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terça-feira, 1 de julho de 2014

Doutrina da Perseverança dos Santos: Inferências Lógicas



Rev. Paulo Anglada
A doutrina reformada da perseverança dos santos é inferida:
Das demais doutrinas da graça e dos atributos divinos
Aqueles que reconhecem a corrupção do coração humano em conseqüência da queda (a depravação total) têm que aceitar que a salvação vem do Senhor, o qual é soberano para salvar (eleição incondicional). E se a salvação provém da eleição soberana, estes também têm necessariamente que crer na morte expiatória de Cristo na cruz pelos eleitos (eleição limitada). Estes, por sua vez, precisam admitir a soberania do Espírito Santo em aplicar a obra da redenção aos que foram redimidos por Cristo, chamando-os irresistivelmente para a salvação (graça eficaz). E, se qualquer uma dessas doutrinas for aceita como verdadeira, tem-se que admitir que a salvação dessas pessoas indubitavelmente se consumará. Uma doutrina leva inevitavelmente à outra, não apenas dentro da lógica humana, mas na própria lógica bíblica, conforma Romanos 8.29-30. Se o homem não pode salvar-se, e se Deus determinou salvar incondicionalmente alguns, ninguém poderá conceber que os propósitos de Deus não consumam e Seus desígnios sejam frustrados, sem negar os atributos divinos da soberania, onisciência, onipotência, imutabilidade etc. Se Deus é Deus, a obra de salvação planejada, efetuada e aplicada soberana e graciosamente será consumada (concluída) – também graciosa e soberanamente – para o louvor da glória da Sua graça.


Da natureza da transformação decorrente da salvação.
Quando a obra redentora de Cristo é aplicada ao coração dos eleitos pelo Espírito de Deus, a transformação é tão grande, tão radical e profunda, que é descrita na Bíblia como regeneração. O homem nasce de novo, é feito nova criatura. Não se trata de uma transformação superficial, mas essencial. Uma nova natureza lhe é infundida, a natureza de Cristo, de modo que ele se torna co-participante da natureza divina. Torna-se um com Cristo, fazendo parte do Seu corpo e da Sua carne (uma união mística do crente com Cristo). Não se trata de mera decisão humana, ou de submissão, mas de uma transformação radical. Um transplante espiritual de coração é realizado: o Espírito Santo retira o corrompido coração de pedra, e implanta um coração completamente novo. E nessa operação não há possibilidade de rejeição. Ninguém, nem o diabo, pode reverter esta cirurgia espiritual tão bem sucedida, pois nosso velho e depravado coração foi destruído por Deus depois de extraído. Além disso, não se pode conceber nenhuma falha da parte do cirurgião – e o sucesso da operação depende exclusivamente dEle. Não existe tal coisa como “desregeneração”. Não se pode conceber, biblicamente, um retorno do estado de graça para o estado de pecado. O corpo de Cristo não pode ser mutilado, sendo-lhe arrancado alguns de seus membros. A união mística do crente com Cristo é de tal ordem que quando Ele morreu, nós morremos com Ele; quando Ele ressuscitou, nós ressuscitamos juntos (Rm 6); e quando foi assunto aos céus, nós também o fomos nEle, visto que “nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (Ef 2.6). Como pode tal obra ser revertida? É impossível. 

Da liberdade cristã com relação à lei.
As Escrituras ensinam claramente que o homem em estado de graça está total e irrevogavelmente livre da condenação que e lei acarreta. Os salvos não mais estão debaixo da lei, e sim da graça, afirma o apóstolo Paulo, em Romanos 6.14. Legalmente, “morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos...” (Rm 7.4). Assim, “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te livrou da lei do pecado e da morte” (Rm 8.1,2). O que se pode concluir desses textos é que a transgressão da lei de Deus pode acarretar outras coisas ao crente, mas nunca a condenação. O salvo não mais está sujeito à maldição da lei. A lei não tem mais efeito condenatório para ele, pois não mais está sob seu sistema, mas sob o sistema da graça. Como, então, o crente poderia cair do estado de graça, e ser novamente condenado pela lei, da qual foi liberto gratuitamente pela graça eficaz de Deus? Impossível. “Agora, pois, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”.
 
Da imutabilidade do amor de Deus
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O que os arminianos precisam ver com mais clareza é a natureza da salvação que há em Cristo Jesus. Ela não provém das obras, não se fundamenta em qualquer virtude humana; mas provém do amor eterno e imutável de Deus. Se a salvação fosse por obras de justiça nossa, seria natural que sua continuidade dependesse de nós. Mas a nossa salvação fundamenta-se exclusivamente no amor do Senhor. Ele nos amou quando ainda éramos pecadores; Ele nos amou primeiro. “... em amor nos predestinou para Ele, para a adoção de filhos,... segundo o beneplácito da sua vontade” (Ef 1.5). Esta é a base da nossa salvação: o amor eterno e imutável de Deus. Com amor eterno Ele nos amou (Jr 31.3). O amor de Deus não é sentimento efêmero, mas uma determinação eterna da Sua soberana vontade. E se Seu amor não foi motivado por qualquer virtude que houvesse em nós, por que a continuidade desse amor seria? Se o amor dos pais pelos filhos não se fundamenta nas virtudes destes, mas se manifesta apesar dos muitos defeitos e erros deles (quando isso não ocorre é uma anomalia, o pecado da falta de afeição natural), por que o gracioso, soberano e eterno amor de Deus dependeria das nossas virtudes? A maior prova de que o amor de Deus pelos Seus eleitos não terá fim é que não teve começo – é eterno. Duvidar da eternidade da salvação é duvidar dos propósitos e do amor de Deus, dos méritos e da intercessão de Cristo, e do poder e da sabedoria do Espírito Santo. 

Paulo Anglada, Calvinismo: As Antigas Doutrinas da Graça (São Paulo: Os Puritanos).

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