosso pecado. Esta foi a experiência de Isaías diante da majestosa visão de
Deus (Vd. Is 6.1-5). “A visão do Rei divino humilhou Isaías até ao pó,
porque o levou a ver sua própria insignificância”.[136] “Nada há de
melhor, para desenvolver esse santo temor, do que o reconhecimento da soberana
majestade de Deus”.[137]
A contemplação da majestade de Deus e o
reconhecimento do nosso pecado nos levam a confessá-lo a Deus, rogando-Lhe
perdão. E o fato é que todos nós somos pecadores. “Se dissermos que não
temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós”
(1 Jo 1.9). O perdão de Deus é o princípio fundamental para o nosso
relacionamento com Ele. Sem o Seu perdão, como poderemos orar? Por isso,
precisamos iniciar com o perdão; todos nós carecemos da consciência do perdão
de Deus.[138]
Na Oração do “Pai Nosso”, a palavra
empregada para “dívida” refere-se a uma dívida pendente que precisa ser
paga e ao mesmo tempo assinala que não dispomos de recursos para fazê-lo.
Calvino comenta o emprego do termo “dívida” para se referir aos nossos pecados,
dizendo:
“Aos
pecados, porém, Cristo designa de dívidas, porque lhes devemos a pena, nem
poderíamos de qualquer modo satisfazê-la, a menos que fôssemos desobrigados por
esta remissão, que é um perdão de Sua gratuita misericórdia, quando Ele próprio
generosamente expunge estas dívidas, nenhum pagamento de nós recebendo; pelo
contrário, de Sua própria misericórdia a Si satisfazendo em Cristo, Que a Si
Mesmo Se entregou, uma vez em compensação (Rm 3.24).”[139]
Esta oração contém em si uma confissão
expressa do nosso endividamento para com Deus e a nossa incapacidade de “saldar”
a dívida. Todavia sobre este ponto voltaremos a falar em momento oportuno...
7) Suplicante (Mt 6.10-13):
Uma
das coisas que mais fazemos, quando oramos, é pedir, rogar, suplicar algo a
Deus. De fato, orar é abrir o nosso coração a Jesus, expondo-Lhe nossas
carências, angustias, temores, frustrações, projetos... Sabemos, contudo, que
orar não é apenas pedir mas, também, interceder, agradecer, louvar, confessar,
adorar. Todavia, a súplica é-nos ensinada na Palavra de Deus e, aqui, na oração
do “Pai Nosso”, além de adoração e confissão, encontramos também súplica.
Na súplica devemos ter sempre patente em
nossos corações as promessas de Deus: Tudo quanto Deus prometeu deve ser o alvo
de nossas petições; nem mais nem menos. Calvino (1509-1564) colocou a questão
nestes termos:
“... Nada se nos
propõe dever-se esperar da parte do Senhor que também pelas preces não sejamos
ordenados a pedir, tão verdadeiro é que através da oração se escavam os tesouros
que, indicados no Evangelho do Senhor, nossa fé visualizando os haja.”[140]
No exercício da oração somos educados a
moderar os nossos desejos, visto que os colocamos diante do Deus Santo. O
sentido é o seguinte: Temos uma relação filial de confiança com o nosso Deus,
expomo-Lhe a consciência de nossas carências.
Todavia, como bem sabemos, nos dirigimos ao Senhor da glória, a Quem fica bem o
reverente temor e adoração. Deste modo, somos estimulados a santificar os
nossos desejos, rogando a Deus que eduque a nossa mente, as nossas emoções e a
nossa vontade; somente assim, poderemos orar: “seja feita a Tua vontade”. Amém.
conclusão: o objetivo divino nos meios de graça &
nossa responsabilidade:
“Ninguém pode
ser herdeiro do reino celestial sem que antes seja conformado ao Filho
Unigênito de Deus.” – João Calvino, Exposição
de Romanos, (8.29), p. 296.
Devemos usar de todos os meios que Deus nos
fornece para o nosso aperfeiçoamento; daí, as recomendações bíblicas para que
cresçamos, desenvolvamos a nossa fé: “... Desenvolvei a vossa salvação
com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o
realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.12b-13). "Finalmente,
irmãos, nós vos rogamos e exortamos no Senhor Jesus que, como de nós
recebestes, quanto à maneira por que deveis viver e agradar a Deus, e
efetivamente estais fazendo, continueis, progredindo cada vez mais”
(1 Ts 4.1). “Contudo vos exortamos, irmãos, a progredirdes cada vez mais”
(1 Ts 4.10). "Desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o
genuíno leite espiritual, para que por ele vos seja dado crescimento para a
salvação” (1 Pe 2.2). "Antes, crescei na graça e no
conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 3.18).
Aqui, também, subjaz a importância da nossa
atividade em nossa santificação: Deus nos oferece todos os recursos para o
nosso crescimento, dá-nos uma nova disposição e requer o uso consciente, responsável
e submisso do que Ele nos tem oferecido (Vd. Rm 12.1-3; Gl 5.13-16, 25,26; Hb 12.14; 1 Pe 1.13-15; 2 Pe 1.3-11).[141] “A
palavra [santo] implica tanto devoção quanto assimilação. Devoção no sentido de
viver uma vida de serviço a Deus; assimilação, no sentido de imitação, conformidade
e serviço da forma como próprio Deus serve.”[142]
É o Espírito Quem nos conduz à conformidade
da imagem de Cristo, que é o nosso modelo por excelência, a meta definitiva de
todo povo de Deus. “Aos que de antemão conheceu, também os predestinou para
serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito
entre muitos irmãos” (Rm 8.29).
A Palavra de Deus é o alimento
fundamental que Deus nos oferece para que possamos crescer em nossa fé,
permanecendo firmes contra todas as ciladas do maligno, bem como em todas as
perseguições.
Jesus, explicando a “Parábola do Semeador”,
diz: “A que caiu na boa terra são os que, tendo ouvido de bom e reto
coração, retêm a palavra; estes frutificam com perseverança” (Lc 8.15).
Aqui aprendemos que a Palavra de Deus
produz frutos de forma perseverante. A vida cristã é produtiva espiritualmente
e, também, é resistente em sua fé. A Palavra de Deus foi escrita para nos
ensinar a respeito de Deus e, para que, assim, conhecendo-O, possamos
perseverar em meio às tribulações: “Pois tudo quando outrora foi escrito,
para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência, e pela
consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15.4).
Se nós quisermos realmente perseverar
firmes em nossa fé, precisamos fazer da Bíblia o nosso alimento cotidiano. Nela
temos a palavra perseverante e consoladora de Deus, tendo, também, a resposta
para todas as nossas necessidades.
A
nossa perseverança está ligada à prática da Palavra de Deus. No Apocalipse, o
Anjo diz àqueles que suportaram intensa perseguição: “Aqui está a
perseverança dos santos, os que
guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus Cristo” (Ap 14.12). (Vd. Ap
13.10).
Pedro nos diz que Deus nos deu todas as
coisas para o nosso crescimento espiritual, sendo, por isso mesmo, nossa
responsabilidade nos esforçar, usando os recursos de Deus, para fazer a
Sua vontade e não tornar vã a Sua graça
a nós manifesta (1 Co 15.10; 2 Co 6.1). “Deus nos tem munido com mais de uma
espécie de auxílio, desde que não sejamos indolentes em fazer uso do que nos é
oferecido.”[143] Devemos,
portanto, associar-nos à graça de Deus no aperfeiçoamento de nossa salvação.
Conforme temos insistido, é nestes termos que Pedro escreve: “Visto como
pelo Seu divino poder nos têm sido doadas todas as cousas que conduzem à
piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria
glória e virtude, pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui
grandes promessas, para que por elas vos torneis co-participantes da natureza
divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo, por isso mesmo,
vós, reunindo toda a vossa diligência (Spoudh/ = “esforço”, “entusiasmo”,
“zelo”, “pressa”),[144] associai com a
vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o
domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a
piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor. Porque
estas cousas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais
nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus
Cristo” (2
Pe 1.3-8).
Pedro, por considerar este ponto de extrema
relevância, insiste em nossa responsabilidade de assim proceder, agindo com
diligência: “Por isso, irmãos, procurai, com diligência (Spouda/zw = “ser
zeloso”, “fazer todo o esforço possível”)[145] cada vez maior,
confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não
tropeçareis em tempo algum” (2 Pe 1.10). Portanto, podemos perceber que o segredo da
vida cristã, a sua segurança não está na inatividade, mas, sim em constante trabalho
de desenvolvimento de nossa fé, sabendo que desta maneira jamais tropeçaremos
de modo definitivo.
Deus
exige de nós, os crentes, "o uso diligente de todos os meios exteriores
pelos quais Cristo nos comunica as bênçãos da salvação"[146] e que não
negligenciemos os “meios de preservação”.[147] Portanto, não deixemos de ler e meditar na
Palavra de Deus, esforçando-nos por vivencia-la; cultivemos a prática sincera e
submissa da oração, participemos conscientemente do culto e da Santa Ceia.
[1] D.M. Lloyd-Jones, As
Insondáveis Riquezas de Cristo, São Paulo, PES., 1992, p. 254. Do mesmo
modo, Vd. J.C. Ryle, Santificação, São José dos Campos, SP., FIEL.,
1987, p. 39.
[2]“Os sofrimentos desta vida longe
estão de obstruir nossa salvação; antes, ao contrário, são seus assistentes.
(...) Embora os eleitos e os réprobos se vejam expostos, sem distinção, aos
mesmos males, todavia existe uma enorme diferença entre eles, pois Deus instrui
os crentes pela instrumentalidade das aflições e consolida sua salvação. (...)
As aflições, portanto, não devem ser um motivo para nos sentirmos entristecidos,
amargurados ou sobrecarregados, a menos que também reprovemos a eleição do
Senhor, pela qual fomos predestinados para a vida, e vivamos relutantes em
levar em nosso ser a imagem do Filho de Deus, por meio da qual somos preparados
para a glória celestial”. [J. Calvino, Exposição de Romanos, São Paulo,
Paracletos, 1997, (8.28,29), p. 293,295].
[3]
Vd. Herman Hoeksema, Reformed Dogmatics, 3ª ed. Grand Rapids, Michigan,
Reformed Publishing Association, 1976, p. 632-634.
[4]Ver também: Catecismo Maior de
Westminster, Perg. 154.
[5] Louis Berkhof, Teologia
Sistemática, Campinas, SP., Luz para
o Caminho, 1990, p. 613.
[6] Louis Berkhof, Teologia
Sistemática, p. 609.
[7]
Charles Hodge, Systematic Theology, Grand Rapids, Michigan,
Eerdmans,1976 (Reprinted), Vol. III,
p. 466. Em outro lugar: “Os meios de graça são (...) aqueles que Deus ordenou
com o objetivo de comunicar as influências vivificadoras e santificadoras do
Espírito às almas dos homens.” (Charles Hodge, Systematic Theology, Vol. III,
p. 708). Vd. também, Herman Hoeksema, Reformed Dogmatics, p. 634.
[8] Vd. Calvino, As Institutas, I.5.10; Agostinho, Confissões, 9ª ed. Porto, Livraria Apostolado da Imprensa, 1977, I.1.1.
p. 27-28; J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, São Paulo, Mundo Cristão,
1980, especialmente, p. 26-35.
[9]J. Calvino
observou que: “Só quando Deus
irradia em nós a luz de seu Espírito é que a Palavra logra produzir algum
efeito. Daí a vocação interna, que só é eficaz no eleito e apropriada para ele,
distingue-se da voz externa dos homens.” [J. Calvino, Exposição de Romanos,
(10.16), p. 374]. A vocação eficaz do
eleito, “não consiste somente na pregação da Palavra, senão também na
iluminação do Espírito Santo.” (J. Calvino, As Institutas, III.24.2).
[10]J.I. Packer, O Conhecimento de
Deus, p. 15.
[11] Catecismo Maior de
Westminster, Perg. 155.
[12] Catecismo Maior de
Westminster, Perg. 157.
[13] Os principais líderes eram:
Nícolas Storck, Marcos Tomás e Marcos Stübner. Tomás Münzer (c. 1490-1525), tornar-se-ia o mais famoso
dos que foram influenciados por esse círculo, tendo mais tarde as suas
idéias próprias, ainda que fiel aos mesmos princípios. (Vd. George H. Williams,
La Reforma Radical, México,
Fondo de Cultura Económica, 1983, p. 66ss; O Nascimento e
Afirmação da Reforma, São Paulo, Pioneira, 1989, p. 101).
[14]Apud J.H. Merle D'aubigné,
História da Reforma do
Décimo-Sexto Século, III, p. 64. Mais tarde, Calvino escreveria,
possivelmente referindo-se aos “libertinos”, também conhecidos como
“espirituais”: “Ora, surgiram, em tempos recentes, certos desvairados que,
arrogando-se, com extremada presunção, o magistério do Espírito, fazem pouco
caso de toda leitura da Bíblia e se riem da simplicidade daqueles que ainda
seguem, como eles próprios a chamam, a letra morta e que mata.
“Eu, porém, gostaria de saber
deles que tal é esse Espírito de cuja inspiração se transportam a alturas tão sublimadas que ousem desprezar
como pueril e rasteiro o ensino das Escrituras? Ora, se respondem que é o
Espírito de Cristo, certeza dessa espécie é absurdamente ridícula, se, na
realidade, concedem, segundo penso, que os Apóstolos de Cristo e os demais
fiéis na Igreja Primitiva não de outro Espírito hão sido iluminados. O fato é
que nenhum deles daí aprendeu o menoscabo da Palavra de Deus; ao contrário,
cada um foi antes imbuído de maior reverência, como seus escritos o atestam mui
luminosamente.....
“... Não é função do Espírito
Que nos foi prometido configurar novas e inauditas revelações ou forjar um novo
gênero de doutrina, mediante quê sejamos distraídos do ensino do Evangelho já
recebido; ao contrário, Sua função é selar-nos na mente aquela própria doutrina
que é recomendada através do Evangelho.”
(J. Calvino, As Institutas, I.9.1).
Vd. também: As Institutas, I.9.2-3.
[15]
Cf. J.H. Merle
D'aubigné, História da Reforma
do Décimo-Sexto Século, III, p. 64-65; Heinrich W. Erbkam, Münzer: In:
Philip Schaff, ed. Religious Encyclopaedia: or Dictionary of Biblical,
Historical, Doctrinal, and Practical Theology, Vol. II,
p. 1596a).
[16] James Atkinson, Lutero e o Nacimiento del Protestantismo, p.
254.
[17]J.H. Merle D'aubigné, História da Reforma do Décimo-Sexto Século, III,
p. 71.
[18]Justificando-se com o príncipe o
motivo da sua volta, escreveu-lhe no dia de sua chegada a Wittenberg, 7 de
março de 1522: “Não são acaso os Wittemberguenses as minhas ovelhas? Não mas teria
confiado Deus? E não deveria eu, se necessário, expor-me à morte por causa
delas?” (Apud J.H.
Merle D'aubigné, História da Reforma do Décimo-Sexto Século, III,
p. 83).
[19]Lutero, iniciando no dia 09/3/1522,
pregou oito dias consecutivos em Wittenberg. Vd. o seu primeiro sermão In:
Martinho Lutero, Pelo Evangelho de Cristo: Obras selecionadas de momentos
decisivos da Reforma, Porto Alegre/São
Leopoldo, RS., Concórdia Editora/Editora Sinodal, 1984, p. 153-161. Quanto aos detalhes da sua volta, Vd: J.H.
Merle D'aubigné, História da Reforma do Décimo-Sexto Século, III, p. 72ss.; James Atkinson, Lutero
e o Nacimiento del Protestantismo, p. 254ss.
[20] Martinho Lutero, Uma Prédica
Para que se Mandem os Filhos à Escola (1530): In: Martinho Lutero: Obras Selecionadas,
1995, Vol. 5, p. 334.
[21] João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo, Paracletos,
1999, Vol. 1, (Sl 25.14), p. 558.
[22] Hendrikus Berkhof, La Doctrina del Espíritu Santo, p. 80. Do mesmo modo, A.A. Hoekema, Salvos
pela Graça, p. 37.
[23] J. Calvino, Breve Tratado Sobre La Santa Cena: In: Tratados
Breves, Buenos Aires/México, La
Aurora/Casa Unida de Publicaciones, 1959, p. 9.
[24] Quanto à origem das Escrituras e
a sua Infalibilidade, Vd. Hermisten M.P. Costa, A Inspiração e Inerrância
das Escrituras: Uma Perspectiva Reformada, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1998.
[25] Apud Ph. J. Spener, Pia Desideria, São Bernardo do Campo, SP. Imprensa Metodista,
1985, p. 50.
[26] Vd. Hermisten M.P. Costa, Liberdade Cristã, São Paulo, 1996. (Trabalho não publicado).
[27] Encontrei uma boa definição de
meditação em Packer: “Meditação é o ato de trazer à mente as várias coisas que
se conhecem sobre as atividades, os modos, os propósitos e as promessas de
Deus; pensar em tudo isso, refletir sobre essas coisas e aplicá-las à própria
vida.” (J.I. Packer, O
Conhecimento de Deus, p. 15).
[28]João Calvino, O Livro dos
Salmos, Vol. 1, (Sl 1.2), p. 53.
[29] Charles Hodge, O Caminho da
Vida, New York, Sociedade Americana de Tractados, (s.d.), p. 294.
[30] Hans W. Wolff, Antropologia
do Antigo Testamento, 2ª ed. São Paulo, Loyola, 1983 p. 66.
[31] G. Ernest Wright (1907-1974)
salienta que na doutrina de Israel sobre o homem, “o EU, ou a identidade, não
está associado a qualquer faculdade particular, ou órgão do ser humano, quer
seja sua natureza psíquica, seu espírito ou sua razão. O EU é a criatura total.
Pensa-se no homem com ser volitivo e ativo. Se algum termo especial, mais que
outro, sugere a idéia pessoal é a palavra ‘coração’, mas o ‘coração’ não é
parte ou faculdade do homem.” (G.E. Wright, A Doutrina Bíblica do Homem na
Sociedade, São Paulo, ASTE., 1966, p. 137).
[32] Walther Eichrodt, Teologia Del Antiguo Testamento, Vol. II,
p. 150.
[33] B.O. Banwell, Coração: In: J.D.
Douglas, ed. org. O Novo Dicionário da Bíblia, I, p. 322. “O termo
‘coração’ [no AT] tem uma referência mais ampla. É colocado em relacionamento
com a totalidade da natureza psíquica do homem como o selo ou instrumento de
suas manifestações emocionais, volitivas e intelectuais.” (H.D. McDonald, Doutrina do Homem: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia
Histórico-Teológica da Igreja Cristã, II,
p. 260). Mais recentemente, lendo o teólogo reformado, Spykman,
encontrei perspectiva semelhante: “O coração representa o centro unificador de
toda a existência do homem, o ponto de concentração espiritual de todo nosso
ser, o aspecto interior reflexivo que estabelece a direção a todas as relações
de nossa vida. É a vertente de todos nossos desejos, pensamentos, sentimentos,
de nosso agir, e de qualquer outra expressão da vida. É a fonte principal da
qual flui todo movimento do intelecto do homem, de suas emoções, e de sua
vontade, como também toda outra ‘faculdade’ ou modo de nossa existência. Em
resumo, o coração é o mini-eu. O que tem meu coração me tem a mim, porém totalmente.”
(Gordon J. Spykman, Teología Reformacional: Un Nuevo Paradigma
para Hacer La Dogmática, Jenison, Michigan, The Evangelical Literature
League, 1994, p. 242).
[34] Conforme expressão de Vorländer.
(H. Vorländer, Homem: In: Colin Brown, ed. ger. O
Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, II, p. 376). “O ‘coração do
homem’ representa, portanto, o mais íntimo
centro que é de importância vital; aquilo que é básico, central, substantivo, e
de inescrutável essência.” (J.M. Lower, Heart: In: Merril C.
Tenney, gen. ed. The Zondervan Pictorial Encyclopaedia of the Bible, 5ª
ed. Grand Rapids, Michigan, Zondervan, 1982,
Vol. III, p. 58).
[35]
Para um estudo complementar sobre este assunto, Vejam-se: F. Stolz, Corazón:
In: Diccionario Teologico Manual del
Antiguo Testamento, Madrid, Ediciones Cristiandad, 1978, Tomo I,
p. 1176-1185; K. Rahner, Coração: In: Dicionário de Teologia, 2ª ed. São Paulo, Loyola, 1983, Vol. I,
p. 308-322; Hans W. Wolff, Antropologia do Antigo Testamento, p. 61-85;
B.O. Banwell, Coração: In: J.D. Douglas, editor org. O
Novo Dicionário da Bíblia, I, p. 322-323; J. Barton Payne, The Theology of the Older Testament, Grand Rapids, Michigan, Zondervan, (c) 1961,
p. 225-226; William Gesenius, Gesenius’ Hebrew-Chaldee Lexicon to the Old Testament, 13ª
ed. Grand Rapids, Michigan, Eerdmans, 1978, p. 427-428; Moises Chavez, Diccionario de Hebreo Biblico, El Paso, Texas, Editorial Mundo Hispano, 1992, p. 303-305; Walter Eichrodt, Teologia
del Antiguo Testamento, II, p. 148-156; F. Baumgärtel, Kardi/a: In: G.
Kittel & G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament,
Vol. III, p. 605-607 (somente para o AT); Andrew Bowling, lãbab: In: R.L.
Harris, et. al. eds. Theological Wordbook of the Old Testament, Vol. I,
§ 1071, p. 466-467; Owen R. Brandon, Coração: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica
da Igreja Cristã,
I, p. 355-357; T. Sorg, Coração:
In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do
Novo Testamento, I, p. 505-506 (somente para o AT). J. de Fraine, Coração: In: A. Van Den Born, red. Dicionário Enciclopédico da Bíblia,
2ª ed. Petrópolis,
RJ. Vozes, 1977, p. 296; Jean de Fraine & Albert Vanhoye, Coração: In:
Xavier Léon-Dufour, dir. Vocabulário de Teologia Bíblica, 3ª ed. Petrópolis,
RJ. Vozes, 1984, p. 174-177; J.M. Lower,
Heart: In: Merril C. Tenney, gen.
ed. The
Zondervan Pictorial Encyclopaedia of the Bible, III, p. 58-60; Anthony A.
Hoekema, Criados à Imagem de Deus, São Paulo, Editora Cultura Cristã,
1999, p. 233ss.
[36] Vd. Anthony A. Hoekema, Criados
à Imagem de Deus, p. 234.
[37] “A mente que entesoura as
Escrituras tem seu gosto e juízo educados por Deus.” [Derek Kidner, Salmos 73-150:
introdução e comentário, São Paulo, Vida Nova/Mundo Cristão, 1981, (Sl
119.11), p. 437].
[38] A palavra é usada uma vez, em Ez
7.22, referindo-se, ao que parece, à cidade de Jerusalém, (Calvino) ao templo
(J.B. Taylor), ao “Santo dos Santos”
(Jerônimo) ou aos tesouros do templo (Keil, Delitzsch). ARA traduz: “recesso”;
BJ: “tesouro”; ARC e ACR: “lugar oculto”. (Vejam-se também Jó
20.26; Ob 6).
[39]
Cf. C.F. Keil & F. Delitzsch, Commentary on the Old Testament, Grand
Rapids, Michigan, Eerdmans, (s.d.), Vol. 5, (Sl 119.11), p. 246. Vd. também, Albert Barnes, Notes on
the Old Testament Explanatory and Practical, 10ª ed. Grand Rapids,
Michigan, Baker Book House, 1973, (Psalms, Vol. III), (Sl 119.11), p. 181b.
[40] Vd. Hermisten M.P. Costa, A Inspiração e Inerrância das Escrituras: Uma
Perspectiva Reformada, São Paulo,
Editora Cultura Cristã, 1998, passim.
[41]
Vd. C.H. Spurgeon, The Treasury of
David, Peabody, Massachusetts, Hendrickson Publishers, (s.d), Vol. III, (Sl 119.11), p.
159.
[42] A.W. Pink, Deus é Soberano, São Paulo, Fiel, 1977, p.
137.
[43] Vd. J.I. Packer, Na Dinâmica do Espírito, p. 104-105; Russel P. Shedd, Lei, Graça e Santificação, São Paulo, Vida
Nova, 1990, p. 98-103.
[44] J. Calvino, As Institutas, I.6.2.
[45] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 17.4), p. 332-333.
[46] João Calvino, O Livro dos
Salmos, Vol. 1, (Sl 1), p. 49,50.
[47] D.M. Lloyd-Jones, Pregação
& Pregadores, São Paulo, Fiel,
1984, p. 23.
[48]João Calvino, Gálatas, São
Paulo, Paracletos, 1998, (Gl 4.26), p.
144. Vd. As Institutas, IV.1.1.
[49] Vd. Hermisten M.P. Costa, Breve Teologia da Evangelização, São Paulo, PES., 1996.
[50] F.D. Bruner, Teologia do
Espírito Santo, São Paulo, Vida
Nova, 1983, p. 129.
[51] Vd. John R.W. Stott, A Mensagem de Atos: até os confins da terra, p. 38.
[52] John R.W. Stott, Crer é também Pensar, São Paulo, ABU., 1984 (2ª impressão), p. 49.
[53]R.B. Kuiper, El Cuerpo
Glorioso de Cristo, Grand Rapids, Michigan, SLC.,
1985, p. 221.
[54]
Charles Hodge, Systematic Theology, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans,
1976 (Reprinted), Vol. III,
p. 692.
[55] Catecismo Menor de
Westminster, Perg. 98.
[56]J. Calvino, As Institutas, I.12.1
[57] “Sabemos que somos postos sobre
a terra para louvar a Deus com uma só mente e uma só boca, e que esse é o
propósito de nossa vida.” [João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 6.5), p.
129].
[58] João Calvino, O Livro dos
Salmos, São Paulo, Paracletos, 1999, Vol. 2, (Sl 40.8), p. 228.
[59] Vd. J. Calvino, As Institutas, I.9.3.
[60] J. Calvino, As Institutas, III.21.3.
[61] Agostinho, Comentários aos
Salmos, São Paulo, Paulus, 1998,
Vol. III, p. 12.
[62]Bernardo de Claraval (1090-1153),
disse: "Não permitam que eu tenha tamanha miséria, pois dar a mim o que desejo,
dar a mim o que meu coração almeja, é um dos mais terríveis julgamentos do
mundo.” (Apud Jeremiah Burroughs, Aprendendo a Estar Contente,
São Paulo, PES., 1990, p. 28).
[63]J. Calvino, Institución, III.20.34. Comentando o texto de Romanos 8.26, Calvino
diz: “O Espírito, portanto, é Quem deve
prescrever a forma de nossas orações.” [João Calvino, Exposição de Romanos, São Paulo,
Paracletos, 1997, (8.26), p. 291]. Ver também, J. Calvino, O Catecismo de Genebra,
Perg. 254.
[65] Edwin H. Palmer, El
Espiritu Santo, Edinburgh, El
Estandarte de la Verdad, (s.d.), p. 190.
[66]"A oração não é um recurso
conveniente para impormos a nossa vontade a Deus, ou para dobrar a Sua vontade
à nossa, mas, sim, o meio prescrito de subordinar a nossa vontade à de Deus. É
pela oração que buscamos a vontade de Deus, abraçamo-la e nos alinhamos com ela.
Toda oração verdadeira é uma variação do tema, Faça-se a tua vontade'."
(John R.W. Stott, I,II e III João, Introdução e Comentário, São Paulo,
Vida Nova/Mundo Cristão, 1982, p. 159).
[67]Leenhardt, comenta: “Para orar ‘como convém’ é preciso orar ‘segundo
a vontade de Deus’; isto, entretanto, não pode advir senão de Deus, Que só Se
conhece. O mais é ação estéril.” (Franz J. Leenhardt, Epístola aos Romanos, São Paulo, ASTE., 1969, p. 226).
[68] Catecismo Maior de
Westminster, Perg. 182.
[69]
Abraham Kuyper, The Work of the Holy
Spirit, p. 670.
[70] “Não temos como medir esta
intercessão pelo nosso critério carnal, pois não podemos pensar do Intercessor
como humilde suplicante diante do Pai, com os joelhos genuflexos e com as mãos
estendidas. Cristo contudo, com razão intercede por nós, visto que comparece
continuamente diante do Pai, como morto e ressurreto, que assume a posição de
eterno intercessor, defendendo-nos com eficácia e vívida oração para
reconciliar-nos com o Pai e levá-lo a ouvir-nos com prontidão.” [J. Calvino, Exposição de Romanos, (8.34), p.
304].
[71]J. Calvino, Catecismo de
Genebra, Perg. 240.
[72]J. Calvino, Catecismo de
Genebra, Perg. 243.
[73]Ph. J. Spener, Mudança para o
Futuro: Pia Desideria, São Paulo/Curitiba. PR., Encontrão Editora/Instituto Ecumênico de
Pós-Graduação em Ciências da Religião, São Bernardo do Campo, SP., 1996, p. 119.
[74]João
Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 1.2), p. 53. Em outro lugar,
Calvino escreve: “Aqui verdadeira obediência apropriadamente se distingue de uma
constrangedora e escrava sujeição. Todo serviço, pois, que porventura os homens
ofereçam a Deus será fútil e ofensivo a seus olhos a menos que, ao mesmo tempo,
ofereçam a si próprios; e, além do mais, este oferecimento por si mesmo não é
de nenhum valor a menos que seja feito espontaneamente.” [João Calvino, O
Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 40.7), p. 227].
[75] James Hastings, La Doctrina
Cristiana de la Oración, Buenos
Aires, Reproduzida de “La Reforma”,
Revista 1920, p. 91.
[76] Vejam-se, J. Calvino, Catecismo de Genebra, Perguntas
255 e 256; Catecismo Menor de Westminster, Pergunta
99.
[78] James Hastings, La Doctrina Cristiana de la Oración, p. 92.
[79] J. Calvino, As Institutas, III.20.34. Do mesmo modo Lutero diz
(1483-1546), que nesta oração “estão compreendidas (...) todas as necessidades que incessantemente nos atingem,
e cada qual é tão grande que deverá impelir-nos a rogar por causa dela ao longo
de toda a nossa vida.” (Catecismo
Maior, III.34). Vd. também, Catecismo
de Genebra, Perg. 255; Catecismo Maior de Westminster, Perg. 186.
[80] Vd. J. Calvino, As
Institutas, III.20.1.
[81] J.I. Packer, O Conhecimento
de Deus, São Paulo, Mundo Cristão, 1980, p. 194.
[82]
E. Jenni, Padre: In: Ernst Jenni & C. Westermann, eds. Diccionario Teologico Manual del Antiguo Testamento, Madrid, Ediciones Cristiandad, 1978, Vol. I, p. 36.
[83] J. Jeremias, A Mensagem
Central do Novo Testamento, 2ª ed. São Paulo, Paulinas, 1979, p. 12ss.
[84] Vd. J. Jeremias, A Mensagem
Central do Novo Testamento, p. 11-12; J. Jeremias, O Pai-Nosso, p.
33-34. A referência ao seu deus como “Pai”, é um fenômeno comum na história das
religiões, quer dos povos mais primitivos quer dos mais evoluídos
culturalmente. (Cf. G. Schrenk, pa/thr: In: G. Kittel & G.
Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids,
Michigan, Eerdmans, 1983 (Reprinted),
Vol. V, p.
951.
[85] J. Jeremias, A Mensagem
Central do Novo Testamento, p. 13.
[86] J. Jeremias, A Mensagem
Central do Novo Testamento, p. 20.
[87] Cf. A. Richardson, Introdução
à Teologia do Novo Testamento, São
Paulo, ASTE., 1966, p. 149ss.
[88] Agostinho, O Sermão da
Montanha, São Paulo, Paulinas,
1992, II.4. p. 115.
[89] “O emprego inteiramente novo, e,
para os judeus, nunca imaginado, do termo infantil e familiar ‘abbã’ na
oração é uma expressão de confiança e
obediência para com o Pai (Mc 14.36), como também de Sua autoridade incomparável (Mt 11.25ss).”
(O. Hofius, Pai: In: Colin Brown, ed. ger. O
Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo, Vida Nova, 1981-1983,
Vol. III, p. 383).
[90] J. Jeremias, O Pai Nosso,
p. 36,37; O. Hofius, Pai: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do
Novo Testamento, III, p. 382.
[91]
Cf. O. Hofius, Pai: In: Colin Brown, ed. ger. O
Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, III, p. 382.
[92] J. Jeremias, A Mensagem
Central do Novo Testamento, p. 20ss.
[93] J. Jeremias, O Pai Nosso, p. 37. Vd.
também, G. Kittel, a)bba=: In: G. Kittel & G. Friedrich, eds. Theological
Dictionary of the New Testament, Vol. I, p. 6.
[94]
O. Hofius, Pai: In: Colin Brown, ed. ger. O
Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, III, p. 383.
[95] Vd. Calvino, As Institutas, III.20.36.
[96] Conforme expressão de Lloyd-Jones
(1899-1981) (D.M. Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do Monte, São Paulo, FIEL., 1984, p. 358).
[97] Dietrich Bonhoeffer, Orando
com os Salmos, Curitiba, PR.,
Encontrão Editora, 1995, p. 12-13.
[98] Hermisten M.P. Costa, Providência
de Deus: Governo ou Fatalismo? São
Paulo, 1988, p. 16.
[99] D.M. Lloyd-Jones, Estudos no
Sermão do Monte, p. 318.
[100] Vd. William Barclay, Palavras
Chaves do Novo Testamento, São
Paulo, Vida Nova, 1988, p. 31-33.
[101] William Barclay, Palavras
Chaves do Novo Testamento, p. 32.
[102] Como bem observou Agostinho
(354-430), “O mal não é ser visto pelos homens, mas orar com o fim de ser visto
por eles.” (Agostinho, O Sermão da Montanha, II.1.3. p. 111).
[103] Agostinho, Sermão da Montanha, II.1.3. p. 112.
[104]
Charles Hodge, Systematic Theology, Vol. III, p. 701-702
[105]
J. Calvin, Commentary on a Harmony of
the Evangelists, Mattew, Mark, and Luke, Grand Rapids, Michigan, Baker, (Calvin’s Commentaries, Vol. XVI), 1981, p. 313.
[106] Esta palavra é constituída de
(Ba/ttoj = “gago” & loge/w = “falar”).
Ela é de derivação incerta; Erasmo (1467-1536), por exemplo, entendia que esta
expressão era proveniente de “Bato”, personagem descrito por Heródoto:
“Chegando a Teras, Polineto, homem de alta posição, tomou a jovem como
concubina, e o casal teve, no fim de certo tempo, um filho que gaguejava e
sibilava. Essa criança, segundo os Tereus e Cireneus, recebeu o nome de Bato”
(Heródoto, História, IV.155. Vd. Ba/ttoj: In: A
Lexicon Abridged from Liddell and Scott’s Greek-English Lexicon, London, Clarendon
Press, 1935, p. 128b). No
entanto, Heródoto, que discorda desta explicação para o nome do menino, diz que
“batus significa rei na língua
dos Líbios.” (Heródoto, História, IV.155). Também especula-se que esta expressão viria por derivação de um
poeta medíocre, Battus, que teria feito hinos extensos, cheios de repetições
(Vd. A.B. Bruce, The Gospel According to
Matthew: In: W. Robertson Nicoll, ed. The
Expositor’s Greek Testament, Grand Rapids, Michigan,
Eerdmans, 1983 (Reprinted), Vol. I,
p. 118-119; John R.W. Stott, A Mensagem do Sermão da Montanha, 3ª ed.
São Paulo, ABU., 1985, p. 146). O fato é que ninguém consegue precisar a origem
da palavra. [Para maiores detalhes, vejam-se: G. Delling,
Battaloge/w, In: G. Kittel & G. Friedrich, eds. Theological Dictionary
of the New Testament, Vol. I, p. 597; Battologe/w: In: James Hope
Moulton & George Mulligan, The Vocabulary of the Greek New Testament, Grand Rapids,
Michigan, Eerdmans, 1982 (reprinted), p. 107; H. Balz, Battaloge/w, In:
Horst Balz & Gerhard Schneider, eds. Exegetical Dictionary of New
Testament, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans, 1978-1980, Vol. I, p. 209;
Battaloge/w: In: Walter Bauer, A Greek-English Lexicon of the New
Testament, 5ª ed. Chicago, The Chicago Press, 1958, p. 137].
[107] J.R.W. Stott, A Mensagem do
Sermão da Montanha, p. 146. Neste
caso, a palavra não teria nenhuma derivação explícita, equivalendo apenas a uma
imitação repetitiva de sons sem qualquer sentido (Vd. Alford’s
Greek Testament, 7ª ed. Grand Rapids, Michigan, Baker, 1874,
(Reprinted: 1980), Vol. I,
p. 58).
[108] John A. Broadus, Comentário
do Evangelho de Mateus, 3ª ed. Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista,
1966, Vol. I, p. 199.
[109]Marvin
R. Vincent, Word Studies in the New Testament, Peabody, Massachusetts,
Hendrickson Publishers, (s.d), Vol. I,
(Mt 6.7), p. 43.
[110] Agostinho, Sermão da Montanha, II.1.3. p. 113.
[111] A.W. Pink, Deus é Soberano, p.
128.
[112]
John Calvin, Commentary on a Harmony
of the Evangelists, Mattew, Mark, and Luke, p. 314.
[113] Catecismo Menor de
Westminster, Perg. 99.
[114] A.W. Pink, Enriquecendo-se
com a Bíblia, São Paulo, Fiel, 1979, p. 47.
[115] A.W. Pink, Deus é Soberano,
p. 134.
[116] João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 17.1), p. 327-328.
[117]
Cf. R.C.H. Lenski, The Interpretation
of St. Matthew’s Gospel, Peabody,
Massachusetts, Hendrickson Publishers,
1998, p. 263.
[118] D.M. Lloyd-Jones, Estudos no
Sermão do Monte, p. 344.
[119]
Cf. A.T. Robertson, Word Pictures in
the New Testament, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House, © 1930, Vol.
I, p. 52-53.
[120]
W. Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, Buenos Aires, La Aurora,
1973, (Mateo I), Vol. I, p. 212.
[121]
D.M. Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do Monte, p. 347.
[122] W. Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, (Mateo I), p. 217.
[123] Cf. João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, p. 537.
[124]
Vd. Charles Hodge, Systematic
Theology, Vol. III, p. 702.
[125]
Vd. H. Bietenhard, Nome: In: Colin Brown, ed. ger. O
Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, Vol. III, p. 281.
[126] “‘O nome’ significa tudo quanto
está envolvido na pessoa de Deus, tudo quanto nos foi revelado a respeito de
Deus. Significa Deus em todos os Seus atributos, Deus em tudo quanto Ele é em
Si mesmo, Deus em tudo quanto Ele tem realizado e continua realizando.” (D.
M. Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do
Monte, p. 345). “O nome
significa a representação gloriosa de Deus no mundo criado”. (K. Barth, La Oración, Buenos Aires, La Aurora, 1968, p. 45).
[127] Heródoto registra uma tradição,
relacionada com os Pelasgos, os quais em tempos antigos, sacrificavam “aos
deuses todas as coisas que lhes podiam
oferecer (...) lhes dirigiam preces, não lhes dando, todavia, nem nome
nem sobrenome, pois nunca os viram designados por tal forma. Chamavam-nos
deuses, de um modo geral, considerando-lhes a função de estabelecer e manter a
ordem no universo. Não vieram a conhecer senão muito mais tarde os nomes dos
deuses, quando os egípcios os divulgaram....” (Heródoto, História, II.52). Biblicamente, “revelar o nome significa
revelar a própria pessoa e o seu caráter; assim como confiar no nome é o mesmo
que confiar na pessoa. (Sl 9.10; 20.7; 22.22; At 9.15, etc.).” (Hermisten M. P. Costa, Os Nomes do Verbo Encarnado, São Paulo, 1999, p. 2).
[128] Este verbo é empregado por João
para indicar o início da “manifestação” da glória do Filho através do milagre
da transformação da água em vinho (Jo 2.11). Coube a Cristo – Aquele que se
manifestou em carne (1 Tm 3.16; 2 Tm 1.10) –
revelar aos seus santos o “mistério” que estivera oculto a respeito da
glória de Deus, sendo confiado a Paulo este anúncio (Cl 1.26,27/Tt 1.3). Nesta
revelação do Pai no Filho, vemos a manifestação do amor do Deus Pai e do Deus
Filho (1 Jo 4.9/1 Pe 1.20). A manifestação do Filho aniquilou o pecado e o
poder do diabo (Hb 9.26; 1 Jo 3.5,8). Os irmãos de Jesus, de forma provocativa,
desafiaram-no a manifestar publicamente os Seus sinais (Jo 7.4). Através da
igreja Deus revela a fragrância do conhecimento de Cristo (2 Co 2.14). A
manifestação final do Filho será glorificante (Cl 3.4; 1 Pe 5.4; 1 Jo 3.2). Os
que abandonam definitivamente a Igreja de Cristo revelam quem realmente são (1
Jo 2.19).
[129] “A afirmação suprema de Jesus é
que nEle os homens vêem a mente, o caráter e o coração de Deus.” [William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, (Juan II), p.
233].
[130] O conhecimento de Deus deve ser
sempre o alvo cristão por excelência (Fp 3.8/Jo 17.3).
[131] W. Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, (Juan II), p. 212.
[132] A.W. Pink, Enriquecendo-se
com a Bíblia, p. 46.
[133] “Orar não é bem conseguir que
Deus faça nossa vontade, mas demonstrar
que estamos interessados tanto quanto Ele na concretização da Sua
vontade.” (Millard J. Erickson, Introdução à Teologia Sistemática, São
Paulo, Vida Nova, 1997, p. 179).
[134] J. Calvino, As Institutas,
III.20.43.
[135] O Catecismo de Heidelberg
(1563), comentando a “terceira petição”, assim interpreta:
“Concede que nós e todos os homens
renunciemos à nossa própria vontade e obedeçamos sem queixa, à tua vontade, que
com exclusividade, é boa, para que assim todos dêem cumprimento a seu dever e à
sua vocação, tão espontânea e fielmente como os anjos nos céus.” (Pergunta 124).
[136] A.W. Pink, Deus é Soberano, p.
138.
[137] A.W. Pink, Deus é Soberano,
p. 140.
[138] “Não há esperança alguma de se
obter algum favor de Deus a menos que Ele nos reconcilie consigo.” [João Calvino,
O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 25.7), p. 545].
[139] J. Calvino, As Institutas, III.20.45.
[140] Calvino, As Institutas, III.20.2.
[141] “A santificação envolve a
concentração do pensamento, do interesse, do coração, mente, vontade e propósito,
em direção à soberana vocação de Deus em Cristo Jesus e ao desempenho da
totalidade de nosso ser no uso daqueles meios que Deus instituiu com o fim de
atingir essa destinação.” (John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São
Paulo, Editora Cultura Cristã, 1993, p. 166). Do mesmo modo assevera Packer:
"A santidade envolve tanto a fé como o esforço pessoal, de nada adiantando
o esforço sem a fé, ou fé sem esforço" (J.I. Packer, Vocábulos de Deus,
São Paulo, FIEL, 1994, p. 163).
[142] J.I. Packer, O que é santidade e
por que ela é importante?: In: Bruce H. Wilkinson, ed. ger. Vitória sobre a
Tentação, 2ª ed. São Paulo, Mundo Cristão, 1999, p. 31.
[143]J. Calvino, Efésios, São
Paulo, Paracletos, 1998, (6.11), p. 188.
[144] Spoudh/ (spoudê) ocorre nos
seguintes textos do NT: * Mc 6.25; Lc 1.39; Rm 12.8,11; 2 Co 7.11,12; 8.7,8,16;
Hb 6.11; 2 Pe 1.5; Jd 3.
[145] Spouda/zw (spoudazõ) ocorre nos
seguintes textos do NT: * Gl 2.10; Ef 4.3; 1 Ts 2.17; 2 Tm 2.15; 4.9,21; Tt
3.12; Hb 4.11; 2 Pe 1.10,15; 3.14.
[146] Catecismo Menor de
Westminster, Perg. 85.
[147] Confissão de Westminster, XVII.3.
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